O ex-primeiro-ministro japonês Shinzo Abe foi morto a tiros na sexta-feira (8) em um comício de campanha antes das eleições de domingo (10) no Japão para a câmara alta do parlamento do país.
O evento chocou o Japão, que tem leis de controle de armas extremamente rígidas e uma das menores taxas de violência armada do mundo.
Abe, que tinha 67 anos, era uma figura política fundamental no Japão e permaneceu altamente influente depois de deixar o cargo de primeiro-ministro, em 2020. O Japão manteve as políticas externas e de segurança pragmáticas de Abe e continuará sendo um forte aliado dos Estados Unidos no enfrentamento das ameaças chinesas e norte-coreanas.
Abe foi baleado duas vezes enquanto fazia um discurso de campanha para um candidato nas eleições da Câmara dos Conselheiros do Japão e depois morreu no hospital.
O atirador foi detido pela polícia. Os primeiros relatos apontavam que a arma utilizada no crime seria uma espingarda, mas depois se descobriu que a arma era artesanal.
O atirador teria dito à polícia que estava insatisfeito com Abe, mas não alimentava ódio contra suas posições políticas. A polícia também descobriu vários explosivos na casa dele.
Controle rigoroso de armas
Em 2021, o Japão, que tem uma população de 125 milhões de habitantes, registrou apenas uma morte por arma de fogo. Espingardas e carabinas de ar comprimido podem ser compradas conforme as rigorosas leis de controle de armas do país, mas não fuzis ou revólveres.
Candidatos a possuir uma arma precisam assistir a uma aula de um dia inteiro, fazer um teste escrito, passar por uma avaliação de saúde mental em um hospital, têm seus antecedentes criminais verificados e a polícia entrevista seus familiares. As armas devem ser armazenadas em um armário com três fechaduras fixado na parede e a munição deve ser guardada separadamente. Quando um proprietário de armas de fogo morre, seus parentes devem entregá-las às autoridades.
O impressionante legado de Abe
Nos seus períodos como primeiro-ministro, Abe implementou uma política externa visionária, fortaleceu a aliança do Japão com os Estados Unidos e foi decisivo contra ameaças à segurança regional. Os sucessores de Abe deram continuidade a suas políticas e ele permaneceu um membro ativo e líder partidário dentro da Dieta, o Legislativo nacional do Japão.
Ele foi o mais jovem primeiro-ministro do Japão no pós-guerra entre 2006 e 2007 e depois, de 2012 a 2020, foi o líder mais longevo do país. Nas duas oportunidades, renunciou devido a problemas de saúde decorrentes de colite ulcerativa.
Sua longevidade durante seu segundo período proporcionou estabilidade, coerência política e consistência, o que, por sua vez, permitiu ao Japão desempenhar um papel mais proeminente e assertivo na região e no cenário mundial.
Abe criou uma grande estratégia para o Japão, incluindo o estabelecimento das bases teóricas para as estratégias do Indo-Pacífico Livre e Aberto e o Quad, fórum estratégico de segurança que reúne Japão, Austrália, Índia e Estados Unidos. Ambos os conceitos foram adotados e adaptados à estratégia dos Estados Unidos.
Abe também incrementou os laços diplomáticos, econômicos e de segurança com nações do Sudeste Asiático, Austrália, França, Índia e Reino Unido por meio de uma série de acordos e, em alguns casos, exercícios militares conjuntos.
Abe também teve um impacto significativo na postura de segurança do Japão. Entre outras realizações, ele instituiu o primeiro Conselho de Segurança Nacional e a Estratégia de Segurança Nacional do Japão, aumentou o orçamento de defesa do país, implementou mudanças para aumentar as defesas contra as crescentes incursões territoriais da China e superou uma significativa resistência interna para permitir que o Japão desempenhasse um papel importante na segurança regional e global, ao exercer a legítima defesa coletiva.
Ele implementou políticas ambiciosas, conhecidas como “Abenomics”, para impulsionar a economia japonesa após décadas de crescimento lento.
Uma abordagem em três frentes, a Abenomics combinou maiores gastos em infraestrutura, política monetária livre e reformas estruturais. Após a retirada dos Estados Unidos da Parceria Transpacífico, Abe passou a liderar as negociações do acordo comercial, criando o Acordo Abrangente e Progressivo para a Parceria Transpacífico.
Abe também negociou acordos comerciais com a União Europeia, os Estados Unidos e o Reino Unido.
O que vem a seguir?
Alguns poderão especular que o assassinato de Abe pode marcar um retorno ao tumultuado passado de violência política do Japão, dos anos 1960 e da era pré-guerra. Mas o Japão é bem diferente hoje, e o cenário político provavelmente permanecerá estável. O primeiro-ministro Fumio Kishida anunciou que as eleições para a câmara alta ocorrerão com maior segurança.
O trágico evento surpreendeu o Japão, mas não alterará suas políticas externas e de segurança. Kishida reafirmou as linhas realistas do país nessas áreas durante a visita do presidente americano Joe Biden a Tóquio em maio e durante a primeira reunião trilateral em quase cinco anos de líderes dos Estados Unidos, Coreia do Sul e Japão no mês passado.
Kishida declarou a intenção de ampliar as responsabilidades de segurança do Japão no Indo-Pacífico. Nos últimos anos, Tóquio aumentou suas capacidades militares e a cooperação em segurança e os exercícios militares com a Austrália e outros parceiros regionais, bem como com a França e o Reino Unido.
Kishida defende que o Japão aumente seu orçamento de defesa, provavelmente dobrando os gastos na área para 2% do PIB, bem como desenvolvendo capacidades de retaliação contra ataques chineses e norte-coreanos.
Tóquio está cada vez mais preocupada com um possível ataque chinês a Taiwan e vem estudando possíveis respostas militares, incluindo a proteção de navios de guerra e aviões militares americanos que viriam para defender a ilha.
Bruce Klingner é pesquisador sênior sobre nordeste asiático no Centro de Estudos Asiáticos da Heritage Foundation.
© 2022 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês.
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