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Posse nesta segunda (20)

O que esperar do segundo mandato de Donald Trump

Retrato de Trump exibido na National Portrait Gallery, em Washington, por ocasião de sua posse, que ocorrerá nesta segunda (20) (Foto: EFE/ Pari Dukovic /Instituto Smithsonian/Galería Nacional de Retratos)

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A partir das 14h de Brasília (meio-dia no horário de Washington D.C.) desta segunda-feira (20), Donald Trump assumirá um segundo mandato como presidente dos EUA, após desbancar em novembro a democrata Kamala Harris nas eleições nacionais. Confira a programação completa da posse.

A expectativa para a cerimônia é tão alta que, nos últimos dias, provocou uma verdadeira corrida para a aquisição de convites entre empresários. A contribuição de grandes corporações também atingiu níveis sem precedentes - quase US$ 400 milhões - com a esperança de melhoria na economia e em outras áreas prioritárias para o republicano, como a imigração.

Posse de Trump: confira a programação e os destaques da semana final de transiçãoNo domingo passado (12), a organização da cerimônia de posse de Trump realizou um ensaio no Capitólio. Crédito: EFE/EPA/WILL OLIVER (Foto: EFE/EPA/WILL OLIVER)

Trump defendeu nos últimos meses uma série de decretos envolvendo a segurança fronteiriça, deportações, combate a políticas woke, aplicação de tarifas nas importações, desenvolvimento energético e outros temas que integram sua nova agenda.

O escolhido para assumir a Casa Branca pelos próximos quatro anos pretende lançar muitas destas medidas já no dia de sua posse, nesta segunda-feira. Na véspera do evento de Estado, aliados de Trump afirmaram que têm preparado um conjunto de ordens executivas que o mandatário poderá assinar rapidamente sobre uma ampla gama de questões.

Planos para a imigração envolvem deportações e tarifas contra países vizinhos

Desde a campanha presidencial, Trump vem defendendo que no primeiro dia de mandato pretende declarar emergência nacional para aplicar seu projeto de deportação em massa de imigrantes ilegais localizados no território americano.

O republicano tem contado com o apoio de seus escolhidos para o governo, a fim de obter recursos federais e apoio no Congresso para tal iniciativa sair do papel.

Esse plano defende ainda a realocação de tropas militares e a conclusão do muro na fronteira EUA-México e a construção de instalações de detenção adicionais do Immigration and Customs Enforcement (ICE, na sigla em inglês), até a confirmação de deportação dos estrangeiros. Tudo isso tem um valor estimado de US$ 100 bilhões, de acordo com senadores republicanos que apoiam o pacote para a imigração.

Trump segura gráfico de números de imigração enquanto fala durante visita à fronteira sul dos EUA, no Condado de Cochise, Arizona. Crédito: EFE/EPA/ALLISON DINNER

Além disso, em novembro, o presidente eleito dos EUA anunciou a intenção de aplicar tarifas contra o México e Canadá se os países não concordarem com políticas migratórias dos EUA. Essas imposições tarifárias podem chegar a 25% sobre as importações.

“Em 20 de janeiro, como uma das minhas muitas primeiras ordens executivas, assinarei todos os documentos necessários para cobrar do México e do Canadá uma tarifa de 25% sobre TODOS os produtos que entram nos Estados Unidos e suas ridículas fronteiras abertas”, escreveu Trump na rede Truth Social, naquele mês.

Na semana passada, o Canadá respondeu que prepara uma retaliação comercial contra os EUA caso Trump imponha tarifas sobre as exportações do país vizinho, segundo anunciou a ministra das Relações Exteriores canadense, Mélanie Joly.

Durante a campanha, Trump também prometeu impor tarifas de 10% a 20% sobre produtos importados, que chegariam a 60% para importações da China.

Esses anúncios ao longo dos últimos meses contribuíram para o aumento da crise do governo liderado pelo primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, que resultaram ainda em sua queda.

Ainda sobre o assunto, Trump disse na quarta-feira ao Wall Street Journal que avalia impor tarifas para países que praticam "guerra jurídica" favorável à esquerda, como o Brasil.

Anistia aos envolvidos na invasão do Capitólio

No mês passado, o presidente eleito declarou que concederá perdão a manifestantes envolvidos na invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021. “Vamos fazer isso muito rapidamente, e vai começar na primeira hora em que eu entrar no cargo”, prometeu o republicano, enfatizando que a anistia seria destinada somente àqueles que ele considera “não violentos”.

“A vasta maioria não deveria estar presa e sofreu gravemente”, acrescentou em entrevista à revista Times, naquela ocasião.

Cerca de 1.500 presas por participação no ato foram acusadas ​​e mais de 900 foram condenadas, segundo dados da Procuradoria Distrital de Columbia, em agosto do ano passado.

A promessa não é uma novidade na campanha de Trump, que já havia deixado clara sua disposição de conceder o perdão antes mesmo de se tornar o candidato oficial do Partido Republicano.

Resolução de conflitos no âmbito internacional

Há uma expectativa alta de que o segundo mandato de Trump contribua para o fim de conflitos ao redor do mundo, como as guerras da Ucrânia e do Oriente Médio, este último conflito já avançado com um acordo de trégua recém-aprovado, que contou com pressão do presidente eleito nas negociações, por meio de seu enviado para a região, Steve Witkoff.

Desde que venceu as eleições, Trump tem reiterado seu apoio incondicional a Israel contra o grupo terrorista Hamas, que realizou um massacre dentro do país em 7 de outubro de 2023 e raptou outras centenas de pessoas, incluindo uma criança de nove meses e seu irmão de 4 anos.

O recado do republicano foi claro: “se os reféns não forem libertados antes do dia 20, data em que assumirei orgulhosamente o cargo de presidente dos EUA, o Oriente Médio e aqueles que perpetraram tantas atrocidades contra a humanidade pagarão caro”.

O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, se reúne com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, em sua primeira gestão na Casa Branca, em 2021. Crédito: EFE/EPA/MICHAEL REYNOLDS (Foto: EFE/EPA/MICHAEL REYNOLDS)

O governo Trump também está envolvido em rumores de uma resolução de conflito na Guerra da Ucrânia. Nesta semana, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, afirmou que espera "iniciativas concretas" por parte do presidente eleito dos EUA quando assumir o poder na Casa Branca.

"O presidente (ditador) Putin disse repetidamente que está disposto a se reunir, mas não recebemos nenhuma proposta até agora", afirmou Lavrov.

Na quarta-feira (15), o senador Marco Rubio, indicado para ser secretário de Estado no próximo governo de Donald Trump, pediu que a Ucrânia e a Rússia façam concessões para que seja possível acabar com a guerra.

"O que Vladimir Putin fez é inaceitável. Não há dúvidas sobre isso. Mas essa guerra deve acabar, e acho que a posição oficial dos Estados Unidos deve ser que acabe", disse Rubio durante sua audiência de confirmação perante o Comitê de Relações Exteriores do Senado.

O nomeado para ser chefe da diplomacia dos EUA antecipou que acabar com a guerra "não será uma tarefa fácil" e que será necessária "uma diplomacia ousada", mas expressou confiança de que "algum tipo de cessar-fogo" pode ser alcançado se ambos os lados forem "realistas".

O ditador russo, Vladimir Putin, e o então presidente dos EUA em 2019, Donald Trump. Crédito: EFE/Michael Klimentyev/Sputnik/Kremlin (Foto: EFE/Michael Klimentyev/Sputnik/Kremlin)

Rubio declarou que "não há como a Rússia invadir toda a Ucrânia", mas também enfatizou que "não é realista" pensar que a Ucrânia possa recuperar as fronteiras existentes antes da invasão russa em fevereiro de 2022. "Terá que haver concessões por parte da Federação Russa, mas também por parte dos ucranianos. É importante que haja um certo equilíbrio entre as partes", disse o republicano.

Trump, que tomará posse nesta segunda, prometeu inúmeras vezes que irá acabar com a guerra na Ucrânia, sem dar detalhes de um plano concreto nesse sentido.

Novas frentes de tensão com a China

EUA e China enfrentam novas frentes de tensão, nos últimos dias, sendo a mais recente a possível proibição do Tiktok no país, como resultado de uma lei de iniciativa do governo Biden que recebeu apoio no Congresso e na Suprema Corte.

A legislação deu à ByteDance, dona da rede social, nove meses para vender as operações do TikTok nos EUA a um investidor que não fosse considerado um “adversário” do país, o que não foi concretizado.

Trump disse na sexta-feira (17) que tomará uma decisão sobre o destino da rede social TikTok no país “em um futuro não muito distante”, mas não deu pistas sobre as opções que está considerando para que a plataforma continue operando.

“A decisão da Suprema Corte era esperada, e todos devem respeitá-la. Tomarei minha decisão sobre o TikTok em um futuro não muito distante, mas preciso de tempo para analisar a situação, fiquem atentos!”, escreveu em sua rede social, a Truth Social.

No mesmo dia, o presidente eleito teve uma conversa telefônica com o ditador chinês, Xi Jinping, que classificou como "muito boa".

O líder comunista deu declarações após o diálogo dizendo que os dois países podem estreitar lações como “parceiros e amigos” neste novo mandato, além de ter expressado sua vontade de “promover um maior progresso nos laços binacionais a partir de um novo ponto de partida”.

“Tendo em vista os amplos interesses comuns e o extenso espaço de cooperação entre os dois países, China e EUA podem ser parceiros e amigos, contribuir para o sucesso um do outro e promover a prosperidade comum, para o benefício de ambos os países e do mundo inteiro”, afirmou Xi.

O ditador chinês mencionou a questão de Taiwan, que deve continuar sendo um ponto de divergência entre os governos. Xi pediu a Trump que trate com “prudência” o assunto, que “diz respeito à soberania nacional e à integridade territorial da China”, segundo argumentou.

O contato ocorreu poucas horas depois que a China anunciou que o vice-líder chinês, Han Zheng, seria representante de Xi na cerimônia de posse de Trump, apesar de o convite ter sido destinado ao próprio ditador.

Apesar da "boa" conversa que teve com Pequim, durante a campanha presidencial, Trump prometeu a imposição de novas tarifas sobre as importações chinesas, em uma linha semelhante à guerra comercial que promoveu durante seu primeiro mandato. 

Fim das políticas woke na Casa Branca

Outro ponto bastante comentado por Trump antes de sua posse envolve a promessa de encerrar as políticas woke difundidas durante o governo de seu antecessor, o democrata Joe Biden, especialmente aquelas voltadas para as iniciativas de “diversidade, equidade e inclusão” - as chamadas políticas “DEI”.

Um primeiro ato alinhado com esse posicionamento já foi observado antes mesmo de sua cerimônia. O FBI anunciou o encerramento da divisão de diversidade e inclusão em meio a uma "reformulação nacional" desse tipo de política.

Sob a liderança do aliado Kash Patel, o departamento deve passar por profundas mudanças nos próximos anos.

Durante o primeiro mandato, Trump chegou a criar um canal de denúncia contra pessoas que incentivam esse tipo de iniciativa DEI dentro do governo federal, o que gerou fortes reações em apoio por parte de seus eleitores e de críticas por aqueles que defendem as políticas progressistas.

A decisão do FBI de fechar essa divisão ocorre em um contexto no qual uma série de empresas e instituições nos EUA estão encerrando seus setores dedicados a assuntos de diversidade e inclusão, como o Walmart, Ford, Meta, Harley-Davidson e McDonald's.

Aproximação com magnatas da tecnologia

Na primeira administração, Donald Trump enfrentou conflitos com algumas figuras relevantes do Vale do Silício, como Mark Zuckerberg, dono da Meta, que após anos apoiando os democratas e a censura do governo Biden, deu uma guinada à direita, em uma clara tentativa de aproximação com o republicano.

Mais visível do que a virada de Zuckerberg, foi a do bilionário Elon Musk, dono do X, que exerceu grande influência na vitória de Trump e conquistou um cargo de liderança no novo governo.

O empresário Elon Musk e o presidente eleito dos EUA, Donald Trump, conversam durante cerimônia de reabertura da Catedral de Notre-Dame, em Paris. Crédito: EFE/EPA/THIBAULT CAMUS/POOL MAXPPP OUT (Foto: EFE/EPA/THIBAULT CAMUS/POOL MAXPPP OUT)

Outras grandes empresas da tecnologia, como o Google, OpenAI (criadora do ChatGPT), Amazon e Apple, também investiram em uma aproximação com o republicano, por meio de doações a sua cerimônia de posse.

Apesar disso, o presidente eleito dos EUA não descartou a possibilidade de aplicar novas medidas antimonopólio durante sua presidência, uma questão que paira sobre o Google há anos e que se reflete em vários processos judiciais abertos pela posição dominante da empresa em duas áreas, mecanismos de busca na Internet e publicidade.

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