Conforme apontado pelas sondagens eleitorais, os trabalhistas venceram as eleições gerais do Reino Unido, nesta quinta-feira (4), tirando os conservadores do poder após 14 anos, na pior derrota em mais de 100 anos da direita.
Keir Starmer, de 61 anos, que se define como socialista, foi escolhido como novo primeiro-ministro em substituição a Rishi Sunak, que sofreu o revés após antecipar o pleito para este mês em meio a uma pequena melhora dos índices econômicos do Reino Unido em maio.
"Eu me descreveria como socialista. Eu me descreveria como progressista. Eu me descreveria como alguém que coloca o meu país em primeiro lugar e meu partido em segundo", disse em uma entrevista à emissora BBC.
O novo líder encarregado de formar um governo no Reino Unido é conhecido por ser um homem discreto e de difícil descrição - um biógrafo e jornalistas que o acompanharam nos últimos anos não foram capazes de decifrar completamente sua personalidade.
Starmer nasceu em 1962 em Surrey, sul de Londres, zona tradicionalmente conservadora, onde sempre se sentiu, segundo a sua biografia, "um pouco deslocado".
A figura do pai, artesão com fortes convicções esquerdistas, é de capital importância na explicação de seu perfil político.
O novo premiê estudou em uma "grammar school" (escolas públicas para alunos de excelência), e posteriormente passou pela Universidade de Leeds e Oxford, onde iniciou sua atuação na defesa de direitos humanos.
Desde muito jovem flertou com os ramos mais radicais do Partido Trabalhista, chegando ao ponto de proclamar em uma entrevista de emprego para um escritório de advocacia que “propriedade é roubo” - embora mais tarde tenha declarado que se tratava de uma "provocação".
Tornou-se chefe do Ministério Público em 2008, depois de ter construído uma reputação como advogado de direitos humanos.
Seis anos depois, deixou o órgão público para dar um salto para a política como candidato trabalhista e logo chamou a atenção de seu antecessor, o socialista convicto Jeremy Corbyn, que o incorporou à sua equipe, primeiro como porta-voz de Imigração e depois do Brexit. Starmer defendia a realização de um segundo referendo sobre o tema.
Em 2015, Starmer ingressou no Parlamento como deputado por Holborn e St Pancras, regiões de Londres.
Após a renúncia de Corbyn devido à pior derrota desde 1935 dos trabalhistas em 2019, Starmer se posicionou como candidato unitário nas primárias e foi eleito para reconstruir o partido - o antigo líder havia dividido o partido entre moderados e esquerdistas.
A partir de então, não hesitou em expurgar Corbyn pela sua inação contra o antissemitismo e laminar todo o setor crítico.
Starmer passou os últimos quatro anos como líder trabalhista, arrastando seu partido da esquerda para o meio-termo político. Durante a campanha contra Sunak, defendeu que o voto no partido significaria "um voto pela estabilidade econômica e política", em um contexto de uma fraca recuperação da economia britânica.
Apesar de se apresentar como uma opção à esquerda, o vencedor das eleições não é bem visto por parte do grupo que o acusa de se aproximar de "propostas da direita" para se eleger. Disciplina fiscal e rigor nas contas são vistos como pontos de destaque em sua mensagem política.
O novo premiê já apresentou mudanças em suas promessas de campanha. Ele retirou a proposta de nacionalização de empresas de saneamento e energia, no entanto manteve a de colocar sob controle público praticamente todas as companhias ferroviárias de transporte de passageiros nos próximos cinco anos.
Além disso, desfez a promessa de retirar a cobrança de mensalidades dos alunos britânicos, justificando a desistência na atual situação econômica do Reino Unido. Segundo o trabalhista, "o governo não tem como pagar pelo programa".
Starmer, por outro lado, disse que os trabalhistas vão cobrar imposto sobre mensalidades de escolas privadas.
Durante a liderança de Corbyn, atuou como porta-voz de Brexit, defendendo a realização de um novo referendo sobre o assunto. Agora, afirma que não tem mais como voltar atrás na decisão, mas buscará novos acordos de cooperação com a União Europeia (UE).
Primeiro político com título de "cavaleiro" a assumir o poder em meio século
O trabalhista Keir Starmer tornou-se nesta sexta-feira (5) o primeiro político com o título de ‘’sir” (cavaleiro) a assumir o cargo de primeiro-ministro do Reino Unido desde o conservador Alec Douglas-Home, em 1963.
Outros ex-chefes de governo receberam este título ou o de lorde assim que deixaram o poder, como foi o caso de David Cameron (lorde), Tony Blair (sir) e John Major (sir).
Starmer recebeu o título honorário da falecida rainha Elizabeth II em 2014 por seus "serviços prestados ao direito e à justiça criminal", durante sua atuação como procurador-geral entre 2008 e 2013.
Entre outras atribuições, o líder trabalhista teve um destacado trabalho como promotor em casos envolvendo julgamentos de terroristas e gangues do crime organizado.
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Quem são os indiciados pela Polícia Federal por tentativa de golpe de Estado
Bolsonaro indiciado, a Operação Contragolpe e o debate da anistia; ouça o podcast
Seis problemas jurídicos da operação “Contragolpe”
Deixe sua opinião