Três ex-chefes da Polícia do Capitólio dos EUA, responsáveis pela segurança quando a sede do Congresso americano foi invadida por uma multidão pró-Trump em 6 de janeiro, deram depoimentos ao Senado nesta terça-feira (23) e culparam agências federais e o Departamento de Defesa por falhas na segurança.
As autoridades, que renunciaram após os eventos violentos que deixaram cinco mortos e suspenderam temporariamente a sessão que certificou o resultado das eleições presidenciais americanas, disseram que a multidão veio "preparada para a guerra".
"Nenhuma das informações de inteligência que recebemos puderam prever o que realmente aconteceu", disse Steven Sund, chefe da Polícia do Capitólio, durante a audiência. "Nós planejamos adequadamente para uma demonstração em massa com possíveis atos de violência. O que tivemos foi um ataque coordenado em estilo militar contra os meus oficiais e uma tomada violenta do edifício do Capitólio".
A audiência desta terça-feira faz parte da investigação do Senado americano para determinar o que saiu errado no dia da invasão ao Capitólio.
Paul Irving, ex-sargento da segurança da Câmara dos Representantes, que renunciou após a invasão, disse: "Com base nas informações de inteligência, todos acreditamos que o plano estava à altura da ameaça. Agora sabemos que tínhamos o plano errado".
Michael Stenger, responsável pela segurança do Senado, que também pediu demissão após os eventos de 6 de janeiro, disse: "Esse foi um ataque violento e coordenado, no qual a perda de vidas humanas poderia ter sido muito pior".
Steven Sund, ex-chefe da Polícia do Capitólio, disse que soube apenas nesta semana sobre um memorando do FBI (a polícia federal americana) enviado um dia antes dos tumultos que alertava sobre os potenciais atos de violência. Sund afirmou que o memorando chegou ao seu departamento antes do ataque, mas que ele e outras autoridades não chegaram a vê-lo. "Esse é um relatório sobre o qual tive conhecimento apenas depois, eles me informaram ontem sobre o relatório", disse Sund sobre o documento, que foi divulgado pelo Washington Post em 12 de janeiro.
O FBI enviou à unidade de inteligência da Polícia do Capitólio, em 5 de janeiro, um relatório com o alerta de que extremistas estavam se preparando para viajar à capital americana e cometer atos de violência.
"Como vocês não recebem essa informação de inteligência vital na véspera do que seria um enorme evento?", questionou o senador democrata Gary Peters a Sund, que respondeu que a informação chegou como "material bruto".
Segundo o chefe da polícia do Distrito de Colúmbia, Robert Contee, o aviso foi enviado por e-mail às 19 horas do dia 5 de janeiro. No depoimento, ele afirmou que o aviso chegou como um "material bruto" e que esperaria um telefonema em ocasiões como essa para chamar a atenção para a relevância da informação enviada. "A inteligência não chegou onde precisava estar", disse Contee.
Os depoimentos foram prestados a senadores da Comissão de Segurança Doméstica e da Comissão de Regras e Administração.
Ao falar sobre a visão dos agentes a respeito de supremacistas brancos e extremistas, Sund disse aos parlamentares: "Olhem para toda a comunidade de inteligência e a visão que eles têm". O senador democrata Gary Peters, presidente da Comissão de Segurança Interna, prometeu uma investigação sobre agências de segurança nacional, com atenção ao terrorismo doméstico. As agências, segundo o senador, são "basicamente construídas para responder a ataques terroristas estrangeiros" e "têm demorado a se adaptar a essa ameaça crescente de terrorismo doméstico que vimos nos últimos anos".
Demora nos reforços
Tanto Sund como Contee afirmaram que o Pentágono demorou a enviar ajuda, mesmo depois do pedido dos policiais responsáveis pela segurança do prédio do Congresso no dia. Segundo eles, em uma ligação na tarde do dia 6, um general do Pentágono teria se declarado contrário ao envio de tropas ao Congresso, preocupado com a imagem que isso passaria à população.
Os dois disseram ter relatado que os policiais no local estavam desesperados, cercados e haviam sido espancados pelos invasores. "Quase duas horas depois, não tínhamos ainda recebido autorização do Pentágono para ativar a Guarda Nacional", disse Sund. Ambos foram criticados nos dias posteriores à invasão, por não terem evitado o ato.
Há contradição nos detalhes da linha do tempo oferecida pelos quatro oficiais e na versão apresentada pelo Pentágono, em janeiro. Senadores democratas pediram que agentes do Pentágono sejam convocados para depor na próxima semana, para responder a alegações de que retardaram o apoio da Guarda Nacional.
O ataque ao Capitólio é investigado criminalmente pelo FBI e motivou o segundo impeachment contra o ex-presidente Donald Trump, que acabou absolvido graças à proteção da maioria dos senadores do seu partido.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura
Deixe sua opinião