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Quer taxas de natalidade mais altas? Promova o casamento

Muitos países agora oferecem incentivos financeiros para a maternidade — mas, como a maioria das pessoas quer se casar antes de ter filhos, por que não incentivar o casamento?
Muitos países agora oferecem incentivos financeiros para a aumentar a natalidade — mas, como a maioria das pessoas quer se casar antes de ter filhos, por que não incentivar o casamento? (Foto: Imagem de Veton Ethemi por Pixabay)

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Apesar das políticas sociais e econômicas favoráveis ​​à família, as taxas de natalidade estão caindo em muitos países ricos. Um artigo recente no Financial Times observa que os declínios anteriores foram motivados por famílias com menos filhos, mas agora as pessoas estão deixando de ter filhos completamente. "Ninguém sabe realmente o que está acontecendo", escreve o FT. "Não é motivado principalmente pela economia ou pelas políticas familiares. É algo cultural, psicológico."

Uma análise da revista The Economist publicada no ano passado oferece uma resposta ao mistério. Muitos presumem que a queda das taxas de natalidade se deve principalmente a mulheres com ensino superior adiando a maternidade — adiando ter filhos por muito tempo e, por fim, tendo menos filhos do que desejavam. Essa crença moldou as respostas políticas, enfatizando incentivos fiscais e creches subsidiadas para ajudar as mulheres a equilibrar carreiras e vida familiar. Mas, de acordo com a The Economist, não é isso que está acontecendo.

Embora mulheres com ensino superior realmente estejam tendo filhos um pouco mais tarde, a diferença é pequena. Nos EUA, por exemplo, a idade média para o primeiro filho entre essas mulheres aumentou de 28 anos, em 2000, para 30 anos atualmente. Elas ainda têm quase tantos filhos quanto suas colegas de gerações passadas — apenas um pouco menos do que consideram ideal, o que sempre foi o caso.

As verdadeiras responsáveis pela queda das taxas de fertilidade nos países ricos parecem ser as mulheres mais jovens e de baixa renda, que estão adiando a maternidade e, no fim, tendo menos filhos. Nos EUA, mais da metade da queda da fertilidade desde 1990 decorre da redução significativa dos nascimentos entre adolescentes, em parte porque mais delas estão ingressando na faculdade. Mesmo entre aquelas que não estão cursando o ensino superior, as taxas de natalidade caíram. Em 1994, a média de idade da mãe de primeira viagem sem diploma universitário era 20 anos. Hoje, cerca de dois terços dessas mulheres na faixa dos vinte anos ainda não tiveram filhos.

Uma geração atrás, mulheres mais pobres frequentemente tinham filhos com a esperança de que isso levaria ao casamento e à estabilidade familiar. Essa aposta raramente dava certo. No livro "Promises I Can Keep: Why Poor Women Put Motherhood Before Marriage" (2005) [Promessas que posso cumprir: por que as mulheres pobres colocam a maternidade antes do casamento, em tradução livre, sem edição no Brasil], as sociólogas Kathryn Edin e Maria Kefalas registram pesquisas dos anos 1990 e início dos anos 2000 mostrando que, quando essas mulheres tinham um bebê, oito em cada dez ainda estavam em um relacionamento com o pai da criança, e quase metade vivia junto.

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Em outras palavras, a maioria das "mães solteiras" não eram verdadeiramente solteiras na época do nascimento do filho; elas eram solteiras, mas tinham um parceiro. Quando perguntadas sobre seu futuro, quase todas essas mulheres esperavam ficar com seus parceiros e, eventualmente, se casar. No primeiro aniversário do bebê, no entanto, metade desses casais havia se separado. Quando a criança completava três anos, dois terços haviam seguido caminhos separados.

Seus filhos da geração Y e da geração Z testemunharam esse fracasso, absorveram suas lições e cresceram sem ter filhos. Como descrevo no meu livro "Troubled: A Memoir of Foster Care, Family, and Social Class" [Problemático: Memórias sobre assistência social, família e classe social, em tradução livre, sem edição no Brasil], morei em lares durante as décadas de 1990 e 2000 com duas meninas que se tornaram mães aos 16 anos, depois tiveram outro filho aos 18 e outro na casa dos 20 — todas com pais diferentes. Curiosamente, elas só tinham filhas. Essas meninas estão agora na casa dos vinte e poucos anos. Nenhuma tem filhos.

As crianças também não têm duas vantagens importantes que suas mães tinham. A primeira é um modelo mental de uma família estável. A maioria das mulheres da geração Baby Boomer e da Geração X que tiveram filhos fora do casamento cresceram em famílias intactas e ainda acreditavam que o casamento estava nos planos delas. Seus filhos, tendo visto esses relacionamentos se desintegrarem, não têm a mesma expectativa. Segundo, as crianças não têm apoio de avós casados.

O antropólogo biológico Richard Bribiescas destacou que as avós desempenharam um papel evolutivo crucial nas sociedades humanas ao ajudar a cuidar de seus netos, permitindo que suas filhas tivessem mais filhos. Mesmo nas últimas décadas, as avós conseguiam aliviar o fardo dos cuidados com as crianças porque seus maridos cuidavam de outras responsabilidades. Hoje, muitas mulheres da geração Baby Boomer e da geração X que tiveram filhos fora do casamento são avós sem parceiros. Sem esse apoio extra, elas são menos capazes de ajudar suas filhas a criar os filhos.

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Muitas aprendem sobre esse declínio na gravidez entre mulheres pobres e solteiras e aplaudem. Há outra maneira de pensar sobre isso, no entanto. A fertilidade entre casais não diminuiu; as taxas de natalidade em geral caíram em grande parte porque menos jovens estão se casando.

Assim, os esforços para aumentar as taxas de natalidade podem ser mais eficazes se eles se concentrarem na promoção do casamento. Infelizmente, como a economista Melissa Kearney aponta em seu livro "The Two-Parent Privilege" [O privilégio de criar os filhos em casal, em tradução livre, sem edição no Brasil], os formadores de opinião culturais relutam em fazer isso. As elites não podem necessariamente impor valores a todos os outros, mas podem invalidá-los. Em 1960, a porcentagem de crianças americanas que viviam com ambos os pais biológicos era idêntica para ricos e famílias de classe média — 95%. Em 2005, após décadas de repúdio cultural da elite ao casamento, esse número permaneceu alto entre as famílias ricas (85%), mas caiu para apenas 30% entre as famílias da classe trabalhadora.

A ideia de que o casamento não importa é o que chamo de crença de luxo — uma opinião que confere status aos ricos enquanto impõe custos às classes mais baixas. Em uma audiência do Senado em 2017, o cientista político de Harvard Robert Putnam declarou: "Crianças ricas e pobres agora crescem em Américas separadas(…) Crescer com dois pais agora é incomum na classe trabalhadora, enquanto famílias com dois pais são normais e estão se tornando mais comuns entre a classe média alta".

Pessoas ricas, principalmente na década de 1960, defendiam a liberdade sexual, e normas sexuais frouxas logo se espalharam para o resto da sociedade. No entanto, a classe alta manteve famílias intactas — experimentando sexualmente na faculdade, talvez, mas se estabelecendo mais tarde. Famílias de classe baixa se desfizeram.

Essa deterioração continua. Em 2006, mais da metade dos adultos americanos sem diploma universitário acreditava que era "muito importante" que casais com filhos se casassem. Em 2020, esse número caiu para 31%. Entre os graduados, apenas 25% dizem que o casamento deve vir antes da paternidade. Suas ações, no entanto, contradizem suas crenças de luxo: a maioria dos pais com ensino superior nos EUA é casada.

A maioria das pessoas ainda diz que prefere se casar antes de ter filhos. Como sociedade, poderíamos encorajar jovens pobres e solteiros a se casar primeiro e depois ter filhos. Muitos países agora oferecem incentivos financeiros para a maternidade — mas, como a maioria das pessoas quer se casar antes de ter filhos, por que não incentivar o casamento?

Pessoas casadas tendem a ter filhos. Ao encorajar o casamento, poderíamos naturalmente ajudar a aumentar as taxas de fertilidade.

Rob Henderson é um membro sênior do Manhattan Institute, editor colaborador do City Journal e autor de "Troubled: A Memoir of Foster Care, Family, and Social Class."

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©2025 City Journal. Publicado com permissão. Original em inglês: Want Higher Birthrates? Promote Marriage

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