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Manifestantes invadem o escritório do primeiro-ministro em Colombo, Sri Lanka, em 13 de julho de 2022.
Manifestantes invadem o escritório do primeiro-ministro em Colombo, Sri Lanka, em 13 de julho de 2022.| Foto: EFE/EPA/CHAMILA KARUNARATHNE

O Sri Lanka, que fica ao sul da Índia, tem como base de sua economia a agricultura e o turismo. Nesses dois setores, a administração do ex-presidente Gotabaya Rajapaksa falhou em estratégias econômicas, o que levou o país à maior crise da história. A revolta popular foi tão grande que o palácio presidencial foi invadido e Rajapaksa fugiu do país. Nesta quinta-feira (14), ele renunciou através de um e-mail enviado ao Parlamento.

Um desastre para o país, que chegou a ter nos últimos anos um grande crescimento anual do PIB. Em 2015, por exemplo, o aumento foi de 5%. Para fazer uma comparação, os Estados Unidos, a maior economia do mundo, tiveram crescimento de 5,7% do PIB no ano passado.

Programa ambiental desastroso 

Na agricultura, um experimento ambiental sem precedentes foi o principal responsável pela crise econômica vivida pelos cingaleses. Para tornar o país o primeiro do mundo a ter uma agricultura totalmente orgânica, o governo proibiu a importação e o uso de fertilizantes e pesticidas sintéticos e ordenou que a produção nacional fosse feita exclusivamente de produtos orgânicos no prazo máximo de 10 anos.

“Essa exclusão total de defensivos agrícolas, com retirada de engenheiros agrônomos e cientistas, focando 100% na agricultura orgânica foi desastroso”, ressalta Igor Lucena, economista e doutor em Relações Internacionais.

“Isso diminuiu a produtividade e deixou o país à mercê de pragas e riscos às empresas agrícolas. Foi uma ideologia errônea com graves consequências e serve de exemplo para outros países”, completa Lucena. Para ele, fica evidente que uma agricultura totalmente orgânica não se sustenta. “Existem nichos que podem trabalhar com esse segmento, mas um país não pode ficar à mercê de ideologias”, ressalta.

Em entrevista à Gazeta do Povo, Daniele Siqueira, analista de mercado da AgRural, também criticou a imposição do novo modelo a um país inteiro de forma repentina, ilógica e irresponsável. “A agricultura orgânica exige conhecimento, recursos, tecnologia e mão-de-obra especializada, e ainda não está pronta para atender a populações inteiras, especialmente em países mais pobres como o Sri Lanka”, explicou Siqueira.

Pandemia e queda do turismo 

Além da má condução na agricultura, Rajapaksa não soube contornar as dificuldades econômicas decorrentes da pandemia, que interferiu substancialmente no setor de turismo, que representa 5% do PIB do país. Além da beleza natural das praias, o país costumava receber grande quantidade de budistas em viagens religiosas, cerca de 2 milhões por ano.

Nesse ponto, Lucena aponta outra falha do ex-presidente, que serve de exemplo ao mundo: “Um país não pode ter uma política monetária frouxa, deixando os elementos negativos internacionais interferirem a ponto de desestabilizá-lo politicamente. Precisa haver outros planos”.

De portas fechadas para o mundo 

Nas últimas décadas, o Sri Lanka também falhou ao se fechar ao mercado interno, sem valorizar a importação e a exportação. Isso prejudicou a captação de divisas estrangeiras.

O Banco Central está sem reservas internacionais e o país não consegue importar combustíveis, alimentos e remédios. O déficit de transações correntes do Sri Lanka está sendo, nos últimos anos, acima de 3 bilhões de dólares, um valor alto para um país de 22 milhões de habitantes do sudeste asiático.

“Dessa forma, há uma explosão inflacionária, porque não há concorrentes internacionais e os produtos ficam escassos”, explica Lucena. “O Sri Lanka mostra para o mundo que as políticas econômicas de um país não podem se afastar do trabalho de exportação e de uma maior capacidade produtiva”, aponta o especialista.

Devido a essas falhas, o Sri Lanka vai necessitar de uma ajuda internacional imediata de pelo menos 50 bilhões de dólares do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional. É possível também que as Nações Unidas precisem interferir com forças de pacificação e segurança, pois há risco de guerras civis e do fim da organização política do país.

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