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O candidato democrata à presidência dos EUA, Joe Biden, fala com a imprensa no Kentucky, 12 de outubro
O candidato democrata à presidência dos EUA, Joe Biden, fala com a imprensa no Kentucky, 12 de outubro| Foto: JIM WATSON / AFP

O New York Post publicou uma reportagem nesta quarta-feira alegando ter tido acesso a e-mails comprometedores que revelaram que, em 2015, Hunter Biden, filho de Joe Biden, intermediou o encontro do pai, então vice-presidente dos EUA, com um executivo ucraniano da Burisma, empresa de energia para a qual Hunter trabalhava na época.

Antes de adentrar nos pormenores da história, um pouco de contexto: Biden, como vice-presidente americano, estava envolvido diretamente nas conversas sobre a crise política na Ucrânia, após a renúncia do presidente Viktor Yanukovych (pró-Rússia) em 2014. Os EUA e aliados estavam pressionando os ucranianos a aprovar reformas contra a corrupção no país. Foi neste contexto que, em 2014, Hunter assumiu uma cadeira no conselho da Burisma, onde trabalhou até o início de 2019 ganhando cerca de US$ 50 mil por mês. A Burisma é a maior empresa privada de gás da Ucrânia. A situação foi considerada por muito analistas como um caso de conflito de interesses, mesmo que Biden, o pai, tenha dito diversas vezes que nunca conversou com o filho sobre a empresa.

Segundo o NYPost, um dos executivos mais importantes da Burisma, Vadym Pozharskyi, teria enviado um e-mail a Hunter Biden em 17 de abril de 2015 agradecendo a oportunidade de encontrar-se com o então vice-presidente. "Caro Hunter, obrigado por me convidar para [Washington] DC e dar a oportunidade de conhecer seu pai e passar algum tempo juntos. É uma real honra e um prazer", diz o suposto e-mail, com alguns erros de Inglês. Não é possível entender, a partir do texto, se o encontro já tinha ocorrido ou se estava prestes a acontecer.

Outro e-mail citado pela publicação data de maio de 2014. Nele, Pozharskyi pede conselhos a Hunter sobre como Hunter poderia usar sua influência em nome da empresa. De acordo com o Post, Hunter respondeu dizendo que estava no Qatar e pediu mais informações sobre "as acusações formais (se houver) feitas contra a Burisma", que na época era investigada por corrupção.

Em outra reportagem, publicada nesta quinta-feira (15), o NYPost afirma, com base no mesmo material, que Hunter também teria buscado negócios lucrativos envolvendo a maior empresa privada de energia da China - incluindo um que ele disse que seria "interessante para mim e minha família".

Como surgiram os e-mails?

De acordo com a publicação, os e-mails foram obtidos em meio a dados recuperados de um notebook que foi deixado em uma loja de conserto em Delaware em abril de 2019. De acordo com o dono desta loja, a pessoa que deixou o computador lá nunca mais voltou para buscar e não pagou pelo serviço. Ele disse que não pode afirmar se a pessoa que deixou o notebook lá era Hunter Biden, mas que o objeto tinha o adesivo da Beau Biden Foundation.

Há desconfianças sobre a autenticidade deste material. O NYPost publicou somente os PDFs dos e-mails supostamente retirados do laptop e uma foto feita no dia anterior à publicação da história. As informações chegaram à publicação por meio de Rudy Giuliani, ex-advogado de Trump, que teve acesso a elas depois que um conhecido do dono da loja de consertos entrou em contato com o advogado de Giuliani, Robert Costello, ao ver o material.

O que diz a campanha de Joe Biden?

A campanha de Joe Biden negou as informações da matéria do NYPost. "Investigações da imprensa, durante o impeachment, e até mesmo de dois comitês do Senado liderados por republicanos cujo trabalho foi considerado 'não legítimo' e político por um colega do Partido Republicano, chegaram à mesma conclusão: que Joe Biden executou a política oficial dos EUA em relação à Ucrânia e não se envolveu em nenhuma irregularidade. Funcionários do governo Trump atestaram esses fatos sob juramento", disse o porta-voz da campanha de Biden, Andrew Bates, em comunicado.

"Além disso, nós revisamos a agenda oficial de Joe Biden do período e nenhum encontro, como alegado pelo New York Post, aconteceu", disse Bates.

O que Twitter e Facebook fizeram?

O Twitter e o Facebook tomaram medidas na quarta-feira para limitar o compartilhamento da reportagem do New York Post. A decisão de bloquear a distribuição de conteúdo de uma grande empresa de comunicação é inédita e recebeu críticas do presidente americano Donald Trump, que sugeriu que pode entrar com uma ação na Justiça para impedir que essas empresas continuem fazendo isso. "Twitter e Facebook são como um terceiro braço do Partido Democrata", acusou Trump. Outros líderes conservadores também acusaram as redes de censura e de interferência nas eleições.

No Twitter, quando um usuário tentava postar o link ou fotos da reportagem do NY Post, recebia a mensagem "Não podemos completar esse pedido porque este link foi identificado pelo Twitter ou por nossos parceiros como potencialmente prejudicial". Quem tentava clicar ou compartilhar o link da reportagem já publicado no Twitter recebia uma mensagem alertando que o link "pode não ser seguro".

Mais tarde, na noite de quarta-feira, o Twitter justificou o banimento do artigo em sua plataforma em uma série de tuítes, dizendo que os materiais violam as políticas da plataforma sobre compartilhamento de informações pessoais e privadas, assim como a distribuição de material hackeado. A matéria do NY Post traz fotos íntimas de Hunter Biden que, segundo a publicação, foram copiadas do notebook.

"As imagens contidas no artigo incluem informações pessoais e privadas - como endereços de e-mail e números de telefone - o que viola nossas regras", afirmou a empresa.

O Facebook também colocou restrições para o compartilhamento do artigo, dizendo que havia questões sobre a validade da reportagem. "[A medida] faz parte do nosso processo padrão para reduzir a disseminação de desinformação", disse um porta-voz da empresa.

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