A recontagem dos votos de pouco mais de 13% das urnas eleitorais vai definir o candidato que enfrentará Andrés Arauz, apoiado pelo ex-presidente Rafael Correa, em um segundo turno na eleição presidencial no Equador.
Estão na briga o líder indígena de esquerda Yaku Pérez, que tem 20% dos votos, e o conservador Guillermo Lasso, com 19,5% - uma diferença de cerca de 20 mil votos.
A apuração foi suspensa com 99,26% dos votos apurados e só será retomada depois de reavaliados os boletins. De acordo com o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), as atas apresentaram "inconsistência numérica e de assinaturas" e somam por volta de 1,6 milhão de votos.
A presidente do CNE, Diana Atamaint, disse que "cada candidato tem o direito de esgotar todas as instâncias legais para contestar os resultados". "Se tivermos de abrir as urnas, abrimos", afirmou. "Quando tivermos 100% das atas analisadas, divulgaremos os resultados."
Mesmo na frente, Pérez afirmou que é vítima de fraude. Já Lasso disse que vai esperar o resultado final da apuração. As eleições em que também foram escolhidos 137 membros da Assembleia Nacional, trouxeram de volta a influência de Correa à política equatoriana. O ex-presidente vive na Bélgica - ele foi condenado em um processo por corrupção a oito anos de cadeia e está com a prisão decretada.
"O grande triunfo foi vencer no primeiro turno. Os adversários do ex-presidente apostaram que ele estava politicamente acabado, o que se mostrou não ser verdade", disse o analista Pablo Romero da Universidade Salesiana.
Pérez, que abraçou um discurso ambientalista e de rejeição à exploração do petróleo e mineração, é o grande rival do ex-presidente. "Ele (Correa) tem pânico de irmos para o segundo turno."
Segundo Pérez, "se conspira uma fraude (...) para nos impedir de chegar ao segundo turno". Ele diz, sem apresentar provas, que 15 pontos porcentuais de seus votos foram transferidos para outros candidatos - nenhuma autoridade comprovou as irregularidades apontadas até agora.
Pérez e seus companheiros de partidos começaram uma vigília ainda na noite de domingo em frente a um hotel de Quito onde as autoridades eleitorais estavam contando os votos, prometendo evitar a fraude eleitoral.
Observadores da Organização dos Estados Americanos (OEA) pediram calma durante a apuração e elogiaram o processo. Os EUA também pediram "paciência enquanto as instituições contam os votos".
Possível segundo turno inédito entre candidatos de esquerda
No domingo, os equatorianos foram às urnas numa eleição marcada por filas e demora para a abertura das mesas no interior do país. Como já apontavam as pesquisas de boca-de-urna, o esquerdista Andrés Arauz, apadrinhado do ex-presidente Rafael Correa, garantiu sua vaga no segundo turno - marcado para 11 de abril.
Se Yaku Pérez terminar a contagem na frente, o Equador terá um segundo turno inédito entre candidatos de esquerda. O país, muito afetado pela pandemia, agora vive um novo aumento de casos de Covid e enfrenta uma grande dívida econômica provocada pela queda dos preços do petróleo.
Pérez, que tem 50 anos e é da etnia indígena Kichwa-Kañari, tem uma trajetória de militância em sindicatos indígenas e defende um Estado plurinacional, que reconheça e valorize as distintas etnias que compõem a população do país.
Na política, foi governador da província de Azuay, cuja capital é a cidade histórica de Cuenca, e participou dos protestos indígenas de 2019 contra a política de ajustes do governo do atual presidente, Lenín Moreno - que, com uma aprovação de 7%, sequer tentou a reeleição.
Estudou direito e fez doutorado na Universidade Católica de Cuenca, especializando-se em direito indígena. Em entrevista à Folha, disse que sua candidatura "também é a da juventude, a da ecologia, das bandeiras esquecidas [...] que agora se mostram mais importantes do que nunca, com a ameaça da mudança climática e das pandemias".
Ele já conquistou o feito de ter tido o melhor resultado de todos os tempos para um candidato presidencial indígena e abriu uma disputa que havia sido definida há meses pela cisão ideológica entre defensores do livre mercado e socialistas.
Já Araúz, que completou 36 anos no sábado (6), ainda é pouco conhecido no país por ter morado muito tempo fora. Cursou economia na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos. Depois voltou ao Equador para seu mestrado na Flacso (Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais).
Recentemente, estava realizando seu doutorado na Unam (Universidade Nacional Autônoma do México). E, por conta disso, ele não pode votar nesta eleição, pois seu domicílio eleitoral está no México. Nascido em Quito, é filho de um dirigente de uma companhia petrolífera e de uma agente de turismo.
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