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Assentamento de Kharp, que abriga a colônia penal IK-3, Rússia
Visão geral do assentamento de Kharp, que abriga a colônia penal IK-3, onde o líder da oposição russa Alexei Navalny morreu.| Foto: EFE/EPA/Anatoly Maltsev

Um paramédico de Salekhard, cidade sede do hospital para onde o corpo do opositor russo Alexey Navalny foi levado após sua morte em uma prisão no Ártico, afirmou ao jornal russo Novaya Gazeta que o corpo apresentava sinais de contusões, relatados por pessoas que o receberam. Segundo o paramédico, as contusões, no entanto, não pareciam ser de espancamento, e sim de uma tentativa de contenção por conta de convulsões e de uma possível massagem cardíaca para reanimação.

"Como paramédico experiente, posso dizer que as lesões descritas por aqueles que as viram pareciam ser de convulsões. Se uma pessoa está tendo convulsões e outros tentam contê-la, mas as convulsões são muito fortes, então aparecem contusões. Também disseram que ele tinha uma contusão no peito - do tipo que ocorre com massagem cardíaca indireta."

A conclusão da fonte é de que teria havido uma tentativa de reanimação, sem sucesso. “Ele provavelmente morreu de parada cardíaca", continuou o paramédico. "Mas ninguém está dizendo nada sobre por que ele teve uma parada cardíaca", disse ao jornal.

O paramédico relatou que o corpo deu entrada no hospital com causa de morte caracterizada como “não criminal”, o que indica não ter envolvido arma de fogo. Mas disse haver um contrassenso no fato de Navalny ter sido levado para o hospital em vez do instituto médico-legal, como é praxe em casos envolvendo mortes em unidades prisionais.

"Normalmente, os corpos de pessoas que morrem na prisão são levados diretamente para o Instituto de Medicina Legal, mas, neste caso, foi levado ao hospital clínico por algum motivo", afirmou o paramédico, que atua no serviço de ambulâncias de Salekhard.

A testemunha ainda relata que o corpo foi levado ao necrotério do hospital e dois policiais permaneceram em vigília na porta da sala. Boatos se espalharam de que os patologistas do hospital foram proibidos de realizar uma autópsia, informa o jornal.

"Neste ponto, as opiniões se dividem", disse o paramédico. "Alguns afirmaram que uma ordem veio de Moscou para aguardar a chegada de especialistas da capital, enquanto outros disseram que os próprios médicos do hospital se recusaram a realizar uma autópsia. O caso é político, e não está claro como irá se desenrolar. E se você realizar uma autópsia e receber uma ordem direta para alterar o resultado, você não pode escapar disso. E também pode ser considerado culpado. Mas se não houve autópsia, não há ninguém para perguntar”, declarou a testemunha ao veículo.

Até este sábado (17), nenhuma autópsia havia sido realizada no corpo de Navalny, diz a publicação. Enquanto isso, familiares e correligionários do principal opositor de Putin exigem que o corpo seja entregue à família.

Protestos reprimidos pelo país

Desde que foi anunciada a morte de Alexei Navalny, uma série de protestos e homenagens se espalharam pela Rússia. Os manifestantes, no entanto, têm sofrido forte repressão policial.

Ao menos 401 pessoas foram detidas desde sexta-feira (16) enquanto tentavam homenagear o líder da oposição, segundo dados divulgados neste domingo (18) pela OVD-Info, ONG que protege os direitos humanos dos detidos.

As prisões foram feitas em 36 cidades do país, acrescentou a ONG, que foi declarada agente estrangeiro pelas autoridades russas e publica as listas dos detidos com seus nomes completos.

Mais de metade das detenções (201) foram realizadas em São Petersburgo, cidade natal do presidente russo, Vladimir Putin.

Forças policiais e agentes à paisana tentam retirar memoriais criados por apoiadores de Navalny, tanto em monumentos às vítimas da repressão política quanto em locais improvisados. Segundo canais locais do Telegram, isso teria acontecido inclusive em frente ao Kremlin, na ponte onde o antigo líder da oposição, Boris Nemtsov, foi assassinado em 2015.

Navalny, de 47 anos, morreu repentinamente na sexta-feira (16) em uma remota prisão do Ártico, onde estava desde dezembro do ano passado, segundo os serviços penitenciários russos. Seus correligionários, a oposição, a imprensa russa independente e governos do Ocidente acusam em uníssono o presidente russo Vladimir Putin de ordenar o assassinato de Navalny, o inimigo número um do Kremlin durante 15 anos. (Com Agência EFE)

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