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Solidariedade

Desastre mobiliza de Gisele a Fidel

Haitianos disputam pacote de água em ponto de distribuição: história sofrida do país atrai a simpatia dos doadores | Jorge Silva / Reuters
Haitianos disputam pacote de água em ponto de distribuição: história sofrida do país atrai a simpatia dos doadores (Foto: Jorge Silva / Reuters)
Soldados americanos tratam de um ferido no aeroporto de Porto Príncipe |

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Soldados americanos tratam de um ferido no aeroporto de Porto Príncipe

Garrafas de água são transportadas em navio da marinha americana |

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Garrafas de água são transportadas em navio da marinha americana

Até o próximo sábado, US$ 0,50 do valor de cada sanduíche Big Mac será doado à causa haitiana. O lanche da rede McDonald’s, antigo símbolo do "imperialismo" norte-americano, se tornou parte da on­­da de solidariedade que se espalha pe­­­lo mundo desde terça-feira, dia da catástrofe no Haiti.

As iniciativas em prol das vítimas são realizadas por diferentes meios, organizações, mídias e pessoas. Desde governos e organismos internacionais até associações de moradores e grupos de amigos, o chamado à solidariedade reflete a comoção pelo drama do país.

As maiores quantias serão doadas por Banco Mundial, Fundo Mo­­ne­­­­tário Inter­­nacional, Estados Uni­­­­dos (US$ 100 milhões cada) e Organização dos Estados Ameri­ca­­nos (US$ 170 milhões). So­­madas às ajudas de outros países e instituições, o fundo de auxílio ao Haiti alcança aproximadamente US$ 600 mi­­lhões. Este valor cobre os US$ 550 milhões estimado pela ONU para atender às necessidades imediatas da população, como comida e água. Porém ainda é insuficiente para pôr em prática qualquer plano de reconstrução do Haiti.

Con­­tribuições individuais e de ONGs lideram a lista de repasses não go­­vernamentais. Em geral, o dinheiro é aglutinado em pequenos fundos, como os comandados por igre­­jas e em­­presas, e reencaminhado para fundos maiores.

Algumas iniciativas chamam a atenção. A modelo brasileira Gi­­se­le Bündchen doou US$ 1,5 mi­­lhão – mais do que a China. O go­­­­­­­­­­­­­­­­verno cu­bano, costumaz crítico dos EUA, autorizou a passagem de aviões americanos por seu espaço aéreo. Até bancos de Wall Street, que há um ano recorriam a aportes bi­­li­­o­ná­­ri­os para não quebrar por causa da crise, in­­­tegraram o esforço hu­­­­­ma­­ni­tário. Morgan Stanley, Bank of Ame­­­­rica e Goldman Sachs doaram US$ 1 milhão cada para a Cruz Ver­­me­­lha norte-americana e os Mé­­di­­cos Sem Fron­tei­ras.

No Brasil, o dinheiro para o Hai­­ti está sendo arrecadado através de contas do Banco do Brasil, da ONG Viva Rio e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. O governo fe­­­deral prometeu uma doação de US$ 15 milhões. No Paraná, entida­­des governamentais, movimentos sociais e instituições da so­­­ciedade civil se uniram para direci­­onar os apelos à conta da Ação So­­­cial do Paraná (veja no box como doar).

A cientista política Maria Lúcia Victor Barbosa, professora aposentada da Universidade Estadual de Londrina, percebe existir um sentimento de solidariedade maior do que o provocado por outras tragédias recentes. "Parece estar havendo uma disputa política para ver quem aparece como o maior benfeitor", entende. No entanto, ela te­­me pelo bom uso desses recursos. "Se não houver uma administração rigorosa e forem definidas as prioridades para este dinheiro, há, inclusive, o risco de desvios."

Esse temor se estende aos doadores, coforme indica análise do Serviço de Rastreamento Finan­­ceiro, banco de dados de doações humanitárias globais mantido pela ONU. Dos 119 grupos que efetivamente repassaram dinheiro ao Haiti, somente os governos da Suí­­ça e da Guiana e o Banco In­­terame­ricano de Desenvol­­vi­­mento o fizeram diretamente ao Estado. Em regra, as emissões são feitas via Na­­­ções Unidas ou agências humanitá­­rias do país doador. Reflexo do al­­­­to índice de corrupção no Hai­­ti, apenas o 168.º no ranking da Trans­pa­rência In­­ternacional.

Maria Lúcia ressalta também a possibilidade de a intensidade das doações diminuir à medida em que a tragédia vai deixando de ser uma novidade. "A tendência é que deva acontecer um esvaziamento", prevê. Os próprios haitianos so­­freram recentemente com esse desinteresse. Para as vítimas do fu­­racão Gustav, que atingiu o país em 2008, foram pedidos US$ 121 milhões e doados US$ 73 milhões – ou 60,5%.

Agora, há dois fatores que tendem a ampliar a on­da de doações, diz Lucia­na Worms, professora de geopolítica do grupo Positivo: a simpatia mundial pelo historicamente vitimizado Haiti e a morte de Zilda Arns, benemérita reconhecida in­­­terna­cionalmente.

"O Haiti tem um dos piores ín­­­dices de desenvolvimento humano do mundo. Há um carinho muito grande por um país que, no sé­­­cu­­lo 19, conseguiu romper com o go­­­verno francês e, no século 20, apostou na democracia e sofreu com uma ditadura cruel. O mundo quer compensar os haitianos por terem sofrido tanto", diz. "Além disso, a morte de Zilda Arns sensibilizou não apenas o Brasil, mas todo o mundo".

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