O candidato de esquerda radical Raphaël Arnault foi eleito no segundo turno das eleições legislativas deste domingo (7) no primeiro círculo eleitoral de Vaucluse.
Com 54,98 % dos votos, o jovem de 29 anos da Nova Frente Popular (NFP) venceu a candidata do Reagrupamento Nacional (RN), Catherine Jaouen, que obteve 45,02%, segundo os resultados publicados pelo Ministério do Interior.
“Devemos lutar contra a extrema-direita onde quer que ela esteja, mesmo na Assembleia Nacional”, afirmou Arnault na terça-feira (2) durante a sua campanha eleitoral para o segundo turno. No primeiro, o ativista havia perdido com 24,76% contra 34,62% de Jaouen.
Neste domingo, com o novo resultado eleitoral, o eleito antifas fez uma publicação em sua conta do X celebrando a sua vitória: “Amigos… Conseguimos. Nós limpamos a deputada cessante do RN. Demos a ela 55% - 45%. O antifascismo para dentro da Assembleia”.
O anúncio da candidatura desta figura sob a bandeira da NFP causou alvoroço na política interna.
Arnault é cofundador da Jovem Guarda (Jeune Garde, em francês), um movimento antifascista de esquerda radical criado em 2018, em Lyon (Ródano), que está envolvido em vários atos de violência.
Por sua vez, o ativista francês já foi “listado S, três vezes”. O termo refere-se a uma entrada em um registro policial que lista indivíduos potencialmente perigosos para a segurança do Estado.
O início
Criado na cidade do Ródano, um bastião histórico da direita francesa, Arnault comentou ao portal de notícias Les Jours que começou a tomar um posicionamento perante a sociedade e a política quando “no futebol ou no bairro, saía com muitas pessoas não-brancas" e escutava “as loucuras que diziam na TV sobre negros e árabes”, algo que preocupava diretamente seus amigos.
Em 2010, Arnault acompanhou sua mãe nas manifestações contra a reforma das pensões de Nicolas Sarkozy onde o então estudante teria visto pela primeira vez as “saudações nazis“ e escutado ofensas como “m* sujas” ditas aos seus colegas de origem africana.
Por sua vez, a morte do ativista Clément Méric, parte do movimento antifa, em 5 de junho de 2013, após uma briga com um grupo de skinheads nacionalistas, o teriam incentivado a criar, cinco anos depois, junto a outros ativistas, a Jovem Guarda, grupo antifascita do qual se tornaria porta-voz. “Todos os fascistas de Lyon estavam começando a me conhecer, eu já estava esgotado”, comentou Arnault ao StreetPress.
Acusações e ameaças
Com um logotipo composto por três setas apontando para a esquerda em referência aos grupos socialistas franceses de autodefesa da década de 1930, que ilustravam as três lutas contra os reacionários, o nazismo e o stalinismo, a Jovem Guarda virou o centro de várias polêmicas relacionadas à violência.
Segudo revelado pelo Le Canard Chainé, oito membros da Jovem Guarda foram indiciados em 27 de junho, suspeitos de um ataque antissemita em maio no metro de Paris. A família da vítima de 15 anos os acusou de terem batido no adolescente “porque é judeu”. Os ativistas negaram o caráter antissemita dos fatos.
Na mesma época, a Europa 1 revelou a condenação de Arnault por violência em reuniões no tribunal criminal de Lyon, em 2022. Alice Cordier, diretora do Coletivo de Identidade Feminista Némésis, também o denunciou e afirmou tê-lo gravado proferindo ameaças de morte contra ela.
No processo, o coletivo Némésis publicou um áudio datado de 16 de outubro de 2023, durante uma homenagem ao professor Dominique Bernard em Lyon, no qual Arnault ameaça “dar um tiro na cabeça” da diretora do movimento. Na gravação, ele dirige-se à ativista de identidade Mila, falando com ela sobre Cordier.
Recentemente, o candidato eleito foi interrogado pela polícia por defender o terrorismo nas redes sociais, depois de expressar sua “solidariedade” à “resistência palestina” que tinha “lançado uma ofensiva sem precedentes contra o domínio colonial”. A Europa 1 foi também a responsável por divulgar, em 18 de junho, que o ativista antifa foi “listado S, três vezes”, um termo utilizado para listar indivíduos potencialmente perigosos para a segurança do Estado.
“Não posso me defender porque nem sei do que estou sendo acusado", afirmou Arnault. De acordo com um relatório de informação do Senado de 2018, “29.973 pessoas foram sujeitas a uma ficha S”, noticiou o Le Monde.
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