Nesta segunda-feira (30), foi divulgado nas redes sociais um vídeo de um helicóptero Black Hawk do exército americano que estaria sendo pilotado por um membro do Talibã. O vídeo foi gravado um dia antes de os Estados Unidos terminarem sua retirada do Afeganistão. Não se sabe exatamente quem pilotava o helicóptero, contudo muitos outros vídeos e fotos de talibãs utilizando outros equipamentos militares das forças afegãs foram divulgadas nas redes sociais.
Em um deles, um piloto taxia um helicóptero UH-60 Blackhawk, uma das aeronaves de batalha mais modernas do exército americano. As naves pertenciam ao governo afegão antes da invasão dos talibãs, que agora deixaram para trás a imagem de guerrilheiros com fuzis de assalto AK-47 e camionetes velhas para se tornarem uma das forças militares mais bem equipadas do mundo.
A quantidade exata de material bélico que os talibãs conseguiram com a queda do governo e a retirada dos Estados Unidos ainda é desconhecida, mas é muito, mesmo que o exército americano tenha feito o possível para inutilizar o equipamento que não pôde levar consigo.
A perda de material bélico para o Talibã foi uma das principais críticas a Joe Biden pela forma desastrosa como ocorreu a retirada americana. O ex-presidente americano, Donald Trump, chegou a emitir um comunicado pedindo que o governo americano cobrasse US$ 85 bilhões do Afeganistão, referente ao total investido na compra do arsenal do país. Mas esse número se refere a tudo o que foi empregado desde 2001 até hoje para formação da polícia e do exército afegão. Em equipamento militares estima-se algo em torno de 24 bilhões de dólares.
Esse dinheiro foi utilizado para aquisição, ao longo de 20 anos, de 76 mil veículos – entre eles 43 mil camionetas, 22 mil veículos multifunção de alta mobilidade (chamados HMMWV) e 900 veículos militares táticos leves (chamados MRAP - capazes de resistir a minas e explosivos) –, além disso, 600 mil armas e mais de 200 aeronaves.
Para sorte dos americanos, grande parte desse material foi destruído ou estará inutilizável em breve.
Quanto equipamento o talibã obteve?
De acordo com a Inspeção Geral Especial da Reconstrução do Afeganistão, das 211 aeronaves da Força Aérea Afegã só 167 estavam operáveis, sendo:
- 43 helicópteros MD-530;
- 33 helicópteros UH-60 Black Hawk;
- 32 helicópteros MI-17;
- 33 aviões monomotor C-208;
- 23 aviões de ataque A-29;
- 3 aviões de transporte C-130.
O General Kenneth F. McKenzie Jr., chefe do Comando Central dos Estados Unidos, afirmou que antes da retirada o exército procedeu à “desmilitarização” de 70 MRAPs, 27 HMMWV e 73 aeronaves. "Esses veículos nunca mais voarão. Eles nunca poderão ser operados por ninguém”, garantiu ele.
Suspeita-se ainda que algumas dessas aeronaves conseguiram escapar antes da queda do governo de Cabul. Imagens de satélite obtidas pela BBC mostram duas dúzias de helicópteros e vários aviões de modelos americanos estacionados no aeroporto Termez no Uzbequistão.
Não se sabe, portanto, quantas aeronaves foram capturadas pelo Talibã, e dessas também não se sabe se estão operacionais. Se alguma delas estiver operacional, os talibãs terão de enfrentar uma série de dificuldades práticas como pilotos com treinamento necessário para operá-las e peças para manutenção, cuja falta pode torná-las inoperáveis em poucos meses.
O governo russo também informou que 100 helicópteros fabricados por eles estariam nas mãos dos talibãs, mas os problemas listados acima também tornam incerto quantos desses são operáveis.
Embora a força aérea do Talibã possa ser bastante duvidosa, a quantidade de armas e munições obtidas equiparam seu exército de uma maneira nunca antes sonhada. Desde 2017, o Afeganistão recebeu mais de 23 mil rifles M16 que são muito mais precisos que o AK-47. Cerca de 16 mil equipamentos de visão noturna também estariam em mãos dos talibãs, dando a eles enorme vantagem em combate noturno, que antes não possuíam.
Isso sem levar em conta as centenas de veículos terrestres que não puderam ser evacuados ou inutilizados. Embora, o número real do butim capturado pelo Talibã seja bem menor do que apregoou Donald Trump, é inegável que a força bélica do grupo aumentou consideravelmente.
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