Um time de futebol feminino da Bishop Brady High School, em New Hampshire, boicotou uma partida de uma competição entre adolescentes do Ensino Médio (equivalente ao antigo colegial no Brasil) contra a Kearsarge Regional High School. O motivo foi a presença de Maelle Jacques, um atleta transgênero autorizado a competir com meninas, apesar de uma lei estadual que proíbe a participação de homens biológicos.
"O time feminino de futebol da escola Bishop Brady segue junto defendendo a justiça no esporte! Essas atletas corajosas, de Concord, NH [New Hampshire], boicotaram um jogo com um jogador masculino na equipe adversária, dizendo NÃO à competição injusta. Vamos apoiar a coragem e o compromisso delas em proteger o esporte feminino!", escreveu a unidade da organização Moms for Liberty em New Hampshire, no X. A organização luta contra a ideologia de gênero nas escolas dos EUA.
Jacques, com cerca de 1,83 metros de altura, continua jogando devido a uma decisão judicial que suspendeu temporariamente a "Fairness in Women’s Sports Act", sancionada em julho de 2024 pelo governador republicano Chris Sununu.
A juíza federal Landya McCafferty, nomeada por Barack Obama em 2013, emitiu uma liminar em setembro que permitiu a participação de Jacques e Parker Tirrell, outro atleta transgênero, enquanto o processo judicial ainda está em andamento. A decisão judicial causou controvérsia, visto que ela contraria uma lei estadual que visa proteger a equidade no esporte feminino, proibindo que homens biológicos participem de equipes femininas.
O boicote reflete um embate mais amplo nos EUA, com Donald Trump prometendo proibir a participação de homens biológicos em esportes femininos caso seja eleito novamente. Durante sua campanha, Trump já afirmou que "simplesmente não se pode deixar isso acontecer", referindo-se à crescente presença de atletas trans em competições femininas. Melania Trump, esposa do candidato republicano, também manifestou apoio à exclusão de homens biológicos, mesmo tendo divergências com os republicanos em outros assuntos LGBT.
Em nível federal, a "Protection of Women and Girls In Sports Act" foi aprovada pela Câmara dos Deputados dos EUA em 2023. Esta legislação visa proteger as atletas femininas, definindo o sexo com base exclusivamente na biologia ao nascimento. No entanto, o presidente Joe Biden, do Partido Democrata, prometeu vetar a lei, argumentando que ela discrimina atletas transgêneros. Em estados como Idaho e Nevada, há resistência à inclusão de transgêneros em esportes femininos, com Idaho aprovando a "Defending Women’s Sports Act". Já em Nevada, atletas de vôlei enfrentam pressão para competir contra equipes com jogadoras trans, apesar da resistência das próprias atletas.
Além disso, o Título IX, uma lei federal de 1972, está no centro desse debate. Originalmente criado para proibir discriminação com base no sexo em instituições educacionais que recebem financiamento federal, o Título IX garantiu a igualdade de oportunidades para mulheres em esportes escolares. No entanto, sob a administração Biden-Kamala Harris, houve uma reinterpretação para incluir a identidade de gênero, o que muitos críticos argumentam compromete a justiça nas competições femininas.
No total, 23 estados já aprovaram leis contra a participação de atletas transgêneros em esportes femininos, mas decisões judiciais federais, como a de McCafferty, têm bloqueado essas leis, criando incerteza sobre a aplicação dessas normas. Críticos argumentam que a inclusão de homens biológicos pode prejudicar as conquistas femininas promovidas pelo Título IX ao longo das últimas décadas.
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