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Contra o preconceito: “A Universidade da Califórnia em Berkely apoia equidade, diversidade e inclusão", diz cartaz fotografado na instituição em 2016. As três palavras, na sigla DEI, inspiraram treinamentos antipreconceito em empresas e universidades pelo mundo.
Contra o preconceito: “A Universidade da Califórnia em Berkely apoia equidade, diversidade e inclusão”, diz cartaz fotografado na instituição em 2016. As três palavras, na sigla DEI, inspiraram treinamentos antipreconceito em empresas e universidades pelo mundo.| Foto: Quinn Dombrowski/Wikimedia Commons

Dois líderes do pensamento “antirracista” emergiram em 2020 nos Estados Unidos após a trágica morte do cidadão negro George Floyd nas mãos da polícia em 25 de maio: Robin DiAngelo e Ibram X. Kendi. Seus respectivos livros, “Fragilidade branca” (Edita_X) e “Como ser antirracista” (Alta Cult), venderam juntos 762 mil cópias das edições originais só no mês de junho, de acordo com o sistema de monitoramento do mercado editorial NPD BookScan.

As mensagens dos dois autores, contudo, adotadas em treinamentos de “diversidade, equidade e inclusão” (DEI) implementados em muitas empresas e universidades, “aumentam a suspeição racial, as atitudes preconceituosas, o policiamento autoritário e o apoio a comportamentos punitivos”.

A conclusão é de uma pesquisa publicada por dez cientistas sociais ligados ao Instituto de Pesquisa em Contágio de Redes (NCRI) e ao Laboratório de Percepção Social da Universidade Rutgers, a maior universidade do estado da Nova Jersey, EUA.

Em resumo, os cientistas descobriram que treinamentos antirracistas nos moldes identitários provavelmente levam as pessoas a acusarem outras de racismo sem provas.

Como a pesquisa foi feita

A investigação foi dividida em três experimentos.

No primeiro, que serviu como um estudo piloto, 423 estudantes de graduação da Rutgers foram expostos a trechos dos livros de Kendi e DiAngelo ou a um texto menos polarizador sobre a produção de milho nos Estados Unidos.

O texto identitário baseado nos dois autores alegava que “a interação com pessoas brancas é às vezes tão pesada e incompreensível que causa séria angústia nas pessoas de cor”.

O texto sobre agricultura dava estatísticas como “os EUA têm 90 milhões de acres de plantação de milho”.

Depois da leitura, os pesquisadores apresentaram aos estudantes (distribuídos por sorteio) uma situação de completa neutralidade racial: “um estudante tentou entrar em uma universidade de elite no outono de 2024, foi entrevistado por um funcionário da banca de seleção, e sua matrícula foi rejeitada”.

Resultado: o grupo que leu o texto sobre racismo apresentou uma diferença de 35,4 pontos percentuais acima do grupo que leu o texto sobre milho quando os pesquisadores perguntaram se houve “microagressão” ao candidato rejeitado.

Os leitores do treinamento DEI também ficaram 25,5 pontos percentuais acima do outro grupo em alegar que o candidato sofreu “danos” injustos.

A diferença em acusar o funcionário da banca de seleção de preconceito foi de 20,6 pontos a mais para os que leram treinamento DEI, e em imaginar que o estudante era não-branco foi de 10,6 pontos, sendo que o texto não determinava a cor do aluno.

Os treinados pelo texto antirracista também superaram os que leram o texto neutro em exigir do funcionário da seleção um pedido de desculpas, chamar por protestos estudantis contra ele, defender uma abertura de investigação pelo gabinete de diversidade ou outra atitude da universidade contra ele, e exigir que ele seja obrigado a frequentar um curso de DEI.

A força desses efeitos observados surpreendeu aos próprios cientistas. Por isso, eles fizeram mais dois experimentos para ter mais segurança dos resultados.

Viés de “hostilidade”

No segundo experimento, 2.017 indivíduos, distribuídos em grupos de uma forma que representasse a população americana, foram divididos em dois grupos: um que leu materiais de treinamento DEI contra “islamofobia” (preconceito contra muçulmanos) e outro que leu o texto sobre milho.

Os resultados foram similares: o treinamento “pode fazer com que indivíduos presumam tratamento injusto contra pessoas muçulmanas, mesmo na ausência de evidências de preconceito ou injustiça”, disseram os pesquisadores.

Para eles, essa segunda corroboração experimental “destaca um problema mais amplo: as narrativas de DEI que enfatizam a vitimização e a opressão sistêmica podem estimular desconfiança infundada e suspeitas contra instituições, e alterar as avaliações subjetivas dos acontecimentos”. Em vez de melhorar a sensibilidade dos treinados, esses cursos de diversidade criam um viés de “hostilidade”.

“Preconceitos amplos”

No último experimento, 847 indivíduos, também representativos da população americana, foram expostos a material de treinamento DEI contra castas sociais (como as da Índia), em um grupo, ou ao texto sobre produção de milho, em outro grupo.

Mais uma vez, os participantes expostos ao material antipreconceito apresentaram uma vontade maior (diferença de 19%) de punir um tomador de decisão de um cenário imaginado sem menção a castas. A diferença na propensão a acusar os hindus de racismo foi ainda maior, de 47,5%. “Essa diferença sugere que o conteúdo de DEI focado em discriminação por casta pode gerar preconceitos mais amplos contra a comunidade hindu, incluindo a falsa intuição de que os hindus são racistas”, afirmaram os pesquisadores.

Juntando os três experimentos, a conclusão geral é que, ainda que as iniciativas de DEI tenham “o objetivo louvável de combater o preconceito e promover a inclusão”, as evidências sugerem que “essas intervenções podem estimular mentalidades autoritárias, em especial quando narrativas antiopressão existem dentro de uma monocultura ideológica e vingativa”, disseram os cientistas.

Reações à pesquisa

O doutor em biologia americano Colin Wright defendeu a pesquisa e denunciou dois veículos de comunicação, The New York Times e Bloomberg, por supostamente terem suprimido notícias a respeito dos resultados. “O público merece saber se as ferramentas que estão sendo aplicadas para estimular a ‘equidade’ e o ‘antirracismo’ na verdade estão fazendo estrago”, disse o cientista.

“O New York Times, que citou o trabalho do NCRI em quase 20 matérias anteriores, de repente exigiu que essa pesquisa específica passasse pela revisão por pares”, afirmou Wright em sua newsletter, Reality’s Last Stand. A revisão por pares é uma prática quase exclusiva de publicações acadêmicas, em que rascunhos de artigos são criticados por revisores anônimos antes da publicação. A prática não é uma completa unanimidade, como informou a Gazeta do Povo.

Já na agência de notícias Bloomberg, “a notícia foi imediatamente suprimida por um editor conhecido por apoiar publicamente iniciativas de DEI”, disse Wright. O biólogo conversou com um dos líderes da pesquisa, o cientista social Joel Finkelstein, um dos diretores do NCRI. “Parece um esforço de suprimir pesquisa que seja um desafio às narrativas dominantes em torno de DEI”, disse Finkelstein sobre a falta de repercussão nos dois veículos.

Steven Pinker, psicólogo de Harvard autor dos maiores bestsellers da área, comentou a pesquisa no X: “uma das minhas cinco recomendações sobre como as universidades podem salvar a si mesmas, com liberdade acadêmica, não-violência, diversidade de pontos de vista e neutralidade institucional, é ‘desmantelem DEI’”. Para Pinker, os três experimentos mostram que “programas de DEI fazem as pessoas alucinarem intolerância enquanto as tornam intolerantes”.

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