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Incêndio

Usados na China há 2 mil anos, andaimes de bambu podem ter amplificado tragédia em Hong Kong

Operário trabalha em andaime de bambu em Hong Kong, em imagem de 2019 (Foto: JEROME FAVRE/EFE/EPA)

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Enquanto no início da madrugada de sexta-feira (28, horário local) as autoridades de Hong Kong atualizaram para 75 o número de mortos (além de 76 feridos - entre eles 11 bombeiros - e pelo menos 279 desaparecidos) em um incêndio em um complexo residencial na região administrativa especial (RAE) chinesa, as investigações sobre os motivos da tragédia se aprofundam.

O incêndio, registrado na tarde de quarta-feira (26), devastou sete dos oito blocos de 31 andares que compõem o complexo Wang Fuk Court, no distrito de Tai Po, e se tornou o pior incêndio urbano de Hong Kong em três décadas.

De acordo com as primeiras informações, as chamas começaram em um dos edifícios e se propagaram com extrema rapidez, provavelmente alimentadas pelos andaimes de bambu recobertos com telas de segurança, lonas impermeáveis e placas de poliestireno expandido utilizados nas obras de renovação exterior iniciadas em julho de 2024.

Especialistas ouvidos pela emissora americana CNN afirmaram que andaimes de bambu são utilizados em obras na China desde pelo menos a dinastia Han, há cerca de 2 mil anos, e foram usados ​​na construção de alguns dos arranha-céus mais altos de Hong Kong, como a sede do HSBC.

“O bambu é um material extremamente inflamável. Esta é uma época muito seca em Hong Kong, então a probabilidade de ignição deste bambu é muito alta. Quando pega fogo, a propagação é extremamente rápida”, disse Xinyan Huang, professor associado do Departamento de Engenharia de Energia e Ambiente Construído da Universidade Politécnica de Hong Kong, à CNN.

O especialista apontou também que as estruturas de bambu são “orientadas verticalmente, então o fogo basicamente se espalha para cima sem nenhuma resistência”.

Em entrevista à Channel News Asia (CNA), Anwar Arabi, professor de engenharia de segurança contra incêndio da Universidade de Queensland que já lecionou em Hong Kong, disse que, independentemente do que iniciou o incêndio, a questão crucial é por que ele se alastrou tão rapidamente.

“O fogo encontrou um caminho para se propagar de um andar para o outro, sem interrupções”, disse Arabi, ao afirmar que os andaimes de bambu “eliminaram completamente” a possibilidade de o fogo ser contido em um compartimento.

“Dentro de um edifício, normalmente, quando não está em reforma, até mesmo os dutos por onde passam os fios são selados, para evitar incêndios. Mas quando você tem andaimes inflamáveis ​​do lado de fora, isso anula completamente o propósito”, afirmou o especialista, que disse que, devido a preocupações de segurança, o uso de andaimes de bambu está sendo gradualmente eliminado em Hong Kong.

Outro ponto que pode ter contribuído para a tragédia é a intensa verticalização de Hong Kong, o que facilitaria a propagação de fogo de um prédio para outro: de acordo com dados do Conselho de Edifícios Altos e Habitat Urbano da cidade, citados pela AFP, a RAE possui 569 edifícios com mais de 150 metros de altura, o maior número do mundo.

Uma reportagem de 2023 do site Generasian apontou que Hong Kong tem de 4 mil edifícios com mais de 100 metros de altura.

Muitos dos novos empreendimentos residenciais das últimas décadas foram construídos nos chamados Novos Territórios, onde Tai Po está localizado.

A polícia deteve dois diretores e um consultor de engenharia da empreiteira responsável pelas obras no Wang Fuk Court, acusados de homicídio culposo pelo uso de materiais que teriam facilitado a rápida propagação do fogo.

Além disso, agentes revistaram os escritórios da empresa administradora do complexo e a residência de um dos suspeitos, enquanto a investigação sobre a origem do incêndio continua.

Em paralelo, a Comissão Independente Contra a Corrupção (ICAC) abriu uma investigação sobre possíveis irregularidades nas obras de renovação do complexo.

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