Um dos focos da atual crise migratória nas Américas, a Selva de Darién, localizada entre a Colômbia e o Panamá, voltou a ser motivo de preocupação internacional após alguns meses de queda no número de migrantes sul-americanos e de outros continentes que atravessam a região para seguir em direção aos Estados Unidos.
Dados do Ministério da Segurança do Panamá, divulgados pela agência Associated Press, apontaram que entre janeiro e 7 de outubro 277.939 migrantes passaram por Darién, uma queda de 36% em comparação com o mesmo período em 2023.
Entretanto, em setembro, 25.111 migrantes atravessaram a selva (mais de 80% deles venezuelanos), um aumento de 51% em relação a agosto.
Darién é considerada a selva mais perigosa do mundo porque, além dos riscos naturais da região, o chamado Darién Gap (região da selva em que a Rodovia Pan-Americana é interrompida) é controlado pelo crime organizado, que fatura centenas de milhões de dólares por meio de cobranças pela travessia e extorsões.
Além disso, grupos armados costumam assaltar migrantes que passam por Darién a caminho dos Estados Unidos, e assassinatos, sequestros e estupros são frequentes.
Em 2023, foi registrado um número recorde de migrantes atravessando a selva, 520.085 pessoas, sendo que mais da metade (328.650 pessoas) foram venezuelanos tentando fugir da crise econômica, social e humanitária gerada pelo chavismo.
Um relatório da ONG Refugees International apontou que o momento político da Venezuela está puxando a nova onda migratória na selva.
“Apesar de uma breve redução neste verão [no hemisfério norte], provavelmente devido à postura anti-imigração do novo governo panamenho e às eleições na Venezuela, os números em Darién estão aumentando novamente”, destacou a organização.
“A repressão após a eleição de 28 de julho de 2024 na Venezuela já levou a um aumento na emigração, o que é notável, pois os venezuelanos atualmente [já] constituem a maioria dos que transitam por Darién”, afirmou a Refugees International.
A repressão após a fraude eleitoral na Venezuela, que deu ao ditador Nicolás Maduro uma “vitória” que apenas ditaduras parceiras reconheceram, deixou ao menos 27 mortos e resultou na prisão de aproximadamente 1,8 mil pessoas.
O novo presidente do Panamá, José Raúl Mulino, que tomou posse em 1º de julho, foi eleito com a promessa de “fechar” Darién.
Logo no início do seu mandato, Mulino assinou um acordo com os Estados Unidos, para Washington financiar um programa de voos para repatriar migrantes que entram ilegalmente no Panamá, o que já resultou na deportação de quase 500 pessoas para Colômbia, Equador e Índia.
A Venezuela não entrou no programa porque Mulino suspendeu relações diplomáticas com Caracas devido à fraude eleitoral no país vizinho.
A nova gestão panamenha também conversou com o governo da Colômbia sobre reforçar a segurança na fronteira entre os dois países, mas após Mulino fechar cinco rotas de migração no Darién Gap e aumentar o patrulhamento na costa caribenha, o presidente colombiano, Gustavo Petro, afirmou que esta medida poderia aumentar os casos de afogamentos no mar.
A Refugees International afirmou, entretanto, que o chavismo gera uma pressão migratória tão grande que por ora não há perspectiva de frear esse movimento de forma sustentada.
“Medidas de fiscalização e a retórica do governo do Panamá podem ter temporariamente freado a migração para o Panamá, mas não a longo prazo”, destacou.
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