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Novo ministro da Justiça, número 2 do chavismo intensifica repressão na Venezuela
Diosdado Cabello, o número 2 do chavismo, que neste ano assumiu o Ministério do Interior, Justiça e Paz na Venezuela| Foto: EFE/ Miguel Gutiérrez

A repressão na Venezuela, já marcada por violações de direitos e perseguições sistemáticas, se intensificou com a chegada de Diosdado Cabello, o número 2 do chavismo, ao chamado Ministério do Interior, Justiça e Paz.

Cabello, considerado um “braço direito” do ditador Nicolás Maduro e segundo no comando do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), o partido chavista, assumiu o cargo em agosto deste ano, e consolidou ainda mais o seu poder dentro da ditadura de Caracas, bem como fortaleceu a grande máquina de repressão que opera no país.

Segundo o portal argentino Infobae, a chegada de Diosdado Cabello ao ministério chavista resultou na intensificação imediata da repressão, com a ampliação de uma campanha de extorsão, detenções arbitrárias e perseguição a opositores. Ainda conforme o portal argentino, ao que tudo indica, sob o comando de Cabello, o ministério da Justiça, que controla as forças policiais da Venezuela, institucionalizou as práticas de repressão e provavelmente já as transformou em uma política de Estado.

Desde que assumiu o ministério da Justiça, Cabello, de acordo com reportagem do Infobae, reforçou o controle do regime chavista sobre as forças de segurança, ampliando a perseguição política a diversos setores da sociedade venezuelana. Sob sua gestão, neste curto período de tempo, a repressão deixou de ser focada apenas em líderes políticos da oposição, como María Corina Machado, e passou a atingir também comerciantes, pequenos e grandes empresários e cidadãos comuns que, de alguma forma, expressaram seu descontentamento com o regime de Maduro. O modus operandi, de acordo com o portal argentino, tem seguido um padrão: extorsão, ameaças e acusações forjadas de terrorismo são usadas para intimidar as vítimas, silenciá-las e até mesmo para obter vantagens financeiras.

Relatos obtidos pelo Infobae, vindos de várias partes da Venezuela, indicam que agentes e policiais do regime chavista, muito dos quais agem com o rosto coberto e armados, têm utilizado falsas acusações para tentar extorquir dinheiro de suas vítimas. No estado venezuelano de Apure, por exemplo, mulheres que participaram de uma caravana em apoio ao opositor Edmundo González Urrútia, durante as eleições que foram fraudadas, foram detidas e extorquidas por agentes do Grupo de Combate à Extorsão e Sequestro (GAES) – justamente a força policial que deveria defendê-las deste tipo de crime. Conforme as informações, os agentes chavistas do GAES exigiram grandes quantidades de dinheiro dessas mulheres sob a ameaça de acusá-las de terrorismo e enviá-las para prisões perigosas, onde estão sendo encarcerados todos os civis opositores do chavismo.

“Esses funcionários andam em três carros e vão às casas principalmente de mulheres vulneráveis. As citam para que se apresentem à sede e lá as coagem", denunciou de forma anônima ao Infobae uma moradora de San Juan de Payara, cidade que fica em apure.

Casos semelhantes ocorrem no estado de Carabobo, onde policiais têm prendido comerciantes e pequenos empresários sob falsas acusações de terrorismo. Em um caso relatado pelo Infobae, a polícia local exigiu US$ 500 de um comerciante para não levá-lo à prisão. Outro comerciante, que possuía uma loja de autopeças, foi forçado a pagar US$ 1,2 mil para evitar uma acusação de participar de manifestações contra o regime chavista. A prática de extorsão tem sido cada vez mais comum: as vítimas têm recebido intimações para comparecer em delegacias ou unidades policiais, onde são ameaçadas com processos criminais e exigências financeiras.

"A polícia de Carabobo anda com balaclavas em motos, chegam em locais onde há dirigentes políticos para persegui-los, e fazem o mesmo com comerciantes", relatou uma testemunha.

A nova onda de repressão comandada pelo ministério de Cabello também tem um caráter intimidador, com invasões domiciliares realizadas por forças de segurança à noite, muitas vezes de forma violenta e arbitrária. Na cidade de Biruaca, no estado de Apure, um habitante relatou que policiais armados invadiram sua casa, derrubando a porta sem qualquer justificativa legal. Em San Juan de Payara, uma jovem foi forçada a vender sua vaca para pagar US$ 1,5 mil aos policiais chavistas que a ameaçaram de prisão.

"Da muita raiva ver como extorquem gente inocente", declarou um morador local de forma anônima, indignado com a situação.

Além da extorsão, o regime de Maduro, agora com o suporte direto do ministério Cabello, utiliza a máquina repressiva para silenciar até mesmo pequenos membros da imprensa crítica da ditadura. Em Carabobo, uma emissora de rádio foi alvo de ameaças de fechamento por parte das forças chavistas caso não interrompesse um programa de notícias que relatava acontecimentos contrários aos interesses de Caracas. A estação de rádio foi ordenada a eliminar um programa que apenas lia notícias prontas, informou o Infobae.

Além da repressão interna, a chegada de Cabello ao ministério também tem sacudido o cenário externo, já que sob seu comando, o ministério da Justiça disse ter descoberto uma suposta conspiração internacional para assassinar líderes do regime chavista, incluindo o próprio Cabello e o ditador Maduro. À estatal venezuelana Telesur, Cabello afirmou que “mercenários europeus e americanos” foram contratados para realizar os assassinatos, com apoio de “governos estrangeiros como os Estados Unidos e a Espanha”. Entre os presos na operação, estão quatro cidadãos norte-americanos, dois espanhóis e um da República Tcheca, todos acusados de planejar “ataques cibernéticos” e de “recrutar” mercenários para o complô. No entanto, tanto os governos dos EUA quanto da Espanha negaram qualquer envolvimento no caso, classificando as alegações de Cabello como “categoricamente falsas”.

As acusações e detenções se inserem num contexto de crescente isolamento internacional do regime venezuelano, onde nenhum país democrático reconheceu a vitória manipulada de Maduro nas eleições de julho. Tanto Cabello quanto o ditador chavista já estão sob sanção dos EUA e são procurados por acusações de narcotráfico e terrorismo, mas isso parece não intimidar o regime de Caracas, que segue transformando as forças de segurança locais num braço executor de políticas de controle social e silenciamento de opositores.

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