A Tunísia elege hoje (26) o primeiro parlamento desde a revolução de 2011, na expectativa de consolidar uma democracia que, embora frágil, é exceção nos países que viveram a chamada Primavera Árabe.
Depois de três semanas de campanha, 5,2 milhões de eleitores são chamados às urnas para eleger 217 deputados numa votação em que o partido islamita Ennahda, vencedor das primeiras eleições livres, em 2011, parte como favorito.
Depois de fortes divergências, os partidos políticos tunisianos cederam à pressão da sociedade civil e aceitaram envolver-se em longas negociações que, em janeiro, permitiram a adoção de uma constituição consensual.
Este contraste com os outros países da Primavera Árabe é destacado pelo Ennahda para justificar a "inevitabilidade" de uma vitória, mesmo tendo sido durante a sua passagem pelo poder que ocorreram os incidentes mais graves da Tunísia pós-revolução, como o ataque à embaixada dos Estados Unidos em 2012 e a crise política provocada pelo assassinato de dois opositores em 2013.
Para muitos analistas, no entanto, é cedo para declarar a Tunísia um modelo, até porque as eleições ocorrem com um atraso de dois anos em relação ao calendário inicial e falta ainda consolidar a democracia, retomar o crescimento e reforçar a classe média, sem recurso ao autoritarismo.
Centenas de candidatos apresentam-se para estas eleições legislativas, representando ex-responsáveis pelo regime deposto de Zine Abidine Ben Ali, partidos seculares, extrema-esquerda e outras formações islamitas.
O panorama político é semelhante ao verificado nas eleições para a Assembleia Constituinte em 2011: um partido islamita, proibido nos tempos da ditadura e que conta com milhares de militantes enfrenta uma oposição muito dividida por questões ideológicas numa eleição por sistema proporcional que retira dos pequenos movimentos a capacidade de eleger deputados.