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O 11 de Setembro deu origem a uma infinidade de livros se propondo a dissecar a Al-Qaeda e, sobretudo, Osama bin Laden. Mas em meio a acadêmicos e historiadores, foi o jornalista britânico Jason Burke quem escreveu o livro considerado seminal sobre o assunto. Em Al-Qaeda: a verdadeira história do Islã radical, publicado em 2003 (2007 no Brasil), Burke — depois de uma jornada de estudos e pesquisas—defendia o argumento de que, em vez de funcionar como uma organização, a Al-Qaeda tinha um perfil muito maior de uma base ideológica unindo grupos e indivíduos tão esparsos quanto diferentes.Tal diferença de interpretação estaria levando autoridades a abordagens errôneas na guerra ao terror. E Burke teme que o mesmo erro se repita com a morte de Osama bin Laden. Aos 41 anos, está atualmente baseado em Nova Délhi. Em entrevista à Agência O Globo, por telefone, adota uma postura para lá de crítica ao analisar a influência da rede nos muçulmanos ao redor do mundo.

Como o senhor viu a repercussão da morte de Osama bin La­­den?

Voltamos um pouco à tradição de mitificação de Bin Laden, à tendência de, em vez de enxergarmos a Al-Qaeda como uma ideologia a que extremistas sem ligação direta com Bin La­­den vão se identificar para co­­meter atentados, acreditarmos que a morte de Bin La­­den fará o radicalismo islâmico de­­sapa­­recer.

É uma visão simplista, mas não creio que seja consciente. Tem muito mais jeito de catarse do que de crença.

Mas não é perigoso que líderes como o presidente Barack Oba­­ma tenham celebrado a execução de Bin La­­den tão efusivamente em público?

Creio que se trata muito mais do fim de uma narrativa, do encerramento que o público precisa ver. Não é apenas uma valorização do indivíduo Bin Laden, ainda que ele tenha se transformado numa espécie de lenda que ser­­ve para propósitos de muita gente.

A eliminação de Bin Laden re­­presenta um golpe duro para o ex­­tremismo?

É inegável que os EUA causaram impacto ao eliminar o terrorista mais famoso da história recente, mas não devemos simplificar a maneira como os radicais se relacionam com a figura de Bin La­­den. Nos últimos anos, vinham ficando mais claras as divergências entre a agenda da liderança da Al-Qaeda e o caráter local de al­­guns movimentos extremistas. Osama bin Laden e seus asseclas eram um bando de árabes que traziam uma proposta de internacionalização do terror, incluindo a criação de um califado, para co­­munidades que às vezes estavam envolvidas numa realidade tribal.

Não há o perigo de sua morte ser vista como algum tipo de martírio?

É muito cedo para se especular, mas desde já é preciso que as pessoas não comprem o argumento de que a morte de Bin Laden servirá como "détente", ou trégua temporária, para o terrorismo.

O radicalismo é um fenômeno muito mais complexo, a começar pelo fato de que tem origem em ressentimentos que datam de décadas, senão de séculos.

A militância islâmica tem raízes teológicas, sócio-econômicas, culturais e políticas.

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