As divergências no governo de unidade israelense intensificaram-se neste sábado, em meio a duas ofensivas das tropas de Israel na Faixa de Gaza. Benny Gantz, membro do gabinete de guerra e um popular político, emitiu um ultimato ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, ameaçando renunciar caso um plano “abrangente” pós-guerra para a Faixa de Gaza não seja elaborado e aprovado até 8 de junho.
Segundo os jornais americanos Washington Post e The New York Times, o plano deve contemplar a libertação dos reféns israelenses em poder do Hamas, a desmilitarização da Faixa de Gaza, o retorno dos israelenses desalojados pelo conflito armado, a instauração de um governo alternativo para a região e progressos nas negociações com a Arábia Saudita.
Gantz, do partido Unidade Nacional (centro), declarou em coletiva de imprensa que se retirará do governo caso seja escolhido um caminho que conduza Israel ao abismo. “Enquanto os soldados israelenses demonstram bravura na frente de batalha, alguns responsáveis por enviá-los estão agindo com covardia e irresponsabilidade”, afirmou.
As declarações ocorrem simultaneamente à ofensiva israelense no campo de refugiados de Jabalya, ao norte de Gaza, e a outra operação em Rafah, ao sul, que resultou no deslocamento de mais de 800 mil pessoas. As ações militares no sul de Gaza levaram ao fechamento da passagem de Rafah, crucial para a entrada de ajuda humanitária e localizada na fronteira com o Egito.
Divisão no gabinete se soma às tensões com os Estados Unidos
A divisão no gabinete soma-se às já tensas relações com os Estados Unidos. A crescente discordância entre Netanyahu e outros membros do governo sobre o desfecho da guerra, que perdura há mais de sete meses, representa mais um desafio para o primeiro-ministro.
Na segunda-feira, Kurt Campbell, secretário-adjunto de Estado americano, expressou divergências sobre a “teoria da vitória”, defendida pelo governo de Israel. “Às vezes, parece que os líderes israelenses buscam algum tipo de vitória total no campo de batalha, o que não consideramos provável nem possível”, disse Campbell, segundo o Washington Post.
Milhares de israelenses protestam em várias partes do país, como no centro de Tel Aviv, contra o governo e a favor de um cessar-fogo que liberte mais de 130 reféns mantidos em Gaza.
Ministro da Defesa também manifestou divergências
O ministro da Defesa, Yoav Gallant, também manifestou divergências com Netanyahu, solicitando na última semana um plano para uma administração palestina. Gallant rejeita a ideia de Israel governar Gaza sozinho, argumentando que a ausência de planejamento compromete os avanços da guerra e a segurança de Israel a longo prazo.
Os Estados Unidos defendem uma Autoridade Palestina revitalizada para administrar Gaza, com o apoio da Arábia Saudita e outros países árabes. A agência de notícias AP informa que o tema estará na agenda de Jake Sullivan, assessor de segurança nacional dos Estados Unidos, em sua visita a Israel e Arábia Saudita que começa domingo (19).
Netanyahu rejeita qualquer papel da Autoridade Palestina em Gaza, propondo transferir responsabilidades civis para palestinos não afiliados a ela ou ao Hamas.
O primeiro-ministro insiste que é inviável planejar enquanto o Hamas não for derrotado, pois o grupo ameaça qualquer um disposto a cooperar com Israel. Além disso, o governo de Netanyahu opõe-se à criação de um estado palestino.
Netanyahu diz que condições de Gantz levariam Israel à derrota
Em comunicado, Netanyahu criticou as condições impostas por Gantz, alegando que levariam “Israel à derrota, abandonariam a maioria dos reféns israelenses, deixariam o Hamas intacto e resultariam na formação de um estado palestino”. Ele enfatiza a importância do governo de emergência para o esforço de guerra e solicita que Gantz esclareça suas posições ao público.
O Times of Israel relata que Netanyahu questiona se Gantz realmente prioriza o interesse nacional e não a queda do governo, desafiando-o a responder três questões:
- Gantz deseja concluir a operação em Rafah? Se sim, por que ameaça derrubar o governo de unidade durante a ação militar?
- Ele se opõe ao governo da Autoridade Palestina em Gaza, mesmo sem a participação de Mahmoud Abbas?
- Ele apoiaria a criação de um estado palestino como parte de um acordo com a Arábia Saudita?
Netanyahu afirma estar disposto a eliminar os batalhões do Hamas, opõe-se à presença da Autoridade Palestina em Gaza e rejeita a formação de um estado palestino, que considera “inevitavelmente terrorista”. Ele também reitera que o governo de unidade é essencial para alcançar os objetivos de guerra.
Gantz defende criação de condições para fim de operações em Rafah
Gantz respondeu prontamente, segundo o Times of Israel, argumentando que se Netanyahu o tivesse ouvido, a operação em Rafah já teria sido realizada e concluída. “Precisamos finalizá-la e criar as condições necessárias para isso”, disse ele.
Ele também afirmou que a Autoridade Palestina não deve governar Gaza, mas outros palestinos poderiam fazê-lo, com apoio dos países árabes e dos Estados Unidos. “O primeiro-ministro deve se engajar nesses esforços, não os sabotar”, declarou.
Gantz enfatizou que a criação de um estado palestino não é uma exigência saudita e que não pretende apoiar tal estado, mas sim uma “entidade palestina”. Ele lembrou que Netanyahu já apoiou a ideia de um estado palestino no passado.
“Se Netanyahu valoriza o governo de unidade, deve tomar as decisões necessárias e não hesitar por medo dos extremistas em seu governo”, concluiu Gantz.
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