A petroleira espanhola Repsol exigiu ontem que o governo argentino pague US$ 10,5 bilhões (R$ 19,3 bilhões) por suas ações da YPF, que teve sua reestatização anunciada segunda-feira pela presidente Cristina Kirchner.
O presidente da Repsol, Antonio Brufau, acusou o governo Cristina de tentar "esconder a crise social e econômica no país" ao expropriar 51% das ações da YPF. Sugeriu ainda interesse argentino na exploração no campo de petróleo de Vaca Muerta descoberta recente da Repsol.
O valor estabelecido corresponde ao total de 57,43% dos papéis da petroleira nas mãos do grupo espanhol. A Repsol exige o cumprimento do acordo feito durante a privatização, nos anos 90, pelo qual o governo deve lançar uma oferta sobre a totalidade das ações da empresa se quiser o controle de mais de 15% das ações.
Rompimento
Em viagem ao México, país que expressou apoio à Espanha, o premiê Mariano Rajoy falou pela primeira vez sobre o caso, que "rompe com as boas relações entre os países".
Em tom ameaçador, Rajoy disse que a decisão argentina pode prejudicar a América Latina.
"O que aconteceu a uma empresa espanhola pode acontecer amanhã com qualquer outro investimento", declarou.
O chanceler espanhol, José Manuel García-Margallo, afirmou que a Argentina "deu um tiro no próprio pé", enquanto o ministro de Indústria, José Manoel Soria, avisou que estuda embargos também nas áreas energética e industrial.
O vice-ministro de Economia argentino, Axel Kicillof, adiantou ontem que não vai pagar o valor exigido pela Repsol. "Bobo é quem pensa que o Estado deve ser estúpido e cumprir o que diz a empresa", disse, acrescentando que a Repsol tem uma dívida de cerca de US$ 9 bilhões.
Kicillof garantiu que "revisará" todos os números da Repsol na Argentina. Ele e o ministro do Planejamento, Julio De Vido designados por Cristina interventores da YPF foram ao Senado defender o projeto de lei.
Ouviram críticas de oposicionistas, que lembraram que o casal Kirchner apoiou a privatização da YPF nos anos 1990. O Senado, dominado por governistas, porém, deve aprovar o texto em sete dias.
Hoje, o assunto também vai ser debatido pelo Parlamento Europeu, que vota na quinta-feira resolução para proteger de maneira comum interesses de empresas europeias no exterior, proposta pelo conservador Partido Popular Europeu.
A chanceler da União Europeia, Catherine Ashton, avisou que o bloco estuda todas as vias possíveis para uma resposta à decisão de Buenos Aires, que cria um "sinal muito negativo aos investidores internacionais".
A Repsol diz que recorrerá ao tribunal de arbitragem do Banco Mundial e a todas as cortes internacionais a que tenha acesso.