Durante doze horas, quase todos os dias, o sargento Khin Myint Maung está a postos em um dos cruzamentos mais caóticos dessa cidade permanentemente engarrafada, desatando os nós do trânsito com paciência e um bom humor inabalável.
Só isso talvez não fosse suficiente para ser considerado o Herói do Ano por um jornal local, ter levado o título de "oficial exemplar" da polícia de Yangon, nem o de "herói da vida real" de uma fundação alemã.
No entanto, o rapaz de 26 anos ganhou todos esses prêmios, ficando famoso graças simplesmente ao boca a boca. É quase impossível achar um taxista em Yangon que não elogie a habilidade do sargento em dirigir o tráfego até na pior das tempestades e no calor de rachar.
"Nós adoraaaamos ele. Não há ninguém igual", grita U Nay Win Hlaing, um motorista de táxi de 37 anos.
O surgimento dos congestionamentos monstros talvez seja o sinal mais evidente de que, depois de cinco décadas de um regime militar de clausura, Mianmar finalmente se abriu para o mundo: em apenas três anos, o número de carros registrados dobrou, chegando a 400 mil.
Os homens uniformizados ainda são, no geral, temidos e desprezados em Mianmar, mas o sargento Khin Myint Maung conquistou o coração de legiões de motoristas, que vivam mal-humorados, mas que hoje descem o vidro para lhe entregar garrafas de água gelada e guloseimas. Há quem lhe dê dinheiro, gesto que é considerado mostra de gratidão.
A popularidade do oficial não é um voto de confiança na polícia de trânsito, famosa por irritar os motoristas, nem é aprovação do novo governo, composto, na grande maioria, por remanescentes do regime militar; seus fãs explicam que, no reconhecimento, também está a crítica implícita ao resto da corporação e à burocracia.
"Nunca antes a gente pôde contar que um funcionário público fizesse seu trabalho direito; e aqui temos um verdadeiro exemplo de profissionalismo", diz o colunista U Pe Myint.
Há cinco anos, a maior parte dos carros era tão velha e dilapidada que o trânsito do centro parecia um ferro-velho ambulante; banheiras de 40 anos despejavam óleo no asfalto e, nos dias de chuva, os passageiros tinham que tapar os buracos do piso dos táxis com os pés para evitar que o carro fosse inundado.
Até que, três anos atrás, o governo suspendeu as restrições à importação de veículos e nasceu a cultura do carro. O próprio sargento hoje dirige, para trabalhar, um utilitário que parece largo demais para as ruas de Rangum.
Ele recebe um salário equivalente a US$150/mês, o que pode lhe render um carro semelhante no fim da carreira se economizar cada centavo. O terceiro de cinco filhos de uma família de plantadores de arroz, ele não demonstra nenhum ressentimento aos ricaços que vê na rua só uma dose de fatalismo budista.
"Os ricos são ricos porque fizeram muitas coisas boas nas vidas passadas. Cada um tem seu lugar", afirma.
Quando recebeu o prêmio do jornal, em 2012, teve que subir ao palco do salão enorme de um hotel. "Ele simplesmente disse Obrigado. E sorriu, é claro", conta Daw Nyein Nyein Naing, editor executivo do 7 Day News Journal, que lhe entregou a honraria.