Uma coisa sobre os judeus que a maioria dos gentios desconhecem é que nós, judeus, costumamos imaginar se um gentio que faça parte de nossas vidas nos esconderia no caso de uma revolução semelhante ao nazismo.
Não sei se os judeus mais jovens pensam nisso, mas quase todos os judeus que cresceram nas décadas que se seguiram ao Holocausto se perguntam: “será que ele não-judeu me esconderia?”
Tenho pensado nisso ao longo de toda a minha vida por que a questão sobre esconder judeus é uma das mais importantes que alguém – judeu ou não – precisa se fazer.
Essa pergunta é muito mais importante do que se perguntar “quem não escondeu os judeus?”, porque o bem é mais raro do que o mal e ainda mais raro do que a simples covardia.
Ainda assim, muitos livros foram escritos na tentativa de entender o mal, enquanto poucos livros foram escritos na tentativa de explicar o bem.
O motivo para isso é simples: desde o Iluminismo, isto é, desde o declínio do pensamento judaico-cristão, a maioria dos secularistas acredita e baseia suas previsões na ideia irreal de que a natureza humana é essencialmente boa.
Por consequência, os estudiosos consideram o bem a regra e o mal, uma aberração. Assim, eles estudam muito mais o mal do que o bem.
É por isso que a pergunta “quem resgatou os judeus” deveria ser muito mais importante para a Humanidade como um todo. Afinal, quem pergunta poderia ser mais importante para as pessoas interessadas em fomentar o bem e diminuir o mal?
Toda uma vida de estudo sobre essa pergunta me levou às seguintes respostas:
1. Sam e Pearl Oliner, professores de sociologia na Universidade da Califórnia, são autores de uma das mais notáveis obras sobre o altruísmo, chamada “The Altruistic Personality” [A personalidade altruísta].
O livro é produto do estudo de gentios que resgataram judeus durante o Holocausto. Os próprios autores foram escondidos por não-judeus na Polônia, e eu tive o privilégio de entrevistá-los.
“Sabendo tudo o que o senhor hoje sabe sobre as pessoas que resgataram os judeus durante o Holocausto, se você tivesse que voltar à Polônia e pudesse bater na porta de uma só pessoa, na esperança de que ela o resgatasse novamente, você procuraria um advogado, um médico, um artista ou um padre polonês?”, perguntei a Sam Oliner.
Sem hesitar, ele respondeu que procuraria um padre polonês. A esposa dele acrescentou de pronto: “Eu preferiria uma freira polonesa”.
Devo notar aqui que nenhum deles é religioso. Ambos são judeus seculares.
Claro que a maioria dos cristãos europeus fracassou no teste moral do Holocausto, mas o mesmo se deu com quase todos os intelectuais seculares. E poucos cristãos hoje em dia negam isso.
Ainda assim, toda pessoa honesta ainda apostaria mais no padre do que no médico, artista, advogado ou professor. Por isso é que acredito que o declínio das religiões judaico-cristãs são uma calamidade: geraremos cada vez menos pessoas capazes de um bem maior.
2. Outro estudo sobre pessoas que resgataram judeus durante o Holocausto cita quatro características delas. Li o livro há cerca de 40 anos e não me lembro do nome nem de algumas características.
Mas me lembro de uma dessas características porque ela me impressionou ao se mostrar como uma ideia original e porque fazia muito sentido. De acordo com esse estudo, pessoas que eram consideradas “excêntricas” antes da guerra foram as que mais protegeram os judeus.
Por que será? Por que pessoas consideradas excêntricas tinham uma chance maior de correr o risco de serem torturadas ou mortas por esconderam um membro de um grupo perseguido do qual elas não faziam parte?
A resposta é óbvia: por definição, excêntricos são pessoas que agem de acordo com suas convicções, que não se conformam, que não buscam aprovação social.
Isso deveria nos fazer pensar sobre as pessoas que salvariam os judeus – ou qualquer outro grupo perseguido, como os proprietários de terra nos países comunistas – se nossa sociedade foi tomada por nazistas ou comunistas.
Se a teoria sobre os excêntricos estiver correta, deveríamos parar para pensar nela.
Dennis Prager é colunista do Daily Signal, radialista e criador da PragerU.
© 2021 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês
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