Com a vitória de Joe Biden nas eleições para a presidência dos Estados Unidos, espera-se que a política americana em relação à China sofra algumas mudanças. Até o momento, a postura de Biden aponta para uma abordagem mais multilateral e com maior ênfase em cooperação internacional do que as políticas de Donald Trump para lidar com Pequim.
A agressividade da China será um dos maiores desafios que o próximo ocupante da Casa Branca terá de enfrentar. A China de hoje desafia a posição dos Estados Unidos como a maior economia do mundo, além de comandar um projeto ambicioso de expansão militar que ameaça aliados dos EUA. Analistas já alertaram para a possiblidade de uma nova guerra fria e até mesmo de conflitos declarados entre as duas nações.
Acompanhando o endurecimento da retórica de Washington contra Pequim nos últimos anos, mais recentemente Biden também adotou um discurso mais pesado contra o governo chinês.
"Os EUA precisam ser firmes com a China", defendeu Biden em artigo publicado na Foreign Affairs no início do ano. "Se a China conseguir fazer as coisas à sua maneira, vai continuar roubando os EUA e as empresas americanas de sua tecnologia e propriedade intelectual", afirmou, argumentando que a maneira mais eficaz para enfrentar esse desafio é "construir uma frente unida de aliados dos EUA e parceiros para confrontar os comportamentos abusivos e violações aos direitos humanos" da China.
Biden tem criticado as ações do governo de Xi Jinping, assim como a política de Trump em relação à China, mas tem um histórico de relação positiva com o país. Enquanto era diretor do Comitê de Relações Externas do Senado, Biden liderou o esforço de apoio à entrada da China na Organização Mundial do Comércio. O ex-vice-presidente também defendeu que o crescimento da China era positivo "não apenas para a China mas também para os EUA e todo o mundo".
A mudança de postura de Biden pode ser explicada em parte pela mudança na percepção da China entre os americanos. Uma pesquisa do Pew Research de julho mostrou que 73% dos americanos têm uma visão negativa do país asiático, a proporção mais alta em 15 anos.
Sanções e tarifas
O governo Trump impôs sanções contra autoridades da China e de Hong Kong e deu início a uma guerra comercial com a China, impondo tarifas sobre os produtos importados do país. Em janeiro deste ano, o presidente americano assinou um acordo de comércio parcial com a China em que o país asiático se comprometeu a comprar US$ 200 bilhões adicionais em produtos americanos pelos dois anos seguintes.
Agora, Biden terá de decidir se vai manter, suspender ou ampliar as tarifas comerciais sobre os bens chineses, e se vai manter ou renegociar o acordo parcial assinado por Trump no início do ano. O democrata também terá de decidir se o seu governo vai continuar com as sanções aplicadas em resposta às violações de direitos humanos cometidas pela China em Hong Kong e contra os uigures em Xinjiang.
Seria difícil para Biden reverter algumas dessas políticas mais duras, já que, no Congresso, tanto republicanos quanto democratas foram favoráveis a medidas pesadas contra Pequim por práticas abusivas de comércio e de empresas de tecnologia e violações de direitos humanos.
Biden não deu muitos detalhes durante a campanha sobre qual seria a sua abordagem em relação à China, e não se comprometeu a encerrar o acordo ou reverter as tarifas. Mas sua campanha já indicava que as tarifas podem ser reavaliadas caso ele fosse eleito. "Eu usarei as tarifas quando elas forem necessárias, mas a diferença entre mim e Trump é que eu terei uma estratégia, um plano, para usar essas tarifas para ganhar, não apenas para fingir força", disse o candidato à união de trabalhadores da indústria do aço em maio.
Com relação à influência de empresas como a Huawei, a gigante de telecomunicações da China, e o TikTok, Biden também acredita que uma abordagem global seria a solução. "Só Deus sabe o que eles estão fazendo com a informação que estão coletando aqui", disse Biden em evento de campanha em setembro, prometendo buscar soluções para a infiltração das empresas ligadas ao governo chinês com especialistas em cybersegurança.
Em fevereiro, Biden afirmou que apoiava uma proibição ao uso de equipamentos da Huawei nos EUA, e, novamente, disse que trabalharia com "democracias aliadas" para elaborar regras globais sobre privacidade de dados e roubo cibernético.
Para Biden, a política americana em relação à China deve começar com uma reforma doméstica. O democrata acredita que os Estados Unidos podem superar a China e fazer frente a ameaças à segurança nacional com investimentos em infraestrutura, inovação, pesquisa, desenvolvimento e educação.
O governo Trump tem dado especial atenção às violações de direitos humanos na China. Com relação a esse tema, Biden se comprometeu a "fazer cumprir totalmente" a Lei de Direitos Humanos e Democracia de Hong Kong, assinada por Trump no ano passado. O democrata também descreveu como "genocídio" o tratamento dado pela China aos uigures, minoria muçulmana que é alvo de uma campanha de perseguição e de detenção em massa por Pequim.
As tensões entre EUA e China persistiriam com quem quer que fosse eleito; a diferença estaria na abordagem de cada candidato. Caso conseguisse a reeleição, Trump manteria a sua estratégia de confronto e pressão unilateral à China, mas Biden deve pressionar Pequim com a ajuda de organismos multilaterais, desprezados por Trump.
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