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Perfil

Cardeal Marc Ouellet

cardeal marc ouellet
O cardeal Marc Ouellet (em foto de 2016), canadense, foi prefeito da Congregação para os Bispos por mais de dez anos. (Foto: Mauricio Duenas Castañeda/EFE)

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A Gazeta do Povo publica, com exclusividade no Brasil, o perfil do cardeal Marc Ouellet preparado pelos vaticanistas Diane Montagna e Edward Pentin, autores do projeto The College of Cardinals Report. Jornalistas com décadas de experiência na cobertura do Vaticano, Montagna e Pentin escreveram perfis de todos os cardeais apontados como principais candidatos a suceder Francisco no comando da Igreja Católica, com informações biográficas e suas posições sobre temas em debate dentro da Igreja.

O cardeal Marc Ouellet, P.S.S., é um prelado canadense aposentado que, por mais de uma década, chefiou o Dicastério para os Bispos do Vaticano, responsável pela seleção de candidatos ao episcopado em todo o mundo.

Criado em uma família católica praticante, mas não devota, em Quebec, e sendo um dos oito filhos de um agricultor, Marc Ouellet aproximou-se mais da fé católica na adolescência. Após cursar a Universidade Laval, ingressou no Grand Séminaire de Montreal e obteve a licenciatura em Teologia na Universidade de Montreal. Ordenado sacerdote em 1968, trabalhou no Canadá por dois anos antes de lecionar por mais dois anos, em espanhol, na cidade de Bogotá (Colômbia), onde ingressou na Companhia dos Padres de São Sulpício, em 1972. Em seguida, foi enviado a Roma, onde obteve a licenciatura em Filosofia pela Universidade de Santo Tomás de Aquino (Angelicum) em 1974, enquanto estudava alemão em Innsbruck, na Áustria.

Após um período de serviço em um seminário no Canadá, retornou a Roma e completou um doutorado em Teologia Dogmática na Universidade Gregoriana, em 1982. Nos 12 anos seguintes, lecionou em seminários e serviu como reitor na Colômbia e em Montreal, até que, em 1996, passou a ensinar Teologia no Instituto João Paulo II para Estudos sobre Matrimônio e Família, em Roma, onde permaneceu até 2002.

Ouellet é um prelado de inclinação conservadora, mas com uma visão moderna e pós-conciliar que se ajusta aos tempos e aos papas

Em 2001, João Paulo II sagrou Ouellet como bispo; no ano seguinte, nomeou-o arcebispo de Quebec e primaz do Canadá. Em 2003, Ouellet foi criado cardeal e, desde 2010, atuou como prefeito da Congregação para os Bispos, além de presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina. Mais recentemente, em 2018, o papa Francisco elevou Ouellet à ordem dos cardeais-bispos, equiparando-o em todos os aspectos aos cardeais titulares de uma igreja suburbicária (dioceses no entorno de Roma cujos cardeais que recebem seus títulos são considerados como detentores de grande prestígio).

Em junho de 2019, após completar 75 anos, o cardeal Marc Ouellet apresentou sua renúncia obrigatória aos cargos curiais; a renúncia, no entanto, foi inicialmente recusada pelo papa Francisco, que só a aceitou três anos e meio depois, em 30 de janeiro de 2023, especificando que a decisão considerava o “limite de idade” alcançado pelo cardeal. Em 12 de abril daquele mesmo ano, Ouellet foi substituído como prefeito do Dicastério para os Bispos e como presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina.

Forte candidato ao papado no conclave de 2013, o cardeal Marc Ouellet era amplamente visto como papável, embora tivesse afirmado modestamente, naquele ano, que “não me vejo nesse nível, de forma alguma”. Suas chances de ser eleito papa diminuíram nos últimos anos, em grande parte devido a dois casos que ganharam destaque. Diversos veículos de comunicação canadenses e franceses associaram a aceitação de sua renúncia à alegação de má conduta sexual feita por duas mulheres adultas em seu país natal, sendo a segunda denúncia tornada pública em 19 de janeiro de 2023 pela revista católica progressista francesa Golias. Ouellet negou as acusações. Depois, em abril de 2024, um tribunal civil na Bretanha (França) condenou Ouellet e outros réus – sem que estes estivessem presentes ou pudessem apresentar defesa – pela expulsão “sem motivo” da freira Marie Ferréol. O tribunal descreveu a expulsão como “infame e vexatória”. A condenação está sendo contestada em recurso.

Prelado de inclinação conservadora, mas com uma visão moderna e pós-conciliar que se ajusta aos tempos e aos papas, seu episcopado foi moldado pelo ambiente secular desafiador de Quebec, onde Ouellet enfrentou forte oposição por sua firme adesão aos ensinamentos da Igreja, especialmente nas questões relacionadas à vida. Grande defensor do celibato sacerdotal no rito latino, o cardeal Marc Ouellet se opõe à ordenação de mulheres, mas apoia a ampliação do papel delas na Igreja. Ele também se posiciona contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a redefinição do casamento civil, elogiou a Humanae vitae e demonstrou apoio concreto aos migrantes em situação de dificuldade. Sua visão sobre o Islã é moderada.

Pessoalmente íntegro, de oração intensa, mas também sensível e, por vezes, emotivo, o cardeal Marc Ouellet valoriza a unidade e evita críticas públicas

O cardeal possui um conhecimento detalhado da América Latina, tendo vivido na Colômbia na primeira metade da década de 1970 e em grande parte dos anos 1980 – um histórico que o ajudou a construir boas relações com o papa Francisco, a quem já conhecia antes da eleição ao pontificado.

A unidade e a comunhão (seu lema episcopal é Ut Unum Sint – “Para que todos sejam um”) são centrais para Ouellet, assim como a Eucaristia, que ele considera não apenas uma celebração, mas também uma “cultura” necessária para manter o equilíbrio nas questões da Igreja. Ele é reconhecido como um teólogo de primeira classe, embora tenha se mostrado inconsistente sobre a admissão à comunhão de católicos que vivem em uniões irregulares.

Pessoalmente íntegro, de oração intensa, mas também sensível e, por vezes, emotivo, o cardeal Marc Ouellet valoriza a unidade e evita críticas públicas, preferindo uma abordagem diplomática e discreta tanto em relação ao papado quanto, no passado, ao seu papel como prefeito do Dicastério para os Bispos. É conhecido por devoção, transparência e humildade, além de sua paixão pela vida. Raramente concede entrevistas.

O cardeal Marc Ouellet tem uma preferência por liturgias solenes e acredita que devem ser centradas em Deus, e não nas pessoas. Ele apoiou Summorum Pontificum e parece aberto e receptivo à missa tridentina. Devoto de Nossa Senhora, é amplamente reconhecido como um prelado profundamente espiritual, com um forte senso de lealdade e compromisso com os cargos que assume – uma característica que pode ter sido parcialmente moldada por seu amor precoce pelos esportes, especialmente o hóquei no gelo.

Embora tenha grande amor pelos ensinamentos da Igreja, ele não é considerado doutrinário e possui um calor humano e uma afabilidade que, segundo aqueles que o conhecem, o destacam como um verdadeiro pastor.

O que o cardeal Marc Ouellet pensa sobre...

Ordenação de diaconisas: É contra. Em 2008, o cardeal Ouellet afirmou que João Paulo II havia chegado a uma conclusão “definitiva” sobre a questão e, em outubro de 2018, reiterou essa posição, rejeitando a “pretensão” de que mulheres poderiam exercer funções próprias dos ministros no sentido sacerdotal. Em 2021, declarou que homens e mulheres não devem ser “colocados exatamente no mesmo nível no que se refere ao ministério, devido ao significado simbólico dos papéis sacramentais”.

Bênção para casais do mesmo sexo: Não se sabe. Não foi possível encontrar nenhuma declaração do cardeal Ouellet sobre o assunto.

Tornar opcional o celibato para os padres: É contra. Embora o cardeal Ouellet diga que é “concebível” que a regra possa ser alterada, ele considera o celibato sacerdotal “um dom para a Igreja”, fundamentado “na pessoa de Cristo”. Pouco antes do Sínodo da Amazônia, em outubro de 2019, ele também publicou um livro argumentando que, diante dos desafios, a Igreja não deveria buscar soluções rápidas, mas sim aprofundar sua compreensão da tradição do celibato sacerdotal no rito latino.

Restrições à missa tridentina: A favor. Relata-se que o cardeal Ouellet se aliou aos cardeais Parolin e Versaldi para direcionar uma discussão na Congregação para a Doutrina da Fé (CDF) com o objetivo de impor severas restrições ao rito latino tradicional, o que culminou na publicação de Traditionis custodes, em 16 de julho de 2021.

Acordos secretos entre China e Vaticano: Não se sabe. Não foi possível encontrar nenhuma declaração do cardeal Ouellet sobre o assunto.

Promover uma “Igreja sinodal”: A favor. A respeito do Sínodo da Sinodalidade, o cardeal Ouellet disse que a Igreja “está vivendo um momento de escuta ao Espírito Santo” e propôs que a Igreja deveria promover e possibilitar os carismas (dons do Espírito Santo) como parte do processo sinodal.

Foco nas mudanças climáticas: Não se sabe. Não foi possível encontrar nenhuma declaração do cardeal Ouellet sobre o assunto.

Reavaliar Humanae vitae: É contra. Durante o Congresso Eucarístico Internacional de 2008, o cardeal Marc Ouellet elogiou Humanae vitae. Ele destacou a conexão entre a Eucaristia e o respeito pela vida humana. “As consequências da cultura da contracepção”, disse ele, “são visíveis na cultura, com o aborto e com a questão do casamento”. Novamente, em 2018, ao interpretar Amoris laetitia, ele abordou o mesmo tema, conectando o uso de contracepção, aborto, eutanásia, divórcio e “o pseudocasamento de casais do mesmo sexo” como parte do que São João Paulo II chamou de “cultura da morte”.

Comunhão para divorciados “recasados”: A favor. Embora o cardeal Marc Ouellet tenha adotado uma posição notoriamente distinta sobre o assunto antes da publicação de Amoris laetitia, ele defendeu fortemente o ensinamento do documento após sua publicação e incentivou os católicos a relê-lo com atenção, sem preconceitos. Ele considera o documento como oficial, normativo e um “resultado notável” de ampla consulta e discernimento, e não acredita que ele mude a doutrina da Igreja sobre o matrimônio e a família.

“Caminho sinodal alemão”: É contra. O cardeal Marc Ouellet disse que as propostas do “caminho sinodal” levantaram “sérias dificuldades do ponto de vista antropológico, pastoral e eclesiológico”, e acreditou que a iniciativa também suscitava preocupações sobre um possível cisma dentro da Igreja.

Dados pessoais

Nome: Marc Ouellet
Data de nascimento: 8 de junho de 1944 (80 anos)
Local de nascimento: Lamotte (Canadá)
Criado cardeal: 21 de outubro de 2003, por João Paulo II
Posição atual: prefeito emérito da Congregação para os Bispos
Lema: Ut unum sint (“Que todos sejam um”)

© 2025 The College of Cardinals Report. Publicado com permissão. Original em inglês: Cardinal Marc Ouellet

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