Distúrbios se espalharam na quinta-feira pelo Oriente Médio e Norte da África, com registros de incidentes violentos na Líbia, no Iêmen e no Barein, onde três pessoas morreram na repressão militar a manifestações contra o governo.
Os protestos no mundo árabe são inspirados pelas recentes revoluções na Tunísia e no Egito. No Bahrein, os manifestantes se queixam de dificuldades econômicas e da suposta discriminação da monarquia sunita contra os xiitas, maioria da população.
Soldados com veículos blindados ocuparam a capital do pequeno país do golfo Pérsico, em meio à pior onda de incidentes nas últimas décadas. Pelo menos três pessoas morreram e 231 ficaram feridas; a oposição diz que há dezenas de presos e cerca de 60 desaparecidos.
"Estão nos matando!", disse um manifestante à Reuters. Outras duas pessoas já haviam morrido em protestos nos dias anteriores.
No Iêmen, quatro manifestantes foram mortos na cidade portuária de Áden (sul), no sétimo dia de protestos. Agora são seis o número de mortos após o início das manifestações no país, um dos mais pobres da região.
Na Líbia, o "Dia de Fúria" convocado por ativistas pela Internet começou com poucos sinais de atividade em Trípoli, onde houve uma manifestação promovida por partidários do líder Muammar Gadaffi, no poder há 42 anos.
Mas um morador de Benghazi, cerca de 1.000 quilômetros a leste da capital, disse à Reuters que ocorreram confrontos na vizinha localidade de Al Bayda, envolvendo seguidores do governo e parentes de dois jovens mortos num protesto na véspera.
Um morador de Benghazi disse que pelo menos cinco pessoas foram mortas em localidades próximas, mas foi impossível confirmar essa informação e estabelecer o número exato de vítimas.
No Iraque, uma pessoa morreu e 33 ficaram feridas quando a polícia abriu fogo contra manifestantes que faziam um protesto contra o governo local em Sulaimaniya (nordeste), segundo testemunhas e fontes médicas.
"Profundas questões sociais e econômicas por todo o Oriente Médio e Norte da África continuarão motivando novos distúrbios", disse o analista de riscos políticos Anthony Skinner, da consultoria Maplecroft. "Os protestos no Barein e na Líbia refletem a facilidade com que os protestos se espalharam na região."
Essas preocupações ajudaram a levar o petróleo do tipo Brent à sua maior cotação em 28 meses, 104 dólares por barril, e também contribuíram para que o ouro mantivesse sua alta das últimas cinco semanas.
No entanto, a ministra britânica da Segurança, Pauline Neville-Jones, disse numa entrevista que as revoltas dos jovens árabes são uma "enorme oportunidade" para a estratégia ocidental de contraterrorismo, por enfraquecer o argumento da al Qaeda de que o Islã e a democracia são incompatíveis.
Ex-ditador em estado grave
A revolta árabe está completando dois meses. Ela começou em 17 de dezembro, quando o jovem tunisiano Mohamed Bouazizi suicidou-se em sacrifício, depois de ser proibido pelas autoridades de vender frutas e verduras na localidade de Sidi Bouzid.
O caso dele inspirou manifestações contra a pobreza, a corrupção e a repressão, que culminaram com a fuga, um mês depois, do ditador Zine al Abidine Ben Ali.
Logo em seguida, os protestos ganharam força no Egito, levando à renúncia do presidente Hosni Mubarak. Em vários países da região grupos de oposição vivem a esperança de um "efeito dominó", semelhante à onda que varreu os regimes comunistas do Leste Europeu em 1989.
Mas muitos governos autoritários da região têm recursos financeiros - graças ao petróleo - para enfrentar as rebeliões, além de controlarem as Forças Armadas. Ben Ali e Mubarak só caíram depois que seus respectivos Exércitos retiraram seu apoio.
Depois de deposto, Ben Ali se refugiou na Arábia Saudita. Uma fonte desse país disse que o tunisiano está hospitalizado em "estado grave".
Contrapondo-se à onda de protestos, vários governos da região têm anunciado concessões, voltadas principalmente para a redução do preço dos alimentos, a criação de empregos e uma maior participação política.
Os Emirados Árabes anunciaram na quinta-feira que triplicarão o número de integrantes de um conselho consultivo, nomeado pelos xeques do país, que funciona como uma espécie de Parlamento.
No caso do Barein - importante centro financeiro regional, além de ser sede da Quinta Frota Naval dos EUA -, o governo tenta reforçar a segurança. O Exército alertou a população a se afastar do centro da cidade, e na praça Pérola havia restos de barracas, cobertores e lixo, depois de os manifestantes serem dispersados. Um intenso cheiro de gás lacrimogêneo pairava no ar, e helicópteros sobrevoavam o local.
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