Um candidato líder para as eleições presidenciais em Honduras distanciou-se nesta quarta-feira (5) do golpe que derrubou o presidente José Manuel Zelaya e disse que enviar o mandatário deposto ao exílio foi um erro. Os comentários de Elvin Santos revelaram rachaduras na estrutura de poder hondurenha que passou a governar o país após o golpe de 28 de junho. Até agora, o governo de facto rejeitou todos os pedidos internacionais para que Zelaya seja restaurado ao poder.
Nesta quarta-feira, partidários de Zelaya deram início a uma série de marchas que devem culminar, no dia 10 de agosto, com grandes aglomerações na capital do país, Tegucigalpa, e em San Pedro Sula, a segunda maior cidade hondurenha.
"Eu irei a todos os cantos de Honduras para explicar que eu não tomei parte nos eventos de 28 de junho" disse Santos a um programa televisivo no canal 5 de Honduras. "O erro garrafal foi tê-lo expulso do país", disse Santos, acrescentando que Zelaya ficou "indefeso" após o golpe. Mesmo os generais que derrubaram Zelaya em 28 de junho, com a sanção do judiciário e do Congresso, estão indo à televisão hondurenha para defender o golpe, o que sugere que temem ser o "bode expiatório" se Zelaya regressar com apoio internacional.
Na noite da terça-feira, o comandante do Exército de Honduras, general Miguel Angel García, afirmou que a expulsão do presidente Zelaya interrompeu um plano expansionista "disfarçado de democracia" da Venezuela.
"Honduras, a sociedade hondurenha e suas Forças Armadas pararam esse plano expansionista de um líder sul-americano de levar ao coração dos Estados Unidos um socialismo disfarçado de democracia", avaliou García, sem mencionar diretamente o presidente venezuelano Hugo Chávez. "Assim, em Honduras, se freou o socialismo disfarçado de democracia", afirmou ele, em entrevista ao Canal 5 local.
"Honduras disse não a esse plano, simplesmente porque na experiência de quase 30 anos durante a Guerra Fria se experimentou a situação crítica da subversão que viveu a América Central", acrescentou García.
Entre 1979 e 1990, Honduras se converteu no centro de operações de Washington para o combate às guerrilhas da esquerda na Guatemala, em El Salvador e na Nicarágua, nos quais houve guerras civis que deixaram quase 200 mil mortos em 11 anos.
Na entrevista à televisão, compareceram os generais Romeo Vásquez, chefe do Estado Maior Conjunto das Forças Armadas, e seu vice, Venancio Cervantes. Estavam também os generais Luis Javier Prince, chefe da Aeronáutica, e o contra-almirante Juan Pablo Rodríguez, comandante da Marinha.
"O povo é o soberano que determinará o tipo de ideologia que escolha", afirmou Vásquez. Este garantiu que a "mente flexível dos militares" é capaz de trabalhar com um presidente de esquerda, caso algum deles vença as eleições nacionais.
"Nós militares respeitamos qualquer solução que se obtenha sob a mediação do presidente (da Costa Rica, Oscar) Arias...e acataremos sem problemas qualquer resolução a que se chegue em San José", ressaltou Vásquez. Arias tem atuado como mediador entre Zelaya e o governo interino liderado por Roberto Micheletti, por enquanto sem sucesso.
Cervantes disse que os militares depuseram Zelaya "de acordo com a missão que nos deram os tribunais, com um profissionalismo muito grande". Já Rodríguez ressaltou que as Forças Armadas fizeram "prevalecer a defesa e a sobrevivência do Estado, que era ameaçado".
Zelaya foi deposto em um golpe militar em 28 de junho e forçado ao exílio na Costa Rica. Nesse mesmo dia, o presidente do Congresso, Micheletti, assumiu o posto.
Horas depois do golpe, Chávez chegou a ameaçar mandar tropas a Honduras para restituir Zelaya. A Organização dos Estados Americanos (OEA) suspendeu Honduras após o golpe.
Entre 1956 e 1982, os militares governaram Honduras durante quase 20 anos, após derrubarem três presidentes eleitos democraticamente. Desta vez, após retirarem Zelaya do cargo deixaram o poder na mão dos civis.
Os seguidores de Zelaya iniciaram, nesta quarta-feira, caminhadas que devem durar sete dias na direção das principais cidades do país para exigir o imediato retorno do líder a Honduras.
As marchas tiveram início simultâneo nas regiões sul e norte. Os manifestantes do sul seguem na direção de Tegucigalpa e os do norte se encaminham para San PedroSula, localizada a cerca de 180 quilômetros da capital. O objetivo das marchas é concentrar um grande número de pessoas no dia 10 de agosto nas duas cidades
"Neste dia intensificamos a pressão para conseguir que Zelaya volte ao país", disse à Associated Press o coordenador da Frente Nacional Contra o Golpe de Estado, Juan Barahona. "Não sabemos no momento quantas pessoas apoiam as marchas, mas milhares de pessoas se juntam a nós à medida em que a caminhada avança".
Ele afirmou que a partir desta quarta-feira os manifestantes caminharão diariamente 15 quilômetros e percorrerão, no total, 105 quilômetros até chegarem a Tegucigalpa e San Pedro Sula realizando atos de protesto em cada lugar por onde passarem.
Os manifestantes se reuniram no balneário de Tela, no Oceano Atlântico, e em La Entrada, província de Copán, oeste do país na fronteira com a Guatemala, tomando a direção de San Pedro Sula. Os que se encaminham para Tegucigalpa partiram de San Lorenzo, ao sul, e de Danlí, no leste do país. Os partidários de Zelaya fazem manifestações desde 28 de junho, quando o presidente foi deposto.
Nesta quarta-feira, a Frente Nacional Contra o Golpe de Estado bloqueou duas ruas de Tegucigalpa. Dezenas de manifestantes queimaram pneus, lançaram garrafas de vidro, paus e pedras, além de bloquearem a rua da Universidade Nacional Autônoma, no leste da capital. Policiais responderam com bombas de gás lacrimogêneo e jatos d'água. As informações são da Associated Press.
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