O regime chinês segue escondendo informações oficiais sobre o impacto da Covid-19 no país. O mais recente caso ocorreu este mês, quando autoridades chinesas decidiram apagar dos registros oficiais um relatório que apontava um aumento significativo no número de corpos que foram cremados no primeiro trimestre deste ano na província de Zhejiang, localizada no leste do país.
De acordo com o relatório, que antes de desaparecer havia sido divulgado pelo jornal chinês Caixin, o número de cremações na província chegou a 171 mil pessoas nos três primeiros meses do ano. Esse número representa um aumento de quase 73% em comparação ao mesmo período do ano passado, quando foram registradas 99 mil cremações na província.
A decisão de restringir o acesso a informações atualizadas pode estar relacionada ao aumento recente do número de casos de Covid-19 que vem ocorrendo em algumas províncias chinesas e possivelmente aumentando o número de mortes e cremações.
O relatório acumulando os dados trimestrais foi o primeiro divulgado pelas autoridades chinesas logo após o fim da política de “Covid Zero” – encerrada após muitos protestos em dezembro do ano passado. A política de medidas sanitárias rígidas havia sido instalada pelo regime chinês com o objetivo de “controlar as infecções e acabar com a Covid-19 no país”.
Segundo uma matéria da Bloomberg, logo após a queda das restrições na China, uma nova onda de Covid-19 atingiu em cheio a população. O número de casos aumentou significativamente e atingiu seu pico em janeiro deste ano. Um funcionário da administração de Zhejiang afirmou de forma anônima à Caixin que os dados divulgados no relatório pelas autoridades locais eram verídicos e que o aumento das cremações na província estava diretamente ligado ao aumento do número de mortos por Covid-19 na região.
Desde o início da pandemia de coronavírus, o regime de Xi Jinping não fornece informações precisas sobre como a Covid-19 está atingindo seus cidadãos. Da mesma forma, não há como saber ao certo quantas pessoas foram vitimadas pela doença desde o fim da política de “Covid Zero”.
Inicialmente, o regime chinês afirmou que nas cinco primeiras semanas após o fim da política houve apenas 60 mil mortes relacionadas ao coronavírus no país.
Mas, contrariando os dados divulgados pelas autoridades chinesas, uma estimativa divulgada em janeiro por Zuo-Feng Zhang, presidente do Departamento de Epidemiologia da Escola Fielding de Saúde Pública da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, apontou que o número de mortes logo após essas cinco primeiras semanas não foi de somente 60 mil, mas sim de 900 mil óbitos.
A maior parte das pessoas que morrem na China é cremada; por esse motivo, os dados sobre cremação são considerados um indicador-chave da mortalidade no país. A situação levanta questionamentos sobre a transparência e a credibilidade das autoridades chinesas, que continuam a todo custo realizando um grande esforço para ocultar ou minimizar a gravidade de uma possível nova crise sanitária.
A China alcançou uma alta taxa de vacinação na população em geral antes de acabar com as restrições. No entanto, a taxa de vacinação entre os idosos foi relativamente baixa. Além disso, as vacinas usadas na China são menos eficazes contra as novas variantes da Covid-19.
Os dados pouco confiáveis sobre o impacto da Covid-19 na população chinesa têm sido comuns desde o início da pandemia. Nos primeiros surtos da doença, em 2019 e 2020, o regime de Xi chegou a afirmar que apenas 5 mil pessoas teriam morrido vítimas da Covid-19 na cidade de Wuhan e na província de Hubei.
Uma matéria publicada pelo jornal britânico Financial Times confirmou a informação da Bloomberg, afirmando que, desde o fim da política de “Covid Zero”, os hospitais chineses têm ficado cada vez mais lotados de pacientes diagnosticados com coronavírus. Ainda segundo o jornal, as autoridades de Pequim ordenaram aos governos locais que parassem de indicar a causa da morte como sendo Covid-19 nos atestados de óbito e que passassem a limitar o número de casos relatados da doença.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) criticou em janeiro a falta de transparência do regime chinês na publicação de dados oficiais sobre a Covid-19. A crítica da organização, no entanto, foi recebida sem muita preocupação por Pequim, que se “comprometeu” naquele momento a lançar informações atualizadas sobre a doença no país, mas segue ocultando informações acerca do coronavírus.
Willy Lam, membro sênior da think tank The Jamestown Foundation, afirmou ao Financial Times que “em 8 de dezembro, Xi decidiu suspender todos os controles da Covid sem preparação, uma das principais razões pelas quais tantas pessoas morreram”.
Para Lam, a publicação de dados reais sobre o aumento das mortes por Covid-19 na China ajudaria os pesquisadores a traçar um plano que poderia evitar novas tragédias. Porém, segundo ele, isso “afetaria a posição de Xi Jinping e mostraria como seu governo lidou mal com o súbito fim dos controles” que envolviam a política de “Covid Zero”.
Pequim afirma atualmente que apenas 84 mil pessoas morreram na China desde o início da pandemia de Covid-19. Esse número, no entanto, pode ser desmentido unicamente pelo relatório sobre o aumento das cremações em Zhejiang. Além disso, segundo uma análise do jornal americano The New York Times, somente a nova onda de Covid-19 iniciada em dezembro de 2022 pode ter vitimado mais de 1 milhão de pessoas na China.
O epidemiologista Bem Cowling, da Universidade de Hong Kong, afirmou ao site Just The News que os dados de Zhejiang, que tem uma população estimada em 65 milhões de pessoas, podem ser usados futuramente para fazer esse recorte do real número de mortos.
“Não tenho certeza se o impacto teria sido exatamente o mesmo em todas as províncias, mas acho que seria útil para uma comparação aproximada”, disse ele.
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