O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se encontrou com a rainha Elizabeth II e o príncipe Charles no Palácio de Buckingham nesta segunda-feira (3), dando início a três dias de celebrações reais e diplomacia cuidadosamente planejada. A realeza almoçou e tomou um chá com Trump. Eles mostraram a ele pinturas antigas de George Washington e convidaram Trump a passar em revista a guarda de honra com seus famosos trajes.
Mas, primeiro, Trump ridicularizou o relativamente popular prefeito de Londres, chamando-o de "absoluto fracassado" – e de baixinho. E em seguida Trump fez uma longa reclamação no Twitter sobre a cobertura do canal americano de notícias CNN sobre sua viagem, que estava apenas começando.
O presidente e primeira-dama Melania Trump foram recebidos no aeroporto de Stansted pelo ministro das Relações Exteriores, Jeremy Hunt – e não pela primeira-ministra Theresa May, que está de saída do cargo por causa do Brexit. A visita oficial de Trump coincide com uma disputa acirrada para substituir May. É tudo um pouco desconfortável. Não que os ingleses vão falar (muito) sobre isso.
No Palácio de Buckingham, o presidente parecia se divertir imensamente enquanto caminhava pelas fileiras de guardas da rainha vestidos com casacos escarlates e chapéus pretos de pele de urso.
Ele foi recebido com duas salvas de 41 tiros.
Trump não recebeu as tradicionais boas-vindas reais na Horse Guards Parade (um grande campo de desfile cerimonial) ou um cortejo de carruagens douradas – por questões de segurança. Ele também não vai passar a noite no Palácio de Buckingham – segundo o palácio, por causa de reformas. Ele vai ficar em Winfield House, a residência do embaixador dos EUA.
Depois do almoço, a rainha acompanhou o presidente e a primeira-dama na galeria de retratos do palácio para que eles vissem itens de "interesse histórico" dos Estados Unidos. Era possível ver um retrato de George Washington perto de uma mesa, de acordo com repórteres que estavam perto do local.
Também estava em exibição uma cópia da Declaração da Independência – sob o título – "Um Conto de Dois Georges: o rei George III e George Washington".
Os fotógrafos puderam ver rapidamente o príncipe Harry com a filha de Trump, Ivanka, nos fundos da galeria. A esposa de Harry, Meghan, que acaba de ter um bebê, estava ausente. Na semana passada, Trump a chamou de "desagradável" por criticá-lo durante a campanha de 2016, quando ela ainda não era da família real, mas sim a atriz Meghan Markle.
Manifestações
"A rainha e toda a família real foram fantásticas", Trump twittou depois de passar a tarde com eles. "Uma multidão tremenda de simpatizantes e pessoas que amam nosso país. Ainda não vi nenhum protesto, mas tenho certeza de que [a mídia] Fake News estará trabalhando duro para encontrá-los."
O Reino Unido é profundamente anti-Trump. Uma pesquisa de opinião da Ipsos MORI feita no ano passado mostrou que 19% dos britânicos tinham uma visão favorável sobre ele, enquanto 68% eram desfavoráveis.
Parte desse sentimento era visível na segunda-feira. A Anistia Internacional pendurou faixas em pontes de Londres com os dizeres "Resist Trump" (Combata Trump), "Resist Racism" (Combata o Racismo) e "Resist sexism" (Combate o Sexismo).
Mas uma grande manifestação está programada para a terça-feira (4), quando milhares de manifestantes deverão lotar a Trafalgar Square, no centro de Londres. Um balão gigante de um boneco de Trump como um bebê de fraldas deve ser erguido, e o líder do Partido Trabalhista, da oposição, Jeremy Corbyn, deve fazer um discurso à multidão.
Discussão com o prefeito
O prefeito de Londres, Sadiq Khan, um muçulmano filho de um motorista de ônibus imigrante paquistanês, tornou-se o líder retórico da resistência de Londres ao presidente. Ele se opôs abertamente a "estender o tapete vermelho" para Trump com uma visita de estado. E, em artigo para o jornal britânico The Guardian publicado no domingo, ele disse que Trump usou a linguagem dos "fascistas do século 20".
Enquanto o seu avião pousava, Trump respondeu, criticando a atuação de Khan como prefeito e zombando de sua altura (Khan tem 1,67m de altura.) Trump também escreveu o seu nome errado.
"@SadiqKhan, que segundo todos os relatos fez um péssimo trabalho como prefeito de Londres, tem sido insensatamente "desagradável" com o presidente visitante dos Estados Unidos, de longe o mais importante aliado do Reino Unido. Ele é um absoluto fracassado que deveria se concentrar na criminalidade em Londres, não em mim", escreveu Trump no Twitter.
"Kahn [sic] me lembra muito o nosso muito tolo e incompetente prefeito de Nova York, Bill de Blasio, que também fez um trabalho terrível – só que com a metade de sua altura. De qualquer forma, estou ansioso para ser um grande amigo para o Reino Unido, e estou muito empolgado com a minha visita. Aterrissando agora!"
O porta-voz de Khan respondeu ao ataque de Trump na segunda-feira, dizendo que "insultos infantis" deveriam estar "abaixo do presidente dos Estados Unidos".
Khan postou uma mensagem em vídeo na tarde de segunda-feira, em que dizia: "Presidente Trump, se você está vendo isso, os seus valores e o que você defende são o oposto dos valores de Londres e dos valores deste país".
Khan também criticou Trump por se inserir na política interna do Reino Unido.
Disputa para substituir May
Trump chegou em um momento político sensível no Reino Unido. Theresa May vai oficialmente deixar seu posto como líder do Partido Conservador na sexta-feira. A corrida para substituí-la está em pleno andamento, com pelo menos 13 candidatos na disputa. O vencedor deve ser anunciado em julho.
Enquanto Trump estava chegando, Boris Johnson, ex-secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, lançou oficialmente sua candidatura para a liderança. Trump disse ao jornal britânico The Sun na sexta-feira que Johnson "seria excelente" como primeiro-ministro. Ele também falou bem de Jeremy Hunt, o atual secretário de Relações Exteriores que também está na disputa pelo cargo máximo. "Sim, eu gosto dele", disse Trump.
Antes de se encontrar com a rainha, Trump estava na residência do embaixador americano Woody Johnson, em Londres, onde possivelmente assistia à televisão.
Trump twittou: "Acabei de chegar ao Reino Unido. O único problema é que a @CNN é a principal fonte de notícias dos Estados Unidos disponível. Depois de assistir [o canal] por um curto período, eu desliguei. Tudo negativo e muitas Fake News”.
A rainha recebe Trump para um banquete nesta noite de segunda-feira.
Galeria de fotos
Momentos fora do roteiro
Esses tipos de encontros com a família real britânica, sejam visitas de estado ou visitas de trabalho, são acontecimentos minuciosamente coreografados. Mas geralmente há momentos imprevisíveis – e muitos se perguntam se poderia haver mais com esse presidente do que com a maioria.
Durante a visita de Barack e Michelle Obama em 2009, a rainha e a primeira-dama conversaram sobre ter que usar sapatos desconfortáveis. Michelle então colocou a mão no ombro da rainha, o que não é feito normalmente. A rainha respondeu colocando o braço nas costas de Michelle. Essa se tornou uma das imagens mais marcantes daquela viagem.
Depois, houve a visita de trabalho de Trump ao Reino Unido em julho de 2018, quando pareceu que ele estava andando na frente da rainha durante uma inspeção da guarda real, o que causou um alvoroço nas mídias sociais.
Woody Johnson, que além de embaixador dos Estados Unidos é dono do time de futebol americano New York Jets, disse que a visita de Estado era "muito significativa".
"Ele sabe que a segurança e a prosperidade dos EUA estão diretamente ligadas à segurança e à prosperidade do Reino Unido. Esse relacionamento especial estará em foco quando celebrarmos o Dia D", disse Johnson à BBC.
"Quando falei com ele pela última vez, ele estava extremamente entusiasmado. A mãe do presidente nasceu aqui, e isso faz parte de seu DNA. Tudo o que ele faz gira em torno desse relacionamento. Não poderia ser mais importante", disse Johnson.
Johnson disse que o governo Trump estava na expectativa de assinar um acordo de comércio entre os EUA e o Reino Unido – embora o embaixador tenha avisado anteriormente que o acordo de saída do Reino Unido da União Europeia, que May tentou aprovar no Parlamento, poderia ameaçar um acordo com Washington.
Mais controverso, Woody Johnson disse no domingo que um futuro acordo comercial com os Estados Unidos incluiria o sistema de saúde britânico, especificamente o programa de medicina social chamado National Health Service. Embora os britânicos tenham reclamações, o programa tem amplo apoio.
Muitos britânicos disseram temer que os Estados Unidos tenham planos de lucrar com o NHS.
Perguntado se os consumidores britânicos comprariam carnes e verduras dos Estados Unidos, que têm regulamentação menos rígida sobre produtos químicos, Johnson disse que os consumidores britânicos farão suas próprias escolhas.
Não está claro o quanto Trump poderá se concentrar na pompa britânica, em vez do drama político nos Estados Unidos, onde o presidente enfrenta uma crescente guerra comercial com o México, investigações do Congresso e os crescentes pedidos de impeachment.
O ataque espontâneo de Trump contra o prefeito de Nova York, Bill de Blasio – que é um de duas dúzias de candidatos democratas que buscam derrubar Trump – oferece um sinal de que o presidente continuará a se engajar na política interna mesmo em solo estrangeiro.
No Japão, no mês passado, Trump usou as palavras do ditador norte-coreano Kim Jong Un para atacar outro rival, o ex-vice-presidente Joe Biden – chamando-o de "indivíduo de baixo QI".
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura
Deixe sua opinião