O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, vem enfrentando uma grave crise política em sua administração após a divulgação de vários depoimentos e áudios que o vinculam a uma movimentação ilegal de recursos milionários em dinheiro vivo, que podem ter partido de desvios de verbas eleitorais e do regime venezuelano de Nicolás Maduro.
O escândalo político envolvendo o governo de Petro atingiu colaboradores próximos a ele, como a ex-chefe de gabinete Laura Sarabia e Armando Benedetti, ex-embaixador na Venezuela.
O Ministério Público da Colômbia abriu várias linhas de investigações para esclarecer os fatos, enquanto a oposição pediu a renúncia do presidente e anunciou ações na Justiça contra ele.
Nesta quarta-feira (14), uma nova denúncia divulgada pela revista Semana revelou que uma quantia de dinheiro em espécie roubada da casa de Sarabia, que foi o que deu início a todo o escândalo, era muito maior do que o inicialmente divulgado e teria origem ilegal.
Segundo a fonte anônima que realizou a denúncia para a Semana, o dinheiro roubado na casa da ex-chefe de gabinete pertenceria diretamente a Petro e totalizava 3 bilhões de pesos colombianos (cerca de US$ 718 mil). O valor inicialmente divulgado era de que teriam sido roubados apenas US$ 4 mil.
A fonte também afirmou que o dinheiro provinha de contribuições ilegais que foram realizadas para a campanha presidencial da coalização Pacto Histórico e inicialmente estava destinado a financiar as eleições legislativas. A testemunha entregou à Semana várias gravações e mensagens de voz que apoiariam suas afirmações.
No começo do mês, a revista Semana publicou alguns áudios nos quais Benedetti fala com Sarabia sobre o dinheiro roubado da casa dela. Neles, o agora ex-embaixador na Venezuela lembra a Sarabia o que ele “fez” para ajudar Petro a vencer a eleição presidencial.
Benedetti afirmou que havia arrecadado cerca de 15 bilhões de pesos colombianos (cerca de US$ 3,5 milhões) para a campanha de Petro e disse a Sarabia que se ele “falar e revelar quem financiou sua campanha na costa atlântica [do país], todos acabarão presos”.
Nos áudios, Benedetti também ameaçou reivindicar espaço no governo de Petro e que se isso não ocorresse, ele iria divulgar informações que poderiam “explodir” a administração do presidente esquerdista. Após a divulgação desses áudios, Petro demitiu Laura Sarabia e Armando Benedetti.
Nesta quinta-feira (15), Gustavo Petro desmentiu a revista Semana, afirmando que os novos áudios revelados pelo veículo de comunicação são "uma tentativa de difamá-lo”.
"Estes supostos depoimentos, que têm um interesse difamatório contra o presidente da República, buscam minar a confiança dos cidadãos no governo nacional, através de versões sobre acontecimentos das quais não existe qualquer tipo de provas", disse o presidente, que está de visita à Alemanha, em um comunicado.
Interferência externa
Além da denúncia da Semana, outra investigação jornalística, publicada no início deste mês pelo jornal colombiano El Expediente, apontou que a campanha de Petro teria sido financiada pelo regime de Nicolás Maduro por meio do grupo empresarial Clã Torres, que tinha conexões com Benedetti.
Segundo o jornal, Maduro teria financiado Petro por meio de uma espécie de lavagem de dinheiro, utilizando as empresas do Clã Torres. O jornal afirmou que Benedetti já teria informado à Drug Enforcement Administration (DEA), órgão responsável pelo combate ao narcotráfico do governo dos Estados Unidos, sobre isso quando foi destituído por Petro e teria pedido proteção ao governo americano.
Outro fato que tem gerado questionamentos a Petro é a morte do coronel Óscar Dávila, ocorrida na última sexta-feira (9). Dávila atuava como coordenador de Proteção Antecipada da Presidência e foi encontrado morto em um veículo em Teusaquillo, bairro de Bogotá, com sua arma de serviço ao lado. Embora inicialmente tenha sido considerado um suicídio, o Ministério Público abriu uma investigação para esclarecer as circunstâncias de sua morte.
O militar estava ligado ao caso de Laura Sarabia, pois era o responsável pelo escritório onde o teste de polígrafo de Marelbys Meza, babá que foi inicialmente apontada como a principal suspeita pelo roubo do dinheiro na casa de Sarabia, havia sido realizado.
A morte dele ocorreu no momento em que um inquérito judicial havia sido aberto com o objetivo de entender se houve irregularidades ou abuso de poder no interrogatório ao qual foi submetida Meza.
Segundo o advogado Miguel Ángel del Río, que estava realizando a defesa do policial no caso, Dávila havia manifestado que estava sendo ameaçado por alguns membros do Ministério Público colombiano. O advogado classificou a morte do coronel como resultado de uma "perseguição infame" por parte do órgão acusador.
Reações
O escândalo gerou um grande impacto no cenário político e jurídico da Colômbia. Por um lado, vários setores da oposição pediram a renúncia do presidente Petro e anunciaram ações legais para exigir sua responsabilidade.
O ex-prefeito de Medellín e opositor Federico Gutiérrez apresentou uma denúncia à Comissão de Acusações da Câmara dos Representantes para investigar o presidente por crimes de conspiração criminosa e financiamento ilegal de campanha, entre outros. Gutiérrez também solicitou a renúncia de Petro.
Além disso, a Red de Veedurías Ciudadana, instituição que combate a corrupção na Colômbia, apresentou nesta quinta-feira uma denúncia criminal e uma reclamação disciplinar contra Petro pelos mesmos fatos.
O Ministério Público da Colômbia continua investigando o caso sobre o roubo do dinheiro na casa de Sarabia, os áudios de Benedetti e a morte de Dávila.
Em meio ao escândalo, a popularidade de Gustavo Petro como presidente vem despencando. No começo deste mês, um levantamento, realizado pela Invamer para o jornal El Espectador e as emissoras Noticias Caracol e Blu Radio, apontou que a aprovação dele estava em apenas 33%.
A pesquisa ainda apontou que 70,7% dos colombianos acreditam que o país está indo no caminho errado e 66% afirmam não perceber nenhuma mudança efetiva no país sob a administração de Petro. (Com Agência EFE)
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