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O que se sabe até agora sobre o escândalo envolvendo Milei e a criptomoeda $LIBRA

O que se sabe até agora sobre o escândalo envolvendo Milei e a criptomoeda $LIBRA
O presidente da Argentina, Javier Milei (Foto: EFE/EPA/MICHAEL BUHOLZER)

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O presidente argentino Javier Milei promoveu, na última sexta-feira (14), a criptomoeda $LIBRA em sua conta na rede social X. O ativo digital fazia parte do projeto Viva La Libertad Project, que supostamente visava financiar pequenas e médias empresas na Argentina. Com o apoio público do presidente, o valor da criptomoeda disparou em questão de horas, saindo de US$ 0,000001 para US$ 5,20. No entanto, a valorização foi seguida por um colapso abrupto, resultando em prejuízos milionários para milhares de investidores. Após a rápida repercussão negativa, Milei apagou sua publicação, dizendo que não tinha conhecimento dos detalhes do ativo.

O post original de Milei, fruto da polêmica, era acompanhado da seguinte mensagem: “A Argentina liberal está crescendo!!! Este projeto privado será dedicado a incentivar o crescimento da economia argentina por meio do financiamento de pequenas empresas e startups argentinas. O mundo quer investir na Argentina. $LIBRA”.

A situação gerou forte reação da oposição, que acusou o presidente de promover uma “manobra especulativa” e pediu uma investigação no Congresso. Setores opositores chegaram a sugerir também um processo de impeachment.

O escândalo já ultrapassou as fronteiras da Argentina, com advogados de investidores acionando, segundo o jornal argentino Clarín, o Departamento de Justiça dos EUA e o FBI para apurar o caso e o possível papel de Milei nele.

Nesta segunda-feira (17), de acordo com o Clarín, fontes de dentro do governo argentino disseram que o Executivo estuda tomar medidas legais contra os responsáveis pelo lançamento da criptomoeda.

“Estamos investigando se alguém cometeu um delito. Se descobrimos, vamos denunciar”, afirmou uma fonte oficial.

Entre as empresas envolvidas na criação e promoção da criptomoeda $LIBRA estão a KIP Protocol e a Kelsier Ventures. O governo argentino reconheceu neste final de semana que Milei teve encontros com representantes dessas companhias nos meses anteriores ao lançamento do ativo digital. Em outubro de 2024, durante o Tech Forum Argentina, evento patrocinado pela KIP Protocol, o presidente se reuniu com Julian Peh, CEO da empresa, embora a KIP Protocol afirme que, naquele momento, “em nenhum momento o projeto Viva la Libertad ou o lançamento de qualquer token foi discutido ou mencionado.” Já no último dia 30 de janeiro, Milei recebeu na Casa Rosada Hayden Mark Davis, diretor da Kelsier Ventures, empresa apontada como a responsável pelo lançamento da criptomoeda. Apesar dessas conexões, o governo insiste que o presidente não teve participação ativa no desenvolvimento do projeto e desconhecia seu mecanismo de financiamento.

A KIP Protocol também garantiu nesta segunda que Milei não teve participação direta no desenvolvimento da $LIBRA.

“Ele não iniciou o projeto, não gerenciou ou dirigiu o processo de lançamento do token, não recebeu nenhuma quantia antes ou depois do lançamento e não lucrou com a operação”, declarou a empresa em nota.

Denúncias e investigações

O escândalo envolvendo o caso da criptomoeda já gerou mais de 100 denúncias formais contra Milei na Justiça argentina. Segundo o Clarín, tais denúncias estão sendo encaminhadas à juíza federal María Servini, que foi sorteada para julgar o caso. A organização Observatório do Direito da Cidade foi a primeira entidade a apresentar uma denúncia, acusando Milei de fazer parte de uma “associação ilícita” que organizou uma fraude financeira com a criptomoeda.

Segundo o documento de denúncia da entidade, a operação configuraria um esquema conhecido como rug pull—quando desenvolvedores de um token atraem investidores para inflacionar seu valor e, em seguida, retiram abruptamente os fundos, deixando os investidores com ativos desvalorizados. O promotor responsável pela investigação do caso será Eduardo Taiano, que também terá a decisão de acusar ou não Milei.

Nos Estados Unidos, advogados e consultores do setor de criptomoedas estão preparando ações judiciais coletivas contra os desenvolvedores e organizadores da $LIBRA. Segundo o Clarín, o escritório de advocacia Burwick Law, especializado em fraudes financeiras, anunciou que está coletando informações de investidores prejudicados.

“Se você perdeu dinheiro com $LIBRA, entre em contato com Burwick Law para conhecer seus direitos legais”, publicou a firma em sua conta na rede social X.

$LIBRA: o risco das "memecoins"

Segundo especialistas, a criptomoeda $LIBRA faz parte do grupo das chamadas memecoins, ativos digitais sem um projeto econômico sólido por trás, cujo valor é determinado pela especulação e pelo entusiasmo da comunidade. Segundo Rodolfo Andragnes, fundador da ONG Bitcoin Argentina, este tipo de ativo pode ser criado em poucos minutos e não possui um modelo financeiro sustentável.

"Quase 100% dessas moedas funcionam com base no fato de que existe um grande mercado de investidores que tentam comprar pelo preço de lançamento e vender quando ele sobe, mas, como não têm uma utilidade real, acabam morrendo", explicou Andragnes à agência EFE.

Reação política

A oposição argentina aproveitou a crise para pressionar o governo. No final de semana, o deputado Maximiliano Ferraro, da Coalizão Cívica, de oposição, afirmou que a promoção da criptomoeda por Milei “foi uma manobra especulativa que poderia ser alavancada no poder político do presidente e no uso de informações privilegiadas”. O senador Martín Lousteau, da União Cívica Radical, também de oposição, destacou que não é a primeira vez que Milei divulga um ativo digital que termina em colapso, lembrando o caso da chamada CoinX, plataforma de investimentos que prometia lucros de 8% ao mês e que atualmente está sob investigação.

O kirchnerismo pediu investigação e processo de impeachment contra Milei, alegando que ele cometeu abuso de autoridade e participou de um esquema fraudulento. O deputado socialista Esteban Paulón anunciou que apresentará um pedido de impeachment contra o presidente, afirmando que "o que aconteceu é extremamente grave e degrada o gabinete presidencial".

Neste domingo (16), o Escritório Anticorrupção da Argentina abriu investigações, a pedido do próprio Milei, para determinar se houve violação de normas financeiras.

"O presidente Javier Milei decidiu envolver imediatamente o Escritório Anticorrupção (OA, na sigla em espanhol) para determinar se houve conduta imprópria por parte de qualquer membro do Governo Nacional, incluindo o próprio presidente", disse o Gabinete do presidente em um comunicado.

Por outro lado, aliados do presidente minimizaram o caso. A ministra da Segurança, Patricia Bullrich, acusou a oposição de fabricar uma crise artificial. “O presidente tem liberdade de expressão para levantar quaisquer questões que considere apropriadas”, disse, acrescentando que “é inacreditável pedir impeachment por um tuíte.”

Analistas políticos próximos ao governo argentino avaliaram, de acordo com Clarín, que o impacto do escândalo sobre a popularidade de Milei pode ser limitado.

"Medimos apenas o impacto nas redes e vimos que há um volume semelhante ao da marcha universitária, mas isso não significa que a credibilidade de Milei esteja caindo, de forma alguma", disseram.

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