O presidente da Argentina, Alberto Fernández, afirmou nesta terça-feira (6) que a solução para os problemas do Mercosul “não é cada um fazer a sua” [solução] e pediu aos países-membros que “respeitem as regras” do bloco.
No âmbito da Cúpula de Presidentes do Mercosul, realizada em Montevidéu e na qual a Argentina assume a presidência temporária do bloco que integra com Brasil, Paraguai e Uruguai, Fernández seguiu o padrão estabelecido por seu homólogo uruguaio, Luis Lacalle Pou, de “ser sincero” e expôs sua visão sobre as tensões entre os sócios.
“Me importa mais fazer comércio com o Brasil, me importa muito mais comprar mais do Uruguai do que comprar de países de fora da zona, me importa mais comprar do Paraguai, de Bolívia, Chile, Colômbia, do que de países fora da zona e é isso que, de qualquer forma, temos que sentar para discutir, não ver como cada um pode tomar seu próprio impulso”, comentou.
Fernández, que iniciou seu discurso com uma alusão aos “tempos complexos” que o mundo vive como resultado da pandemia e da guerra entre Rússia e Ucrânia, também disse que os problemas que afligem o bloco se devem ao fato de que não foram resolvidas as “assimetrias” entre seus parceiros, que, em sua opinião, é o que “preocupa” Uruguai e Paraguai.
Além disso, em reunião marcada pelo recente alerta que Argentina, Brasil e Paraguai fizeram ao Uruguai ao saber que este país solicitou formalmente sua adesão ao Acordo Abrangente e Progressivo para a Parceria Transpacífica (CPTPP), o presidente argentino convidou o Uruguai a respeitar as regras do bloco por meio de uma metáfora futebolística.
“Não é possível o marcador central segurar a bola com a mão dentro da área porque isso é pênalti, você pode me dizer, ‘Mas é assim que tenho de jogar futebol’, mas não é assim que funciona”, declarou, para depois ressaltar que as regras do Mercosul dizem que não se pode negociar com terceiros sem consenso.
Por outro lado, o presidente argentino, que citou o escritor uruguaio Mario Benedetti com a frase “devemos nos encorajar a ter a coragem de ser diferentes”, frisou que os países do sul têm em seus alimentos e em sua energia “o que o mundo precisa” e afirmou que acredita ser viável a criação de um Banco Central comum, bem como a negociação de um acordo com os Estados Unidos.
Sobre o acordo assinado com a União Europeia (UE), pendente de ratificação devido a novas exigências europeias, opinou que este deve ser “digno para o Mercosul” e que não se concretizará se “um ganhar e o outro perder”.
“Podemos continuar culpando o fato de não tratarem bem a Amazônia, mas a verdade é que na Europa existem países protecionistas que o que não querem é que entrem nossa carne, nossos grãos e nossos alimentos, não nos iludamos mais”, destacou.
Por fim, Fernández declarou que, em um continente historicamente afetado pela “divisão”, o Mercosul foi preservado por 31 anos, o que “tem um valor incalculável”.
“Terá que fazer correções [...], mas não vamos perder de vista que somos a região que se institucionalizou e mais perdurou na América Latina e isso não é pouco, é muito”, concluiu.
Uruguai diz não querer “ficar para trás”
Já Lacalle Pou alegou que seu país “precisa e tem vocação para se abrir ao mundo”. “Claro que, se formos em grupo, é muito melhor. Claro que, se oferecermos ao mundo um mercado como o dos quatro países, teremos um poder de negociação muito maior. É isso que buscamos”, disse o presidente uruguaio em seu discurso.
Lacalle Pou também destacou que o Uruguai conversou bilateralmente com todos os países e que não está disposto a ficar parado, porque quem o faz “fica para trás”.
Nesse sentido, reiterou que está negociando com a China para poder firmar um acordo de livre-comércio e indicou que, quando chegar a essa instância, olhará para o lado para encorajar Argentina, Brasil e Paraguai a seguirem seus passos.
“Vamos seguir em frente, o Uruguai está fazendo isso. Neste momento olhará para os lados para dizer aos países: vamos todos juntos. Vamos esperar que Argentina, Brasil e Paraguai estejam determinados e preparados para isso”, acrescentou.
Por outro lado, Lacalle Pou - que antes de iniciar seu discurso desejou sorte à Argentina e ao Brasil nas quartas de final da Copa do Mundo do Catar - disse que “muitas hipóteses foram geradas de que esta reunião do Mercosul iria causar mais conflitos do que acordos”.
“Tenho a certeza que ninguém apanhou um avião para vir hoje ao nosso país para gerar mais conflitos. Tenho a certeza que todos vieram à procura de uma virada, como se diz no nosso país”, comentou.
“Aqui não se trata de ruptura, parece-me que nossa conversa sobre ruptura deve ser retirada do imaginário coletivo. Aqui se trata de resolver tensões”, completou.
Por fim, Lacalle Pou falou sobre o acordo entre o Mercosul e a União Europeia e disse que “não é grave” que se demore 25 anos para assiná-lo.
Nesse sentido, reafirmou que o Uruguai pretende “continuar ampliando” as possibilidades do bloco.
Além de Lacalle Pou e Fernández, esteve presente o presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, enquanto o Brasil esteve representado pelo vice-presidente Hamilton Mourão.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Em rota contra Musk, Lula amplia laços com a China e fecha acordo com concorrente da Starlink
Deixe sua opinião