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Presidente boliviano, Luis Arce, e o chanceler boliviano, Rogelio Mayta (na esquerda), conversam com o chanceler de Nicolás Maduro, Jorge Arreaza, e o novo embaixador venezuelano na Bolívia, Alexander Yanez (na direita), durante cerimônia de credenciamento em La Paz, em 11 novembro de 2020| Foto: Aizar RALDES/AFP

Embaixadores da Venezuela e do Irã apresentaram suas cartas credenciais ao novo presidente da Bolívia, Luis Arce, nesta quarta-feira (11). Com apenas três dias de governo, o pupilo do ex-presidente Evo Morales agiu rápido para reatar as relações com a ditadura de Nicolás Maduro e o regime teocrata iraniano, que haviam sido desfeitas durante o governo interino da conservadora Jeanine Áñez. A ex-presidente fechou a embaixada do Irã na Bolívia e reconheceu Juan Guaidó como presidente da Venezuela, além de ter expulsado os diplomatas de Maduro nos primeiros dias de seu governo.

No breve encontro com os embaixadores iraniano, Morteza Tafreshi, e venezuelano, Alexander Yánez, Arce se comprometeu a fortalecer os laços bilaterais com os dois países e a cooperação em diferentes áreas, segundo o jornal boliviano El Deber.

"Continuaremos a fortalecer projetos comuns em benefício de nossos povos", tuitou Arce ao comentar sobre a relação com o Irã. Sobre o apoio ao regime de Maduro, o presidente boliviano disse: "restabelecemos as relações bilaterais para fortalecer os laços estratégicos para o bem de nossos povos".

O recebimento das credenciais dos embaixadores nesta semana marca o retorno da Bolívia à política externa adotada no governo de Morales, com aproximação aos governos de esquerda. O ex-presidente, que estava exilado na Argentina, voltou à Bolívia nesta segunda-feira, primeiro dia do governo de Arce, e participou de um grande comício em sua terra natal, Chimoré, nesta quarta.

Unasul, lítio e a influência de Morales

Diante de milhares de pessoas, Morales disse que, "em nível internacional, a tarefa é que os povos voltem a governar para nos integrarmos". "Devemos relançar a Unasul (União de Nações Sul-Americanas) para enfrentar a OEA (Organização dos Estados Americanos)".

A Unasul nasceu de uma ideia de Hugo Chávez em 2008, quando a esquerda governava os principais países da América do Sul, para fugir do que via como uma influência dos Estados Unidos na OEA. Mas com a mudança dos governos nos últimos anos e desentendimentos internos entre os países-membros, a aliança desmoronou.

Um dos principais pontos de atrito entre o governo de esquerda boliviano e o governo americano é a exploração das reservas de lítio, considerado o "ouro branco", no país sul-americano – uma das maiores do mundo. Morales por diversas vezes já citou uma suposta "intromissão" dos Estados Unidos no país e espalhou teorias da conspiração de que teria sido forçado a deixar o governo em novembro do ano passado porque foi vítima de um golpe orquestrado pelos Estados Unidos para controlar a exploração de lítio na Bolívia – alegações que ele voltou a dizer assim que chegou na Bolívia nesta semana.

"Depois de muitas reuniões, percebi que o ocidente, os países industrializados, só querem que nós, latino-americanos, garantamos a eles (o fornecimento de) matérias-primas", disse Morales, segundo o site argentino Infobae, em um discurso na terça-feira. Falando pelo presidente Arce, que não estava presente, Morales disse também que o novo governo do Movimento ao Socialismo vai retomar o plano de converter o Salar de Uyuni na "capital mundial do lítio".

Os discursos de Morales nestes primeiros dias após sua chegada à Bolívia mostram que o ex-presidente terá uma grande influência nas decisões tomadas por Arce, apesar de o atual mandatário ter afirmado, em entrevista concedida à BBC logo após as eleições, que "se Evo quiser ajudar na gestão, será bem-vindo, mas não significa que ele estará no governo". O ex-ministro de Governo de Morales, Carlos Romero, disse a jornalistas nesta quarta-feira que Morales está a frente das decisões políticas e estratégicas da agenda governista.

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