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Vídeo apreendido pelos EUA na casa de Bin Laden, e divulgado ontem,  mostra o líder da Al-Qaeda assistindo tevê |
Vídeo apreendido pelos EUA na casa de Bin Laden, e divulgado ontem, mostra o líder da Al-Qaeda assistindo tevê| Foto:

Segredos do líder

Governo americano divulga vídeos domésticos de Bin Laden

O governo dos EUA divulgou ontem cinco vídeos domésticos de Osama Bin Laden que foram apreendidos durante o ataque ao seu esconderijo no Paquistão pelas forças especiais da Marinha norte-americana na segunda-feira e que ajudam a mostrar, segundo um alto funcionário da inteligência, que a casa era um "centro ativo de comando e controle" da Al-Qaeda, segundo The Wall Street Journal.

"Ele estava ativamente envolvido em tramar operações e dirigir as operações diárias do grupo", disse a autoridade. Um dos vídeos, acrescentou, era intitulado "Mensagem ao Povo Americano" Neste filme, que os EUA acreditam ter sido gravado entre outubro e novembro do ano passado, Bin Laden condena os EUA e o capitalismo, disse.

Os EUA liberaram os vídeos sem som, o que torna impossível confirmar o que Bin Laden estava falando. Em um vídeo, Bin Laden aparece com barba grisalha, enrolado num cobertor e usando um controle remoto para olhar imagens de si mesmo na televisão. Em outro, a barba de Bin Laden parece ter sido pintada de preto.

Os outros vídeos mostram o que a autoridade descreveu como cenas de outros filmes que estavam aparentemente sendo trabalhados. Em um caso, bin Laden aparece diante de um armário, que os norte-americanos acreditam ser igual a um encontrado no complexo Em outro, ele está diante de uma superfície azul. Ele não aparece armado em nenhum dos vídeos liberados.

Os cinco filmes, que oferecem a primeira visão pública da vida de Bin Laden por trás das paredes de da casa onde foi morto num subúrbio do Paquistão, foram mostrados aos jornalistas neste sábado pelas forças de inteligência dos EUA. Segundo a Associated Press, os vídeos selecionados também ofereceram uma oportunidade para o governo norte-americano apresentar Bin Laden sob uma luz pouco lisonjeira para seus apoiadores.

Os vídeos incluem cenas de seus filmes de propaganda e, em conjunto, o mostram como alguém obcecado com a própria imagem e em como ele era retratado para o mundo.

  • Imagens de Bin Laden em outros três vídeos apreendidos pelas forças dos EUA na casa do terrorista

O material de inteligência en­­contrado na operação que matou o líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden, contém o que pode ser chamado de "testamento" do extremista, não só com ordens pa­­ra sua sucessão na rede, mas também determinações para entidades irmãs e cronogramas para células terroristas adormecidas na Europa começarem a agir.

O ex-desembargador e presidente do Instituto Brasileiro Gio­­vanni Falcone de Ciências Cri­­minais, Walter Maierovitch, diz que, após a notícia da apreensão do material na casa onde estava Bin Laden, "muita gente já se mexeu" – referindo-se a lideranças extremistas que podem ter mudado de endereço, temendo prisões –, o que deve resultar em uma desarticulação no grupo, sobretudo em um primeiro mo­­mento. Além disso, as informações podem apontar financiadores e também laranjas que em­­prestam seus nomes para transações ilegais.

A primeira destas informações encontradas na casa já foi divulgada pela espionagem americana: na quinta-feira, foi revelado que a Al-Qaeda estudava um grande atentado contra a rede ferroviária dos EUA em 11 de se­­tembro deste ano, para marcar os dez anos dos atentados a Nova York e Washington.

Maierovitch destaca o perfil descentralizado da Al-Qaeda atualmente. "Eles não precisam mais de ações espetaculares. Po­­dem realizar ataques contra civis inocentes, em aeroportos, por exemplo", aponta. O jurista conta que, em conversas com membros do Serviço Europeu de Po­­lícia (Europol), soube que a Al- Qaeda coloca em operação 900 novos sites por ano, a fim de disseminar informações sobre o terrorismo. "É uma mensagem de ‘faça o terror você mesmo’", diz.

Mesmo com essa descentralização, as informações obtidas pelas agências de espionagem dos EUA poderão gerar um ataque mais concentrado à Al- Qaeda, afirma Heni Ozi Cukier, professor de Relações Inter­­na­­cionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) na capital paulista. "Bin Laden e o grupo que estava na casa não tinham conexão à internet e nem telefone. Mas o comando norte-americano que invadiu a casa apreendeu dados que estavam sob o poder dos extremistas", afirma.

Franquias e subsidiárias

Cukier diz que a Al-Qaeda conseguiu se expandir através das suas "franquias" e subsidiárias, não só no Norte da África, no Iêmen, na África Subsaariana e na Ásia Central, como também no Oci­­dente. "O terror e a narrativa de destruição da Al-Qaeda não seduziram o mundo árabe. O fato é que em 10 anos, de 2001 a 2011, os árabes estão mais preocupados em construir ou reconstruir os seus países", afirma. O terror, em consequência, pode crescer em áreas periféricas ao mundo árabe e à Europa, como o Cáucaso, e na própria Europa, entre desempregados deslocados, às vezes muçulmanos, em uma sociedade pós-capitalista em crise.

Cukier não acredita que surja outro líder da Jihad tão carismático como Bin Laden.

"O Bin Laden era um ícone, que também representou uma época. Dificil­­mente surgirá ou­­tra figura tão popular quanto ele", diz. "Com sua morte, a capacidade de financiamento da Al- Qaeda será afetada, embora não a parte operacional, que já não estava sob o comando dele há alguns anos."

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