Londres - Se não condena completamente a ação de Israel em Gaza, Yossi Mekelberg, especialista em relações árabe-israelenses da Chatham House, um prestigiado centro de estudos internacionais baseado em Londres, acredita que o governo de seu país esteja cometendo um erro de cálculo com graves consequências no longo prazo. Segundo o acadêmico israelense, a estratégia adotada por Israel não só poderá provocar o aumento do ressentimento dos palestinos, como também poderá abrir espaço para uma maior penetração da al-Qaeda na região.
O senhor acredita que há uma justificativa para a ação israelense na Faixa de Gaza?
Yossi Mekelberg Israel não só tem o direito de se defender contra agressões, como tem obrigação de proteger seus cidadãos.
O problema é a maneira como está conduzindo isso em Gaza: além dos excessos que põem em dúvida a moralidade do uso da força militar, a operação está criando ainda mais dificuldades para o país a longo prazo por conta do crescimento entre os palestinos do ressentimento e da radicalização, especialmente com os ataques à infraestrutura do Hamas.
Abre-se uma brecha para uma maior atuação de grupos ligados ou inspirados pela al-Qaeda na região?
Certamente, a começar pelo fato de que o enfraquecimento do Hamas criará um vácuo de poder em Gaza que poderá ser explorado pela al-Qaeda. Também é necessário que Israel entenda que atacar o Hamas militarmente não fará o inimigo desaparecer, pois ele representa também um movimento político-religioso. Ainda mais diante da falta de proporção nos ataques. Bombardear escolas não fará favor algum a Israel.
Como é possível sair do impasse?
Nada no Oriente Médio será resolvido sem diplomacia tanto por parte de Israel como de outros países muçulmanos e,especialmente, sem muita iniciativa por parte dos Estados Unidos e da União Europeia.
No momento, falta liderança por todos os lados, algo que também está ligado a questões políticas particulares a eleição parlamentar em Israel é um exemplo. No momento, o que pode ajudar é um início mais engajado de governo por parte do presidente Barack Obama. E, claro, um cessar-fogo o mais rápido possível.
Mas como fica o argumento israelense de que o Hamas tem violado acordos?
O Hamas certamente terá que mudar de atitude se quiser ser considerado um participante legítimo de negociações.
E o primeiro passo para isso é renunciar à destruição de Israel. Nada acontecerá da noite para o dia, mas tampouco adianta Israel querer varrer o Hamas do mapa.
A situação só tende a piorar se a Al-Qaeda puser as mangas de fora nos territórios palestinos.