Desde que Joe Biden anunciou sua desistência de concorrer a um novo mandato presidencial neste domingo (21), os holofotes se voltaram para sua vice, Kamala Harris, que confirmou ser pré-candidata para o cargo após o endosso do líder de chapa.
Em menos de 24 horas desde que Biden desistiu da corrida presidencial e indicou a companheira democrata, Harris já acumula mais de 500 dos 1.986 delegados necessários para receber a indicação do partido e enfrentar o republicano Donald Trump nas eleições do dia 5 de novembro.
De acordo com uma contagem compilada pelo jornal The Hill, Kamala ganhou o apoio de pelo menos 531 delegados, que confirmaram que votarão nela na Convenção Nacional Democrata, a ser realizada em Chicago de 19 a 22 de agosto.
Embora tenha apoiado amplamente as políticas de Biden nos últimos quatro anos, Harris ganhou destaque pelas pautas ideológicas específicas que escolheu defender de forma mais explícita durante sua passagem pela Casa Branca.
Porta-voz em defesa do aborto
A pauta abortista recebeu atenção especial da vice-presidente dos EUA, antes mesmo de assumir o cargo.
Ao longo de sua carreira política - foi promotora distrital de San Francisco em 2003, procuradora-geral do estado da Califórnia em 2011 e senadora pela Califórnia em 2017 -Harris se apresentou como uma forte defensora do aborto.
Essa agenda abortista prosseguiu na sua mão durante a campanha de Biden para a presidência. Harris se tornou a porta-voz da "causa", uma vez que Biden se apresenta como católico e "não muito a favor do aborto", segundo ele mesmo disse em junho do ano passado, após a decisão Roe vs. Wade, quando a Suprema Corte derrubou a legislação federal que decidia sobre o assunto.
Em março, Harris visitou uma clínica abortista da Planned Parenthood em Minnesota, durante sua turnê por diversos estados americanos defendendo a pauta ideológica. Essa foi a primeira vez que um vice-presidente dos EUA em exercício fez uma visita desse tipo.
Crise migratória
No início do mandato, Biden delegou a Harris a identificação das "causas primárias" que contribuem para a crise na fronteira com o México.
Em um primeiro momento, a democrata deu uma resposta dura para os estrangeiros que tentam a travessia pela fronteira.
“Quero deixar claro para as pessoas desta região que estão pensando em fazer essa perigosa jornada até a fronteira dos EUA com o México: não venham. Não venham. Vamos continuar aplicando nossas leis e protegendo nossa fronteira”, disse Kamala ao lado do então presidente da Guatemala Alejandro Giammattei.
Meses depois, anunciou um gasto bilionário para responder às causas da migração e criar oportunidades econômicas na Guatemala, Honduras e El Salvador, por meio de incentivos em programas que totalizaram US$ 5,2 bilhões desde maio de 2021.
No entanto, a gestão Biden-Harris foi responsável por criar diversos problemas na fronteira dos EUA-México, que foi afetada por níveis recordes de travessias ilegais nos últimos três anos.
No sábado (20), o ex-presidente Donald Trump afirmou em entrevista à CBS que Harris presidiu a "pior crise migratória de todos os tempos" como "czar da fronteira", um título dado pela oposição republicana no início da gestão democrata.
Apesar da aplicação da lei na fronteira ser de responsabilidade do Secretário de Segurança Interna, Alejandro Mayorkas, e seu departamento, a vice-presidente recebeu críticas por não conseguir conter a crise sofrida pelos estados americanos, inclusive os liderados por democratas, como Nova York, Califórnia e Oregon.
Em sua campanha fracassada de 2019, ela havia prometido "reverter a estratégia desastrosa e cruel de fronteira” do governo Trump, que reduziu o número de travessias irregulares para os EUA, algo que o presidente Biden precisou reativar em sua gestão diante da grave crise criada por seu governo.
Política externa - Israel e Ucrânia
Quanto às políticas externas dos EUA, Kamala surge como uma possível "pacificadora" em relação aos eleitores americanos que criticaram Biden por seu apoio a Israel na guerra com o Hamas.
Segundo a revista Time, os eleitores mais jovens, os árabes-americanos e os que historicamente apoiam os democratas podem ser mais receptivos à candidatura de Harris devido à sua disposição maior de criticar o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.
Ex-oficiais e analistas consultados pela emissora americana NBC afirmaram que a pré-candidata parece mais disposta a questionar o plano militar de Israel para derrotar o grupo terrorista Hamas na Faixa de Gaza.
Quanto à Guerra da Ucrânia, a democrata deve seguir a política da atual administração se for escolhida candidata para as eleições de novembro.
À NBC no início deste ano, ela disse que a Ucrânia precisa do apoio dos EUA ao ser questionada se Kiev sobreviveria sem auxílio externo.
No mês passado, a vice-presidente representou os EUA na Cúpula da Paz na Ucrânia, onde se encontrou com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
Posteriormente, ela anunciou um compromisso dos EUA de enviar mais US$ 1,5 bilhão em ajudar financeira para "o sistema de energia da Ucrânia, as necessidades humanitárias e a segurança civil".
Ela foi uma das vozes que acusaram o Kremlin, liderado pelo ditador russo Vladimir Putin, de ser responsável pela morte do opositor Alexei Navalny em uma colônia penal. “Seja qual for a história que eles contem, sejamos claros: a Rússia é responsável”, disse em fevereiro.
Pauta climática
Em 2019, quando desistiu de concorrer à presidência por falta de apoio político e eleitoral, a pré-candidata apoiou a criação de uma espécie de "Green New Deal para enfrentar a crise climática".
O plano incluía um gasto de US$ 10 trilhões em fundos públicos e privados ao longo de dez anos para “evitar os piores impactos climáticos”, segundo dizia o seu site.
Entre os pontos de destaque desse investimento estaria a redução das emissões de gases do efeito estufa, que incluía uma taxa de poluição climática e o fim dos subsídios federais aos combustíveis fósseis.
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