O risco político ainda não representa uma ameaça à segurança do Haiti, mas a situação permanece "extremamente frágil" e inviabiliza previsões sobre a retirada das forças de paz, disse o comandante das tropas da ONU no país, o general brasileiro Floriano Peixoto Vieira Neto.
Na sexta-feira, o presidente haitiano René Préval nomeou o economista Jean Max Bellerive para o cargo de primeiro-ministro. Bellerive substitui Michelle Pierre-Louis, destituída no mesmo dia pelo Senado após um mandato de fraco desempenho, especialmente na recuperação econômica do país mais pobre das Américas.
A rápida indicação atendeu aos apelos da missão da Organização das Nações Unidas (ONU) no país, a Minustah, que via o risco de um retorno a um "período de instabilidade".
"A situação está absolutamente sob controle", afirmou o general em entrevista à Reuters, por telefone. "Entretanto, os ganhos que nós alcançamos na segurança não correspondem ao esperado avanço socioeconômico do país, e por isso nós dizemos que a situação do Haiti ainda é extremamente frágil."
O país sofre, por exemplo, com o fornecimento irregular de energia elétrica, com constantes blecautes mesmo na capital, Porto Príncipe. No ano passado, protestos contra o aumento do custo de vida causaram a morte de pelo menos cinco pessoas.
"A situação pode mudar subitamente", alertou Peixoto.
Por causa da fragilidade do país, a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti não tem uma prazo estipulado para o seu término ou mesmo para uma mudança de formato, segundo o general.
A Minustah, que reúne iniciativas civis e militares, é presidida pelo tunisiano Hédi Annabi e tem o Brasil no comando das tropas.
No mês passado, o Conselho de Segurança da ONU aprovou a renovação do mandato da missão até outubro de 2010, com cerca de 7 mil soldados e pouco mais de 2 mil policiais. A intervenção militar foi iniciada em 2004 após a queda do então presidente Jean-Bertrand Aristide em meio a uma revolta armada.
O país prepara eleições para o próximo ano, mas o general brasileiro não vê a realização do pleito como uma ameaça à continuidade da missão. "Não há indicadores hoje que permitam assegurar, ou no mínimo estimar, que o resultado das eleições aqui no Haiti tenham alguma interferência ou venham a definir o curso da missão de paz", defendeu.
Esforço de recuperação
O Haiti ocupa o 149º lugar no ranking de desenvolvimento humano (IDH) da ONU, com 182 países. O crescimento econômico do país, que para o Fundo Monetário Internacional (FMI) deve ficar em apenas 2 por cento no ano fiscal de 2009, foi continuamente castigado no passado pela instabilidade social e política.
Floriano Peixoto afirmou, no entanto, que o trabalho das forças de paz "por si só já permite uma condição de estabilidade de forma que agências nacionais e internacionais se sintam estimuladas a participar do esforço de recuperação do país".
Em maio deste ano, a ONU nomeou o ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton como enviado especial ao país, com o objetivo de atrair mais investimentos ao Haiti. No começo de outubro, ele havia surpreendido investidores ao dizer que o país vivia o momento de menor risco político de sua história.
O Brasil participa de várias iniciativas, como a construção de uma hidrelétrica. O general afirmou, porém, que os projetos executados pelos batalhões de engenharia do Exército brasileiro são realizados primordialmente com fins militares, e não diplomáticos ou civis.
Nesses casos, os benefícios para a população local são indiretos, segundo ele. "Quando você conserta uma estrada para uma tropa passar, para assegurar mobilidade, isso fica também para utilização da comunidade."
Haiti x Rio
O general, que afirmou ter "o melhor relacionamento possível" com organizações civis brasileiras presentes no Haiti, como a Viva Rio, disse que não há paralelo entre o Rio de Janeiro e a capital Porto Príncipe, marcada pela violência em comunidades mais pobres, como a favela de Cité Soleil.
A ação das Forças Armadas no Haiti é usada como exemplo do uso militar em conflitos urbanos, mas a eventual presença do Exército no Rio divide opiniões entre especialistas.
Nas últimas semanas, a futura sede das Olimpíadas de 2016 assistiu a uma onda de violência com confrontos entre policiais e facções criminosas rivais, que resultou em dezenas de mortos.
"Não vejo nenhuma relação", disse o general Floriano Peixoto. "Os fatores que levam a essa comparação são bastante distintos e não permitem chegar a uma conclusão que enseje qualquer tipo de raciocínio", respondeu, sem dar mais detalhes.
A Minustah, a quinta missão da ONU desde 1993 no Haiti, contabiliza 45 baixas desde o início das operações, com 25 militares mortos, sete policiais, oito funcionários estrangeiros e cinco funcionários locais, segundo dados publicados pela missão na Internet.
O general Floriano Peixoto é o quinto militar brasileiro a comandar as Forças de Paz da ONU no Haiti. Ele ocupa o posto desde abril de 2009, mas já havia participado de contingentes anteriores do Brasil no país.
"Não vejo hoje qualquer ou quaisquer indicadores que sinalizem para o término da missão aqui", completou.
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