Mesmo com a pandemia de Covid-19, os gastos globais com defesa aumentaram em 2020. Segundo relatório do Stockholm International Peace Research Institute (Sipri) publicado nesta segunda-feira (26), houve um aumento real de 2,6% em comparação com 2019, e de 9,3% em relação a 2011. Em números absolutos, a organização estima que os países gastaram US$ 1,98 trilhão, sendo Estados Unidos, China, Índia, Rússia e Reino Unido responsáveis por 62% do total investido.
Como grande parte das potências militares não reajustou seus gastos com defesa no decorrer do ano passado e houve uma queda acentuada das economias ao redor do mundo – sendo a China uma notável exceção –, a média global de investimento militar chegou a 2,4% do PIB, 0,2 ponto percentual a mais do que em 2019.
Isso fez com que alguns países da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que estiveram sob pressão da administração americana nos últimos anos para gastar mais com defesa, atingissem a meta de investir 2% do seu PIB nesta área. Na França, por exemplo, as despesas militares ultrapassaram este marco pela primeira vez desde 2009.
Crescimento constante na China
As estimativas sobre a China indicam que o país gastou US$ 252 bilhões em defesa no ano passado (13% do total mundial). O aumento em relação a 2019 pode parecer pequeno (1,9%) quando comparado ao dos Estados Unidos (4,4%), mas o regime comunista vem aumentando essas despesas consistentemente há 26 anos. Em uma década, o investimento do gigante asiático nesta área aumentou 76%, segundo estimativa do Sipri, o que torna a China o país que mais aumentou seus gastos com defesa entre as 15 maiores potências militares do mundo neste período.
“O crescimento contínuo dos gastos chineses se deve em parte aos planos de modernização e expansão militar de longo prazo do país, em linha com o desejo declarado de alcançar outras potências militares importantes", afirmou Nan Tian, pesquisador sênior do Sipri. O Ministério da Defesa da China citou ainda que o reforço nos gastos ocorreu, em parte, por causa de ameaças percebidas à segurança nacional da China relacionadas a políticas para acabar com disputas internacionais.
EUA investem mais em projetos de longo prazo
Os Estados Unidos investiram no ano passado US$ 778 milhões em defesa – 39% do total global. Pelo terceiro ano consecutivo, os americanos aumentaram seus gastos militares – 4,4% em relação a 2019 – mas quando analisados os últimos dez anos, percebe-se que os gastos da maior potência militar do mundo caíram 10%. O orçamento do Pentágono atingiu um pico em 2010 e até 2017 vinha sendo constantemente reduzido. Isso mudou com a chegada do republicano Donald Trump ao cargo, que aumentou os gastos da pasta, colocando o foco da defesa do país na preparação para um possível conflito com outras grandes potências, como China e Rússia.
Considerando este novo momento, nos últimos três anos, os Estados Unidos aumentaram seus investimentos em pesquisa e desenvolvimento e em vários projetos de longo prazo, como a modernização do arsenal nuclear e a aquisição de armas em grande escala.
Rússia aumenta despesas, mas menos do que o previsto
Moscou aumentou os gastos militares em 2,5% em 2020, comparado ao ano anterior, destinando mais de US$ 61 bilhões dos cofres públicos à defesa. A Rússia continua em 4º lugar no ranking dos países com maiores despesas militares, mas as consequências econômicas da pandemia tiveram um impacto para o setor: os gastos militares reais do Kremlin em 2020 foram 6,6% menores do que seu orçamento militar inicial.
Brasil e outros países que reduziram os gastos em 2020
O Brasil reduziu as despesas militares no primeiro ano da pandemia, seguindo uma tendência observada na América do Sul. Foram US$ 19,7 bilhões investidos em 2020, uma queda de 3,1% em comparação ao ano anterior. De acordo com o Sipri, por causa da pandemia, os gastos militares reais do Brasil totalizaram apenas 88% de seu orçamento militar inicial para o ano passado.
Isso fez com que o país caísse duas posições no ranking em relação a 2019 – da 13ª para a 15ª –, ficando imediatamente atrás de Israel, Canadá e Austrália.
O Chile, que já tinha previsto uma diminuição de 2,2% dos gastos militares para 2020, realocou parte do orçamento da defesa – US$ 936 milhões que seriam usados na modernização da frota de caças F-16 – para cobrir custos associados à pandemia de Covid-19. Em média, os países da América do Sul reduziram as despesas militares em 2,1% no ano passado, com o total de gastos dos governos da região chegando a US$ 43,5 bilhões.
Outros dois grandes países que gastaram notavelmente menos com defesa em 2020 foram a Turquia e a Arábia Saudita. Os sauditas investiram US$ 57,6 bilhões no ano passado, 10% a menos do que em 2019. Os gastos militares do reino haviam aumentado muito no começo da década passada – cerca de 63% – mas diminuíram consideravelmente após a intervenção do país na guerra civil do Iêmen, em 2015. Ainda assim, a Arábia Saudita é um dos países com mais gastos militares em proporção à economia: o Sipri estima que 8,4% do PIB saudita seja destinado à defesa do país. A Turquia, por sua vez, diminuiu em 5% as despesas militares em 2020 (US$ 17,7 bilhões), revertendo anos de aumentos consecutivos – nos últimos dez, os gastos do país aumentaram 77%.
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