A gigante automobilística Volkswagen anunciou a possibilidade de fechamento de duas fábricas na Alemanha, seu país de origem, uma decisão inédita para uma das maiores montadoras do mundo e atualmente a maior fabricante da Europa, com mais de 80 anos de história.
A avaliação foi feita numa tentativa do grupo de conter a crise financeira provocada pelo avanço da concorrência chinesa na Europa, com o mercado de veículos elétricos em alta, e pelo baixo desempenho econômico pós-pandemia. “Na Europa, dois milhões de veículos a menos são vendidos atualmente do que antes da Covid”, afirmou o diretor financeiro do grupo, Arno Antlitz.
Outra decisão ponderada pela Volkswagen para "proteger seu futuro", segundo uma declaração do presidente-executivo da gigante automobilística, Oliver Blume, publicada nesta semana, é a de rescindir um acordo de proteção ao emprego feito com sindicatos, em vigor desde 1994, o que provocou protestos por milhares de trabalhadores.
Segundo Blume, “a indústria automotiva europeia está em uma situação muito exigente e séria”, especialmente devido aos "novos concorrentes" que estão entrando no mercado europeu, fazendo referência a Pequim e seus carros elétricos.
Essa competitividade crescente no mercado, disse o executivo, tornou a Alemanha pouco atrativa como um local de fabricação, motivo pelo qual a montadora avalia o fechamento de fábricas pela primeira vez na história.
Além de crescer no mercado europeu, a China tem conquistado cada vez mais clientes dentro de seu próprio país, fortalecendo a produção nacional, enquanto empresas estrangeiras antes populares entre os chineses veem uma queda nas vendas dentro do gigante asiático. A chinesa BYD, que produz veículos elétricos e tem alcançado rapidamente o reconhecimento da Tesla, é uma das principais responsáveis por essa concorrência.
A Volkswagen, por exemplo, é uma das grandes empresas do meio automotivo que está perdendo espaço dentro da China, país considerado o seu maior mercado no mundo. No primeiro semestre deste ano ano, as vendas sofreram uma queda de 7% no país asiático em comparação com o mesmo período do ano anterior. O lucro operacional do grupo caiu 11,4% para € 10,1 bilhões (R$ 62,6 bilhões).
O analista financeiro Stephen Reitman explicou ao Wall Street Journal que um dos grandes fatores que contribuíram para a crise da Volkswagen está justamente ligado à produção de elétricos.
Segundo ele, “há fábricas dedicadas a veículos elétricos que não estão produzindo nos níveis esperados e os custos estão descontrolados”. As vendas na Alemanha, onde a montadora é líder de mercado, caíram em um quinto até julho deste ano, em comparação com o mesmo período do ano anterior.
A possibilidade de fechamento de fábricas no país de origem não só atraiu críticas dos trabalhadores, mas do próprio governo, que pediu cautela na decisão.
O ministro da economia e proteção climática da Alemanha, Robert Habeck, se manifestou na última quarta-feira (4), pedindo ao grupo que pondere as medidas a "longo prazo", em coordenação estreita com parceiros sociais”.
Diante das medidas drásticas, Habeck ainda prometeu alívio fiscal e contribuição em um novo plano de crescimento para o grupo Volkswagen.
Outro fator que estimula o plano de fechamento das fábricas são os custos trabalhistas da Alemanha, considerados os mais altos de toda a Europa (um trabalhador automotivo custa cerca de US$ 68,50 por hora - R$ 383), segundo análise da Associação Alemã da Indústria Automotiva.
Na República Tcheca, esse custo cai para US$ 25 por hora (R$ 139,8) e cerca de US$ 32 (R$ 179, aproximadamente) na Espanha. Na Hungria, onde a chinesa BYD está construindo uma fábrica para escapar das tarifas da União Europeia (UE), os trabalhadores automotivos recebem cerca de US$ 18 por hora (R$ 100,6).
A guerra da Ucrânia também influencia nas finanças da Volkswagen devido ao aumento dos custos de energia no território alemão, como consequência da perda de acesso ao gás russo barato proveniente de gasodutos.
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