Um dia depois de representantes do Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos terem chegado a Honduras, o governo de fato de Roberto Micheletti publicou ontem a revogação oficial do estado de sítio no país. A medida de exceção havia sido imposta no último dia 22, logo depois de o presidente deposto Manuel Zelaya ter retornado clandestinamente ao país. Com o recuo, a Rádio Globo uma das principais vozes zelaystas, que havia sido fechada por policiais e militares voltou ao ar pela manhã.
Micheletti havia prometido no dia 5 revogar o estado de emergência, mas a medida só foi publicada ontem no Diário Oficial. Segundo o governo de fato, a impressora que seria usada estava "com problemas".
"Aproveitamos a presença da ONU para reabrir", afirmou David Romero, diretor da Rádio Globo. Embora comemore o reinício das atividades, Romero admite que a rádio estará submetida a uma espécie de autocensura. "Pedimos a todos que evitem adjetivos qualificativos, palavras grosseiras e qualquer tipo de violência verbal."
Um decreto adicional que fora publicado pelo governo de fato há oito dias, segundo o qual empresas de comunicação que "incitarem a anarquia" terão licenças caçadas, ainda ameaça veículos pró-Zelaya. Essa medida continua em vigor.
O equipamento da Rádio Globo confiscado por militares e policiais no dia 22 até agora não foi devolvido. "Estamos na Justiça atrás disso", disse Romero.
Além da rádio, o Canal 36 de televisão, também amplamente favorável a Zelaya, havia sido alvo de uma operação. A emissora, entretanto, prometia retomar as transmissões somente ontem à noite.
A maior parte da imprensa hondurenha apoia o golpe contra Zelaya e as medidas de exceção do governo de fato. Desde a classificação de Honduras para a Copa de 2010, a interminável disputa política deixou as principais páginas do noticiário nacional.
Apesar de o estado de sítio estar tecnicamente suspenso, manifestantes pró-Zelaya continuaram ontem a evitar marchar pelas ruas de Tegucigalpa.