A coalizão do atual premiê da Índia, Narendra Modi, venceu as eleições gerais do país, realizadas em sete fases, entre 19 de abril e o último sábado (1º), e cujos resultados foram divulgados nesta terça-feira (4).
Modi garantiu seu terceiro mandato, mas a vitória teve um sabor amargo, porque ele projetava que o Partido do Povo Indiano (BJP), sua legenda, manteria sozinho a maioria no Lok Sabha, a câmara baixa do Parlamento da Índia, para governar.
O BJP somou apenas 240 cadeiras, bem menos que as 293 da atual legislatura. Antes da eleição, a expectativa de Modi era atingir ao menos 370 assentos. São necessárias 272 cadeiras para ter maioria na casa.
Simultaneamente, partidos da oposição tiveram grande aumento de participação no Lok Sabha. A principal legenda oposicionista, o Congresso Nacional Indiano, que hoje tem 51 cadeiras, terá 99 assentos na próxima legislatura.
Dessa forma, Modi precisará de partidos aliados para conseguir aprovar medidas no Parlamento – o que sempre tem um preço.
“O BJP poderá ficar fortemente dependente da boa vontade dos seus aliados, o que os torna atores críticos de quem podemos esperar que exigirão a sua parte, tanto em termos de formulação de políticas públicas como de formação de governo”, afirmou Milan Vaishnav, diretor do Programa do Sul da Ásia no think tank americano Fundo Carnegie para a Paz Internacional, à agência Associated Press.
Mudanças na Constituição da Índia precisam de ao menos 363 votos para passarem na câmara baixa, e antes da divulgação do resultado das eleições, o jornal indiano The Economic Times havia informado que Modi planeja implementar no seu terceiro mandato medidas econômicas como flexibilização das leis trabalhistas, maior oferta de subsídios e redução de impostos de importação, para fortalecer a Índia como destino de investimentos.
Em entrevista à Gazeta do Povo, Igor Macedo de Lucena, economista, doutor em relações internacionais e membro do think tank britânico Chatham House, disse que o resultado aquém do esperado para Modi não é reflexo da situação econômica, “porque a Índia está tendo um crescimento robusto nos últimos anos”.
“Pode ser uma reação a uma visão muito totalitária, com [a ênfase n]o hinduísmo, a própria visão do partido, a ideia até de mudar o nome do país, toda essa visão que o Modi tenta colocar como algo hegemônico. A população indiana mostra que eles não podem fazer tudo o que querem”, explicou.
Lucena apontou que, apesar do discurso de “continuar o bom trabalho realizado na última década”, como o premiê escreveu no X nesta terça-feira, Modi é “pragmático” e deve rever algumas posições para não perder ainda mais apoio político.
Ao mesmo tempo, o analista projetou que a Índia manterá o trunfo de exercer o papel de alternativa à China fomentado pelo Ocidente, que cobra para que o país deixe de comprar o petróleo russo – as importações indianas dispararam desde o início da guerra na Ucrânia.
“A Índia só compra petróleo da Rússia porque isso a favorece comercialmente. Nisso, tem um pouco de arrogância do Ocidente, de achar que suas sanções não vão afetar parceiros. Ao invés de pagar um petróleo mais caro, a Índia apenas defende seus interesses”, afirmou Lucena, que destacou que cabe ao Ocidente oferecer condições para que essas importações da Rússia cessem ou diminuam.
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