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Putin e Guterres durante visita do secretário-geral da ONU a Moscou, em abril de 2022
Putin e Guterres durante visita do secretário-geral da ONU a Moscou, em abril de 2022| Foto: EFE/EPA/VLADIMIR ASTAPKOVICH/KREMLIN POOL/SPUTNIK

O Kremlin anunciou nesta segunda-feira (21) que o secretário-geral da ONU, António Guterres, vai se encontrar na quinta-feira (24) na Rússia com o ditador Vladimir Putin. Segundo o governo russo, a reunião será paralela à cúpula dos Brics, que começa na cidade de Kazan nesta terça-feira (22).

“Espera-se que, além das atividades da ONU, eles abordem questões atuais da agenda internacional, incluindo a crise do Oriente Médio e a situação na Ucrânia”, disse o Kremlin em comunicado, segundo informações da agência France-Presse.

Desde a invasão russa à Ucrânia, iniciada em fevereiro de 2022, Guterres descreveu a agressão do Kremlin como um “precedente perigoso” e pediu que Moscou cessasse “imediatamente o uso ilegal da força contra a Ucrânia”, pedindo respeito ao direito internacional e à “integridade territorial” ucraniana.

Em abril de 2022, pouco após a invasão, Guterres já havia se encontrado com Putin na Rússia, quando ambos discutiram assistência humanitária e a evacuação de civis das zonas de conflito.

Neste momento, entretanto, sua visita é considerada uma forma de legitimar o ditador russo, que tenta justamente com a cúpula dos Brics mostrar que não está isolado na comunidade internacional.

Vale lembrar que o secretário-geral da ONU não compareceu à cúpula global sobre a fórmula de paz da Ucrânia realizada na Suíça em junho porque, segundo o porta-voz Stéphane Dujarric, as Nações Unidas seriam “representadas no nível apropriado”.

A Ucrânia lamentou a viagem de Guterres à Rússia, caso seja confirmada. “O secretário-geral da ONU recusou o convite da Ucrânia para a primeira Cúpula Global da Paz na Suíça. Ele, no entanto, aceitou o convite para ir a Kazan feito pelo criminoso de guerra Putin”, apontou Kiev, que afirmou que o encontro com o ditador russo “não propicia avanços para a causa da paz” e “fere a reputação da ONU”.

Um texto do Euromaidan Press, site em inglês com notícias e análises sobre a Ucrânia, destacou a postura de Guterres de criticar a agressão russa.

“No entanto, a ONU foi criticada por ser muito passiva na resolução do conflito, particularmente ao permitir o poder de veto da Rússia no Conselho de Segurança da ONU, o que paralisou ações decisivas relacionadas ao apoio à Ucrânia”, apontou o site.

“Guterres também não compareceu à Cúpula Global da Paz para a Ucrânia de 2024 na Suíça, da qual 92 países participaram, no entanto, a Rússia não foi convidada”, disse o Euromaidan Press, que destacou que “a possível visita do chefe da ONU” à Rússia “contraria a narrativa do isolamento diplomático da Rússia” e “a condenação da ONU à invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia”.

Num editorial publicado nesta segunda-feira, o jornal britânico The Telegraph disse que Guterres “está comendo na mão de Putin”. “A sua presença numa conferência russa é um passo atrás chocante, menos de três anos depois de a ONU ter condenado a invasão brutal de Moscou”, criticou.

“Para aqueles que imaginaram que a invasão da Ucrânia pela Rússia e os crimes de guerra bem documentados das suas forças fariam o agressor se tornar um pária internacional, esta é uma grande decepção - para dizer o mínimo”, disse o jornal britânico.

“Para os ucranianos, deve ser totalmente desconcertante, além de enfurecedor, ver o chefe da ONU - um órgão que condenou a invasão como ilegal - participando de tal reunião”, afirmou o Telegraph.

Este mês, Guterres virou persona non grata em Israel

Oficialmente, as Nações Unidas não confirmam a informação de que Guterres irá à Rússia. Sua agenda no site da instituição não informa compromissos a partir de amanhã.

A confirmação da visita a Putin pode arranhar ainda mais sua imagem, já prejudicada pela decisão de Israel deste mês de declará-lo persona non grata e impedi-lo de entrar no país, por acusações de não ter condenado “de forma inequívoca” o ataque com mísseis do Irã ao território israelense no último dia 1º.

Especula-se que a proposta de paz apresentada por China e Brasil para a Ucrânia, considerada pró-Rússia por não prever retirada das tropas do Kremlin das áreas ocupadas no país vizinho, possa ser discutida na cúpula dos Brics, embora o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, tenha dito nesta segunda-feira que a guerra não será tema do encontro.

Também não está claro se Guterres, no possível encontro de quinta-feira, discutirá com Putin a reativação do acordo de grãos do Mar Negro, que permitiu, entre julho de 2022 e julho de 2023, a exportação de grãos da Ucrânia por esse meio e que não foi renovado porque Moscou disse que suas “demandas” não foram atendidas.

Desde então, o secretário-geral da ONU propôs sem sucesso concessões para a volta do acordo, como um “mecanismo de pagamentos personalizado” para o Banco Agrícola Russo fora do Swift, o sistema internacional de comunicação de transações bancárias do qual os bancos russos foram banidos devido à guerra na Ucrânia.

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