A confiança da população no governo japonês enfrenta seu maior teste desde a Segunda Guerra Mundial, enquanto o país enfrenta uma crise nuclear. A preocupação é de que uma quebra na confiança alimente o pânico e o caos, se os apelos por calma forem ignorados.
Os estrangeiros estão deixando Tóquio ou têm permanecido em locais fechados. As prateleiras dos supermercados estão esvaziando, apesar de as autoridades garantirem aos cidadãos que não há necessidade de entrar em pânico com a crise que se desenvolve numa usina nuclear atingida pelo terremoto.
O governo do primeiro-ministro Naoto Kan já era impopular antes dos desastres.
"Esse governo é inútil", disse Masako Kitajima, funcionária de um escritório de Tóquio, com cerca de 50 anos. Os níveis de radiação aumentaram na cidade de aproximadamente 12 milhões de habitantes, situada mais de 200 quilômetros ao sul da usina nuclear, onde as autoridades tentam evitar um desastre.
O morador de Tóquio Masashi Yoshida, de 53 anos, concorda.
Quando questionado sobre a sua avaliação sobre o desempenho do governo, respondeu: "É horrível."
"Eles têm dado informações muito tarde. Eles deveriam ter consultado outros países e especialistas. Eles tentaram muito fazer tudo sozinhos. Acho que eles próprios entraram em pânico e não conseguiam pensar direito. O Japão estaria melhor se ficássemos sem políticos por 10 anos."
Até mesmo o prefeito de uma cidade próxima ao complexo nuclear Fukushima Daiichi reclamou que o governo não tem mantido o seu gabinete atualizado sobre a situação.
"Temos pedido à província e ao governo para que nos dêem informações rapidamente, mas temos tido de tirar informações à força," afirmou Katsunobu Sakurai, prefeito de Minamisoma.
A confiança da população no governo e nas autoridades nucleares é essencial para evitar o pânico desnecessário, disseram especialistas.
"É uma questão de legitimidade e de quanto você acredita na organização", disse o professor Steven Reed, da Chuo University.
"Significa que as pessoas não necessariamente cooperam quando o governo pede que façam algo."
Alguns meios de comunicação locais também começaram a adotar um tom crítico ao governo e em especial à proprietária da usina nuclear afetada, a Tokyo Electric Power Co, por não manterem a população bem informada sobre a situação.
As autoridades da Tokyo Electric deram várias entrevistas coletivas, mas falam rápido e usam termos que vão além do que as pessoas comuns costumam usar.
"Informação é a essência do controle de crises", disse um editorial do jornal Mainichi, ressaltando a precária coordenação entre primeiro-ministro, autoridades de segurança nuclear e a Tokyo Electric.
"Baseado em informações em tempo real, é vital para o governo se unir a especialistas em energia nuclear e radiação, a gerenciadores de crises e especialistas em relações públicas e em comunicações sobre risco para trabalhar para tornar as informações disponíveis."
- Lupi minimiza impacto do terremoto japonês sobre Brasil
- Após crise no Japão, Rússia vai rever planos nucleares
- Novo terremoto atinge o Japão, diz centro dos EUA
- Medo de radiação causa pânico e provoca fuga de Tóquio
- Já chega a 3.373 o total de mortos no Japão, diz polícia
- Índice de radiação diminui em usina nuclear do Japão, diz AIEA
Deixe sua opinião