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esquerda), presidente da Fundação Ford, e Sonia Guajajara (à direita), Ministra dos Povos Indígenas do Brasil.
Darren Walker (à esquerda), presidente da Fundação Ford, e Sonia Guajajara (à direita), Ministra dos Povos Indígenas do Brasil.| Foto: Redes Sociais de Darren Walker

O americano Darren Walker pode caminhar por horas na Avenida Paulista, na Central do Brasil ou no Farol da Barra sem ser reconhecido. Mas não é exagero dizer que ele tem mais influência no debate público brasileiro do que muitos parlamentares e ministros de Estado. Walker preside a Fundação Ford, organização que distribui recursos a ONGs ao redor do globo e tem uma predileção por qualquer causa associada à “justiça social”.

A entidade presidida por ele distribuiu US$ 715 milhões (mais de R$ 3,6 bilhões) ao redor do mundo em 2022. Apenas no ano passado, foram 104 repasses para projetos que atuam no Brasil. O valor total dessas doações foi de US$ 30,2 milhões (R$ 152 milhões).

Nos últimos anos, organizações financiadas pela Fundação Ford passaram a ocupar cada vez mais espaço no debate público brasileiro. Elas aparecem em ações no Judiciário, audiências públicas no Congresso, reuniões no Executivo e entrevistas na imprensa. Pouco a pouco, moldam a opinião pública com a força do dinheiro vindo de fora do país.

E Darren Walker está no topo dessa estrutura.

Quem é Darren Walker

O presidente da Fundação Ford tem 64 anos, nasceu no estado da Louisiana e foi criado na pequena cidade de Ames, Texas, que ainda hoje tem maioria negra. Sem nunca ter conhecido o pai, ele foi criado pela mãe ao lado da irmã e começou a trabalhar cedo. Aos 13 anos, já limpava mesas em um restaurante. Walker se formou na Universidade do Texas graças a uma bolsa de estudos. Como advogado, engatou uma bem-sucedida carreira no setor financeiro em Nova York. Até que um dia decidiu se envolver em um projeto para ajudar no desenvolvimento do Harlem, um dos bairros mais pobres da cidade. Isso o levou à Fundação Rockefeller e, de lá, para a Fundação Ford. Walker preside a organização bilionária desde 2013. Seu amplo escritório, repleto de peças de arte e itens recolhidos ao redor do mundo, exibe retratos de figuras negras, um pôster do cantor Nick Cave, um letreiro com os dizeres “You rest, you rust” ["Se você parar, vai enferrujar", em tradução livre] e uma foto do dia em que encontrou o Papa Francisco. Quando assumiu o cargo, Walker vendeu a coleção de arte da fundação e a substituiu por obras que dão “representatividade” a artistas mulheres e de minorias raciais.

Fora as referências à “empatia”, à “justiça social” e à “equidade”, pouco do discurso de Walker soa radical ou revolucionário à primeira vista. Sua grande ideia, resumida em um livro lançado neste ano, é que os capitalistas precisam fazer mais do que apenas ajudar os mais pobres com dinheiro. Eles precisam ganhar dinheiro de forma ética. “Hoje, o imperativo não é a caridade e a generosidade. É a justiça e a dignidade", ele disse, em uma entrevista à emissora pública PBS (o canal de TV, aliás, é um destinatário histórico das doações da Fundação Ford).

Walker circula bem entre os ricos e influentes influentes — inclusive os líderes de outras organizações com modelo parecido, como a Rockefeller, Open Society e a Bill & Melinda Gates. Mesmo quando defende a agenda “woke”, ele tenta soar como alguém moderado: segundo ele, tudo não passa de uma luta por melhorias para todos. Mas algumas das organizações financiadas por ele são mais explícitas em sua agenda.

Defesa do aborto no Brasil

No Brasil, ao lado de projetos de combate à pobreza e promoção da saúde, a Fundação Ford beneficia grupos com uma agenda política radical.

Por exemplo: a entidade aprovou no ano passado um repasse de mais de R$15 milhões para o CEERT (Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades). Uma breve pesquisa na página da ONG brasileira mostra referências críticas à “hegemonia branca” e a um certo “pacto da branquitude.”

Neste ano, a Fundação Ford também aprovou um repasse de US$1 milhão (R$5 milhões) ao Fundo Brasileiro de Direitos Humanos, que por sua vez redistribui os recursos em repasses menores a ONGs de sua preferência.

Mais preocupante é o longo histórico de apoio a ONGs abortistas como o Instituto Anis e as Católicas pelo Direito de Decidir [que, sempre é bom lembrar, não tem vínculo com a Igreja Católica] e o CFEMEA. Essas organizações fazem lobby nos três poderes para derrubar qualquer proibição ao aborto.

A lista de beneficiados inclui ainda a ONG Terra de Direitos, que tem um histórico de ligação com o MST, e o Instituto Sou da Paz, que defende o desarmamento civil e recebeu quase US$ 500 mil dólares (2,5 milhões) desde 2020.

A influência de Walker também se mede pelo seu contato com o poder.

Em setembro, ele esteve no Brasil e se reuniu com as ministras Sônia Guajajara e Anielle Franco (dos Povos Indígenas e da Igualdade Racial, respectivamente). Aliás, do ano passado para cá, o Instituto Marielle Franco — que era presidido por Anielle — recebeu US $300 mil dólares (R$ 1,5 milhão de reais) da fundação presidida por Walker. Walker também se reuniu com grupos indígenas e quilombolas. Dias depois, a Folha de S. Paulo, que mantém um projeto financiado pela Fundação Ford, publicou uma entrevista na qual Walker afirma que “Algumas pessoas (...) usam a onda anti-woke como uma forma de mascarar seu racismo, sua misoginia e sua homofobia.”

Ligação com a fabricante de carros

A origem da Fundação Ford está diretamente ligada à fabricante de carros homônima. A organização foi criada por Edsel, filho do pioneiro Henry Ford, em 1936. No início, os objetivos eram modestos: melhorar a qualidade de vida das pessoas na região de Detroit.

Edsel morreu em 1943. Seu filho mais velho, Henry Ford II, filho mais velho de Edsel, assumiu as rédeas da organização. A partir dali é que a fundação passou de ser uma instituição de caridade com sede em Detroit para uma gigante da filantropia com ambição internacional. Em 1953, a mudança para Nova York consolidou a guinada.

Hoje, a fundação tem sua sede em um prédio imponente de 12 andares em Midtown, uma das áreas mais caras do mundo. Inaugurado em 1967, o edifício tem o charme de um prédio público brasileiro, e um grande jardim sem um banco sequer onde eventuais observadores possam se sentar. A sede da ONU fica a apenas um quarteirão de distância.

Henry Ford II, que deixou o comando da entidade em 1950, também foi o último Ford a presidir a organização. De lá para cá, os “profissionais do terceiro setor” foram ocupando os espaços. O primeiro presidente negro veio em 1979. A primeira mulher, em 1996. Em 2008, o primeiro latino. Sobrou a Walker o papel de o primeiro gay negro a presidir a fundação.

Oficialmente, a missão da Fundação Ford é genérica: produzir “um mundo em que todos os indivíduos, comunidades e povos trabalhem para a proteção e plena expressão dos seus direitos humanos; são participantes ativos nas decisões que os afetam; partilham equitativamente o conhecimento, a riqueza e os recursos da sociedade; e são livres para atingir todo o seu potencial.” A Fundação Ford já financiou milhares de projetos beneficentes que ajudaram a combater a pobreza e a promover causas nobres. Mas, conforme a demanda dos movimentos sociais se intensificou, essa competição por recursos também incentivou o surgimento de causas novas que justificassem novos projetos. Não houve uma causa nova progressista que a Fundação Ford não abraçasse ao longo dos anos.

Seria um engano acreditar que a organização promove a causa socialista. A entidade, entretanto, promove ONGs que adotam toda a agenda progressista (o que os americanos chamam de “liberal”). Destruir o capitalismo está fora de cogitação. Todo o resto vale: feminismo, aborto, identidade de gênero, extremismo em temas raciais. O aborto em estágios avançados da gestação. Em seu site oficial, a Fundação Ford também ecoa o discurso de que “pessoas de cor são desproporcionalmente policiadas e encarceradas”, e de que “imigrantes e pessoas LGBTQ+ são atingidas simplesmente por serem quem são.”

Contracheque gordo

A profissionalização das fundações filantrópicas modificou radicalmente a lógica de atuação dessas organizações. De certa forma, é preciso que exista desigualdade, opressão e injustiça social para que o trabalho dele continue se justificando e a Fundação Ford continue arrecadando recursos. Enquanto o faz, Walker garante para si uma vida confortável.

Como presidente da Fundação Ford, Walker recebe cerca de US$ 1 milhão (R$ 5,1 milhões) por ano. Isso já bastaria para colocá-lo entre os uma pequena fração de menos de 1% dos americanos — e num grupo ainda mais exclusivo quando se leva em conta a média global. Mas os vencimentos dele são muito maiores.

Warren, bem relacionado e imerso na intrincada rede de favores dos super-ricos de Nova York, também tem um assento no conselho de diretores da Pepsico. Isso lhe rende US$ 350 mil (R$ 1,7 milhão) por ano. Ele ainda é membro do Conselho de Diretores da marca de luxo Ralph Lauren, onde ganha US$ 271 mil (R$ 1,3 milhão) por ano. Walker também faz parte do conselho da Block, uma grande empresa de tecnologia, e de uma dezena de organizações sem fins lucrativos.

Talvez por isso ele queira proteger o capitalismo enquanto financia a agenda woke.

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