Com 49% dos votos contabilizados até a manhã desta segunda-feira (12), o candidato de esquerda radical Pedro Castillo lidera a disputa pela presidência do Peru, segundo o Escritório Nacional de Processos Eleitorais do país (Onpe, na sigla em espanhol). Ele aparece com 16% dos votos, seguido por Hernando de Soto (13,7%), Rafael López Aliaga (13%), Keiko Fujimori (12,7%) e Yonhy Lescano (8,9%).
Uma pesquisa de boca de urna realizada neste domingo (11) pelo instituto Ipsos indicava vitória de Castillo e um empate entre Fujimori, Soto e Lescano pelo segundo lugar. Os dois mais votados na eleição vão se enfrentar no segundo turno, marcado para 6 de junho.
Milhares de centros de votação abriram neste domingo, 11, no Peru para receber o voto de 25 milhões de eleitores em meio ao pico de casos e mortes por covid-19 e sem garantia de que a crise política no país terá fim.
Com cerca de 15% do eleitorado dizendo que votaria em branco, segundo as últimas pesquisas eleitorais, e com nenhum dos 18 candidatos obtendo mais de 15% das intenções de voto, o fim da crise política, que já dura cinco anos e se agravou com a Lava Jato, não deve estar perto. Se nenhum candidato obtiver mais de 50% dos votos, será realizado segundo turno em 6 de junho.
"No melhor dos casos, o próximo presidente será eleito com poucos votos, não terá legitimidade, terá problemas de representação e o Congresso também será muito fragmentado. Continuamos tendo os mesmos problemas de antes", explica ao Estadão o analista político peruano Carlos Meléndez. Em cinco anos, o Peru teve quatro presidentes e dois Congressos.
Dos 18 candidatos, 3 estão sob análise da promotoria, que coleta provas e depoimentos para levá-los a julgamento: o ex-presidente Ollanta Humala, Daniel Urresti, um general aposentado, e Keiko Fujimori, filha do ex-presidente Alberto Fujimori, e pivô de algumas das mais recentes crises políticas do Peru.
Keiko ficou 16 meses em prisão preventiva, até maio de 2020, por envolvimento no esquema de propinas pagas pela empreiteira brasileira Odebrecht, que afetou também quatro ex-presidentes peruanos. Ela está sendo investigada por supostamente ter recebido contribuições ilegais da Odebrecht em suas campanhas presidenciais em 2011 e 2016.
Desafios do futuro presidente
Independente de quem assumir o poder, o próximo presidente deve ser o de mandato mais frágil da história recente do país, e terá de lidar com as crises econômica e de saúde decorrentes da pandemia do novo coronavírus.
No sábado (10) foi registrado o recorde de 384 mortes por covid-19 em 24 horas, quase o dobro do número diário das 10 semanas anteriores, segundo o balanço oficial do Ministério da Saúde.
"Se Keiko ganhar, teremos uma condução do combate à pandemia mais para a direita, sem lockdown, com mais colaboração entre os setores privado e público. Seria um estilo mais parecido com o de (Jair) Bolsonaro. Ela tem uma visão pró-abertura. Se ganha um candidato de esquerda, teremos uma visão de que o Estado precisa conceder auxílio para quem precisa, para as pequenas empresas. Verónika Mendoza, por exemplo, tem essa outra visão", diz Melendez.
Sem partidos políticos fortes e em uma nação onde o candidato importa mais do que a ideologia, há dez concorrentes de direita ou centro-direita, quatro de esquerda, três nacionalistas e um de centro.
"Eu não queria votar porque não há um candidato idôneo, mas fico com mais medo de que entre algum radical no governo", afirmou à AFP Johnny Samaniego, morador de Lima de 51 anos, após votar no Estádio Nacional. A campanha política peruana foi marcada pela apatia e 28% do eleitorado se dizia indeciso sobre em quem votar.
Clima de pandemia
Muitos peruanos estavam com medo de ir votar e contrair o novo coronavírus, mas o voto no país é obrigatório e não cumpri-lo leva ao pagamento de multa de 88 soles (R$ 136), com isso, a população mais pobre não pode deixar de votar.
Enquanto alguns saíram para votar, dezenas fizeram fila diante de locais de venda ou doação de oxigênio em Lima para conseguir uma recarga para um parente com Covid-19, observaram os jornalistas da France Press. "É injusto porque estamos aqui fazendo fila em vez de estarmos votando, temos de amanhecer aqui para receber um cilindro de oxigênio", disse Marcela Lizama, de 38 anos, enquanto aguardava em um local do distrito de Villa El Salvador.
Apesar do medo de eleitores e do clima de tensão pela segunda onda da Covid que assusta o país e vizinhos da América do Sul, vários candidatos presidenciais convocaram integrantes da equipe de campanha, simpatizantes e jornalistas para participarem de cafés da manhã neste domingo.
No início do período eleitoral, o Ministério da Saúde havia pedido que as campanhas priorizassem atividades virtuais para evitar aglomerações. Mas vários comícios foram realizados. Três candidatos, entre eles o ex-goleiro George Forsyth, do partido de centro-direita Vitória Nacional, contraíram Covid-19 e não puderam votar.
Moraes eleva confusão de papéis ao ápice em investigação sobre suposto golpe
Indiciamento de Bolsonaro é novo teste para a democracia
Países da Europa estão se preparando para lidar com eventual avanço de Putin sobre o continente
Em rota contra Musk, Lula amplia laços com a China e fecha acordo com concorrente da Starlink
Deixe sua opinião