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Suspeita

Suecos se dizem doentes por influência de radiação de aparelhos elétricos

Na Suécia, um dos países mais modernos do mundo, surgiu um movimento de pessoas que se dizem doentes por causa das radiações de computadores, celulares, carros e até da luz elétrica. Mesmo sem comprovação científica, os chamados "eletrossensíveis" conseguiram reconhecimento, e dinheiro da prefeitura da capital, Estocolmo.

À luz de velas, o som da arcaica máquina de escrever destoa da realidade da Suécia, uma das nações mais modernas do mundo. Mas aqui, centenas de pessoas se dizem obrigadas a viver como no passado, longe de tudo o que significa tecnologia. Eles são os chamados eletrossensíveis.

"É uma doença da modernidade", explicou Ulrica Aberg, especialista em eletrossensibilidade e também portadora da doença. A moléstia se mostra de várias formas: dor de cabeça, coceira, olhos lacrimejantes, tontura, perda de memória.

Na Suécia são quase 2.500 eletrosensíveis, tanto que já existe uma associação deles. A presidente, Birgitta Knape, explica que os suecos, que vivem no extremo norte do planeta, consomem mais energia elétrica pra iluminar as casas, principalmente no longo e rigoroso inverno. Eles também precisam de aquecedores e outros equipamentos. Isso tudo teria tornado a doença mais comum neste país.

Telefones, segundo os eletrossensíveis, são venenos. Aliás, os que realmente precisam de um celular fazem assim: a bateria é instalada somente na hora de falar, e mesmo assim, com fones de ouvido pra ficar o mais longe possível do aparelho.

Em um país gelado como a Suécia, com temperatura média abaixo de dez graus durante o ano, vestir um casaco com capuz é absolutamente normal. Estranho é o uso de uma tela, que é uma mistura de seda com fios de prata que, segundo o fabricante, ajuda a evitar o contato do rosto com a radiação e as microondas emitidas por máquinas e aparelhos de todo o tipo, como celulares e até motores de carros.

Há 18 anos a professora Sylvia Lidndheim não sai de casa sem a proteção sobre toda a cabeça. O carro, com motor a diesel, que segundo ela produz menos ondas eletromagnéticas, não é usado à noite para evitar o acendimento dos faróis. Ela trocou o apartamento na cidade por uma casinha no campo. Não tem computador e nem aquecedor elétrico ela prefere uma lareira. A cama dela é coberta com o mesmo tipo de tela usada pra proteger a cabeça. Parece um mosquiteiro. Com um aparelhinho que mede as ondas eletromagnéticas Silvya mostra que debaixo da proteção ela tem condições de passar a noite mais tranqüila.

A direção da escola providenciou uma sala especial para Silvia: nas janelas, cortinas do mesmo tecido usado sobre a cabeça e a cama. O computador dos alunos fica trancado dentro de uma caixa de chumbo. Silvia não chega a menos de dois metros da tela quando precisa usar a máquina.

O governo sueco ainda espera novos estudos para comprovar se é mesmo doença ou mais uma mania, mas a prefeitura de Estocolmo saiu na frente e já reconheceu os eletrossensíveis como pessoas doentes. Com isso, eles passaram a receber benefícios para tentar se proteger.

Maija-Liisa Holmberg ganhou o equivalente a 50 mil reais do município para reformar o apartamento dela. A senhora, que era professora de química, também conseguiu se aposentar por causa da doença. "Sei que muita gente duvida, acha que é frescura. Pensem o que quiserem. Eu que vivo com alergia e dor de cabeça e mal posso ficar em ambiente iluminado por lâmpadas elétricas, sei como é sofrido. Adoraria que ninguém tivesse que passar por isso, explica Maija-Liisa.

Sem evidências

Aqui no Brasil, o Fantástico ouviu especialistas para saber se a exposição à radiação do dia-a-dia faz mesmo mal à saúde. Veja só o que eles dizem.

Hortêncio Borges, diretor do departamento de Física da PUC-RJ participou de congressos sobre o tema e afirma que até agora as pesquisas não provaram que a exposição prejudique o organismo humano. "Não, não há nenhum estudo que mostre isso. Toda evidência científica acumulada até o momento não aponta para nenhuma evidência nesse sentido, explicou.

O professor de Física da Uerj Alberto Santoro, que colaborou na construção do acelerador de partículas LHC, a mais ambiciosa experiência científica de todos os tempos, diz que a radiação dos aparelhos não é suficiente para causar danos. "Os campos eletromagnéticos emitidos eventualmente por esses aparelhos são muito fracos", disse ele.

E quanto a ficar perto ou longe da radiação, supostamente para se proteger?

"Os campos eletromagnéticos, eles permeiam toda a face da terra, não é? Você transmite, por intermédio de ondas de rádio, que são ondas eletromagnéticas, pra todos os lugares da terra, então eles não estão isolados disso. O fato de sair da cidade pro campo não tem nenhuma diferença nesse sentido", explicou Santoro.

"Uma tela metálica reduz a penetração de campos eletromagnéticos pra dentro. Com certeza reduz. Mas a minha questão é se isso tem alguma coisa a ver com a saúde dela. De repente o efeito psicológico é mais importante", questiona Borges.

"É claro que blindagens de campos existem, mas não a esse ponto. Não dessa forma, com coisa assim tão fraca. Colocar o computador dentro de uma caixa de chumbo, realmente não adianta absolutamente nada", acrescentou Santoro.

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