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Além da imigração e da crise econômica, um dos temas centrais na campanha das eleições gerais antecipadas na Alemanha, que serão realizadas no próximo domingo (23), é o gasto do país com segurança.
Maior economia da Europa, a Alemanha vinha sendo cobrada para cumprir a meta entre os países da Otan de investir ao menos 2% do seu PIB em defesa. A guerra da Ucrânia foi o ponto de virada para que finalmente ocorresse o despertar alemão.
Segundo o estudo anual sobre o orçamento militar de cada país realizado pelo think tank britânico Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS, na sigla em inglês), em 2021, ano anterior à invasão do território ucraniano pela Rússia, a Alemanha teve apenas o quarto maior gasto com defesa entre os países da Otan, atrás de Estados Unidos, Reino Unido e França.
O relatório mais recente do IISS, divulgado na semana passada, mostrou que em 2024 os alemães ficaram em segundo lugar, com um gasto em defesa que somou US$ 86 bilhões. Foi um salto de 23,2% em termos reais em relação a 2023.
Com os alemães finalmente atingindo a meta de gastar ao menos 2% do PIB em defesa, os grandes partidos da eleição do próximo domingo concordam que esse esforço não pode parar por aí.
O presidente americano, Donald Trump, vem defendendo agora que todos os países da Otan invistam ao menos 5% do PIB em gastos militares. Essa cobrança e a decisão do republicano de deixar os europeus de lado nas negociações com a Rússia sobre o fim da guerra na Ucrânia são um recado claro: virem-se sozinhos, não dependam mais dos americanos para garantir sua segurança.
Em 2022, poucos meses após o início do conflito no leste europeu, o Bundestag, o Parlamento alemão, aprovou a criação de um fundo especial, com uma autorização de crédito própria, para a soma de até 100 bilhões de euros (quase US$ 105 bilhões) em defesa.
Segundo reportagem da DW, o atual chanceler Olaf Scholz, do Partido Social-Democrata (SPD, na sigla em alemão), que está em terceiro lugar nas pesquisas para a eleição de domingo, vem afirmando que o fundo especial foi “um grande sucesso” e que pretende seguir expandindo os investimentos militares, mas que não pretende fazê-lo à custa de cortes em benefícios sociais.
Friedrich Merz, do conservador União (CDU/CSU), partido líder nas pesquisas, afirmou num debate na semana passada que a Alemanha elevará os gastos militares a 3% do PIB caso ele lidere o novo governo.
Para isso, ele quer alterar as regras de endividamento do país: hoje, o déficit orçamentário pode chegar no máximo a 0,35% do PIB alemão.
Por sua vez, Alice Weidel, do partido de direita nacionalista Alternativa para a Alemanha (AfD), segundo colocado nas pesquisas, disse em entrevista ao site da revista The American Conservative que os gastos alemães com defesa não precisam apenas aumentar, mas também ganhar eficiência.
“Provavelmente, temos as forças armadas mais ineficientes do mundo. Quase não importa qual país nos atacaria: seríamos derrotados por quase todos”, disparou. “Não podemos mais gastar tanto dinheiro em tão pouco.”
No ano passado, a imprensa europeia divulgou detalhes de um plano já definido pela Alemanha de mobilização e defesa caso o ditador russo, Vladimir Putin, decida expandir a guerra para outros países do continente.
Com a ampliação dos gastos militares sendo uma unanimidade entre os principais partidos alemães, a estratégia a ser adotada será escolhida no próximo fim de semana.