O Ministério da Defesa da Rússia confirmou nesta terça-feira (16) a realização, na véspera, de um teste com míssil antissatélite. “De forma concreta, em 15 de novembro deste ano, o Ministério da Defesa russo realizou com êxito um teste, que teve como resultado que o aparelho espacial inoperante russo ‘Tselina-D’, que esteve em órbita desde 1982, foi alcançado”, indicou a pasta, por meio de comunicado.
Os Estados Unidos acusaram a Rússia de ter colocado em perigo a tripulação da Estação Espacial Internacional (EEI), laboratório que orbita a Terra a cerca de 400 km de altura e onde centenas de astronautas de vários países atuaram nos últimos 21 anos.
Em nota, o Comando Espacial americano alegou que até agora o teste russo gerou mais de 1,5 mil fragmentos orbitais rastreáveis e provavelmente gerará centenas de milhares de fragmentos orbitais menores.
“A Rússia demonstrou um desrespeito deliberado pela segurança, proteção, estabilidade e sustentabilidade de longo prazo do domínio espacial para todas as nações”, afirmou o general James Dickinson, comandante do Comando Espacial dos Estados Unidos.
“Os destroços criados pelo míssil antissatélite da Rússia continuarão a representar uma ameaça às atividades no espaço sideral nos próximos anos, colocando satélites e missões espaciais em risco, além de forçar mais manobras para evitar colisões. As atividades espaciais sustentam nosso modo de vida e esse tipo de comportamento é simplesmente irresponsável”, acrescentou.
O Comando Espacial dos Estados Unidos informou que continua monitorando a trajetória dos destroços e que trabalhará para garantir que todas as nações que fazem viagens espaciais tenham as informações necessárias “para salvaguardar suas atividades em órbita caso sejam impactadas pela nuvem de destroços, um serviço que os Estados Unidos fornecem ao mundo, incluindo a Rússia e China”.
“A Rússia está desenvolvendo e implantando recursos para negar ativamente o acesso e o uso do espaço pelos Estados Unidos e por seus aliados e parceiros”, acusou Dickinson.
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou que a segurança de todos os atores que procuram explorar e usar o espaço sideral para fins pacíficos foi colocada em risco pelo teste russo.
“Os eventos de 15 de novembro demonstram claramente que a Rússia, apesar de suas alegações de se opor ao armamento no espaço sideral, está disposta a comprometer a sustentabilidade de longo prazo do espaço sideral e colocar em risco a exploração e o uso do espaço sideral por todas as nações por meio de seu comportamento imprudente e irresponsável”, criticou, também em nota.
Rússia fala em “hipocrisia” e “ameaça” dos EUA
Em resposta, os russos acusaram os americanos de hipocrisia. “Os Estados Unidos sabem, com certeza, que os fragmentos resultados, em termos do tempo que durou o teste e dos parâmetros orbitais, não representaram, nem representarão uma ameaça para as estações orbitais, os equipamentos e atividades espaciais”, argumentou o Ministério da Defesa russo.
A pasta, liderada por Serguei Choigu, garantiu que os fragmentos do satélite destruído “foram incluídos no catálogo principal do sistema de controle espacial”, que começou imediatamente o acompanhamento destes, até o desaparecimento. “Anteriormente, Estados Unidos, China e Índia já tinham realizado testes similares no espaço ultraterrestre”, alegou Moscou.
“O Ministério da Defesa da Rússia considera hipócritas as declarações de representantes do Departamento de Estado e do Pentágono, que tentaram acusar a Federação Russa de criar ‘riscos’ para os astronautas da EEI”, disse a nota.
O texto sustentou que, “durante vários anos”, Moscou vem pedindo aos Estados Unidos e a outras potências espaciais que assinem um tratado para evitar o uso de armas no espaço. “O rascunho desse tratado foi apresentado na ONU. No entanto, Estados Unidos e aliados estão bloqueando a adoção. Washington declara, abertamente, que não quer estar sujeita a nenhuma obrigação no espaço”, diz o comunicado.
O Ministério da Defesa russo citou, contudo, que os EUA criaram o Comando Espacial, em 2019, e que adotaram uma nova estratégia espacial, em que um dos principais objetivos seria “criar uma vantagem militar integral no espaço”.
“Por sua vez, o Pentágono, inclusive, antes destes passos oficiais e mais ainda depois, está desenvolvendo ativamente e testando sem notificações em órbita as últimas armas de ataque e combate de vários tipos, inclusive, as últimas modificações da nave espacial não tripulada X-37”, indicou Moscou. “As ações americanas são avaliadas como uma ameaça e são incompatíveis com os objetivos declarados de uso pacífico do espaço ultraterrestre.”
Sessenta e quatro anos de lixo acumulado
Jonathan Amos, correspondente de assuntos científicos da BBC, analisou que os testes de mísseis antissatélites só podem ser vistos como “uma forma de loucura”, já que a impossibilidade de controlar o campo de destroços que resulta de um impacto de alta velocidade representa uma ameaça para missões operacionais futuras, incluindo as do país que realizou o teste.
“A situação do lixo espacial piora rapidamente. Sessenta e quatro anos de atividades acima das nossas cabeças representam agora cerca de 1 milhão de objetos correndo por lá descontrolados, com tamanhos que variam de 1 a 10 cm”, destacou. “Um impacto de qualquer um deles pode significar fim de missão para um satélite de clima ou telecomunicações vital. As nações precisam limpar o ambiente espacial, não poluí-lo ainda mais.”
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