O presidente da Argentina, Javier Milei, anunciou que não viajará para a Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul, marcada para a próxima segunda-feira (8) em Assunção, no Paraguai.
A decisão foi tomada após o conflito com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, contra quem reiterou acusações de ser “corrupto” e “comunista”, como resposta à exigência de um “pedido de desculpas” feita pelo petista.
No entanto, o porta-voz da presidência argentina, Manuel Adorni, confirmou que o chefe de Estado argentino irá ao Brasil no final de semana, 6 e 7 de julho, para participar de um evento conservador ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro.
O encontro entre os líderes libertário e conservador acontecerá em Balneário Camboriú, Santa Catarina, no âmbito da Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), evento organizado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) que teve sua primeira edição brasileira realizada em São Paulo em 2019.
Entre os palestrantes confirmados, estão outros representantes da direita da América Latina, como o mexicano Eduardo Verástegui e o chileno José Kast.
Apesar dos boatos indicarem que o libertário teria desistido de comparecer à Cúpula do Mercosul para não se encontrar com Lula, após a troca de farpas da semana passada, Adorni afirmou em coletiva de imprensa que o cancelamento se deve “a questões de agenda”.
A confirmação da presença do mandatário argentino no CPAC, que será realizado um dia antes da reunião da cúpula do Mercosul, ocorre poucas semanas depois de o Brasil solicitar à Argentina uma lista de investigados pelo 8 de janeiro que teriam dado entrada no país em busca de asilo político.
Queda de braço
“As coisas que eu disse são verdadeiras. Qual é o problema? Que eu o chamei de corrupto? E ele não foi preso por ser corrupto? E que eu o chamei de comunista? E ele não é comunista? Desde quando você tem que se desculpar por dizer a verdade? Ou estamos tão doentes de correção política que nada pode ser dito à esquerda, mesmo que seja verdade?”, afirmou o presidente argentino, em uma entrevista na semana passada.
As declarações de Milei referem-se a falas anteriores de Lula, que em entrevista ao UOL explicou o motivo pelo qual não trocou palavras com o libertário durante a reunião do G7 na Itália no mês passado.
“Não falei com o presidente da Argentina porque acho que ele deveria pedir desculpas ao Brasil e a mim. Ele disse um monte de bobagens. Eu só quero que ele peça desculpas. Eu amo a Argentina, é um país que gosto muito, é um país muito importante para o Brasil, e o Brasil é muito importante para a Argentina. Não é um presidente da República que vai criar discórdia entre Brasil e Argentina”, disse o petista.
Uma das primeiras declarações de Milei sobre o petista ocorreu em outubro de 2022, durante entrevista ao canal TN, quando criticou o partido peronista Juntos pela Mudança por ter parabenizado Lula pela vitória eleitoral.
“Parabenizei o Bolsonaro pela excelente eleição que fez e claramente não vou parabenizar o Lula (...). Lula representa um dos maiores expoentes do Foro de São Paulo. Quando dizem que Lula é moderado, não entendem o que está acontecendo. Seu discurso é violentamente socialista e lamento muito que o povo brasileiro tenha recaído no socialismo do século XXI”, disse o libertário à época.
Durante a campanha eleitoral argentina, Milei acusou Lula de ter financiado uma campanha “suja” contra ele. Na época, o mandatário brasileiro também enviou um grupo de marqueteiros para ajudar o candidato peronista Sergio Massa.
“O pessoal do Bolsonaro tem alertado que Lula está fazendo manobras para financiar esta campanha negativa contra mim”, disse ele ao escritor peruano Jaime Bayly.
Milei também definiu Lula como “um comunista”, disse que era “muito corrupto” e que “por isso ele foi preso”.
Ele enfatizou que se fosse presidente não pretendia se encontrar com o líder brasileiro. “As pessoas físicas poderão realizar transações comerciais com quem quiserem. Da minha posição como chefe de Estado, os meus aliados são Israel, os Estados Unidos e o mundo livre”, afirmou.
Em entrevista ao jornalista americano Tucker Carlson, o economista afirmou ser “um defensor da liberdade, da paz e da democracia”.
“Os comunistas não entram lá. Os chineses não entram lá. [O ditador russo, Vladimir] Putin não entra lá. Lula não entra lá. Isto é, queremos ser o farol moral do continente, queremos ser os defensores da liberdade, da democracia, da diversidade e da paz. Do Estado não vamos promover nenhum tipo de ação com comunistas ou socialistas. Se os argentinos querem negociar com a China, com a Rússia ou com o Brasil, isso é um problema dos argentinos”, afirmou.
Desde que assumiu o poder, Milei convidou Bolsonaro para sua posse com tratamento de chefe de Estado. Apesar de também ter enviado um convite formal a Lula, o petista recusou e enviou o chanceler Mauro Vieira como representante do governo brasileiro.
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