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Enquanto um certo ar de especulação paira sobre possíveis impactos nas mudanças climáticas da Amazônia, o Brasil se apresenta como vitrine global quanto às práticas sustentáveis no campo e às melhorias assistidas para elevar cada vez mais a qualidade do seu rebanho e agropecuária.
Pesquisa e tecnologia cercam projetos e iniciativas que estão posicionando a agropecuária do Brasil como protagonista do clima. Nesse sentido, muito temos a ensinar ao mundo quando a pauta é preservação ambiental.
Menos de 20% do rebanho brasileiro vive hoje em confinamento, o que já garante um menor número de emissões de carbono; mas não é só. Ao contrário do que se pensa, o Brasil, além de solo e clima tropical favoráveis, se orgulha de criar e utilizar modernos sistemas de produção sustentáveis, engordando o seu rebanho sem a necessidade de avançar por novas áreas de pastagens, muito menos sobre a Amazônia.
Em 2019 eu já dizia, em alto e bom tom, que a Amazônia não estava queimando porque o mundo consumia muita carne, como anunciavam manchetes sensacionalistas da época, que acabaram por influenciar fortemente a opinião pública internacional e motivar organizações ambientais a levantarem falsas bandeiras.
Dados oficiais e confiáveis nos revelam outra realidade, a que poucos querem enxergar. A Amazônia está queimando por política ambiental violada, enquanto o mundo assiste às queimadas criminosas e ignora a destruição da nossa floresta com olhos marejados. A culpa não é do gado, da agropecuária, e muito menos do agropecuarista.
Se pegarmos como exemplo estudos da Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária –, como o sistema de produção sustentável ILPF, que integra a lavoura, a pecuária e a floresta em uma mesma área, e o CCN – Carne Carbono Neutro –, reflorestamento integrado às pastagens para neutralizar o metano entérico exalado pelos animais, demonstramos, na prática, como estão combinados o uso e a conservação da terra para alavancar melhoria acentuada na biodiversidade e nos índices de produtividade. É o que, verdadeiramente, podemos chamar de pecuária ecológica e sustentável desenvolvida no Brasil.
Hoje somos o maior exportador e o segundo maior produtor de carne bovina do mundo, com sistemas de cria, recria e engorda a pasto e taxa de desfrute (quantidade de cabeças abatidas em relação ao rebanho total) de 19%. E esse negócio só está começando. Nossa produtividade média ainda tem muito a evoluir, quando comparada à de outros países também líderes nesse segmento, como Austrália e Estados Unidos, onde mais de 60% da criação de bovinos vem de sistemas integrados de confinamento. Porém, o desfrute por lá gira, respectivamente, em torno de 28% e 32%. É mais metano com menos produtividade arraigada ao negócio.
Estudos sobre o avanço da agropecuária no Brasil mostram que, enquanto a área de pastagens caiu, a produção de carne bovina aumentou. Ou seja, somos hoje um grande provedor de alimentos para o mundo, respaldados pelo apoio inquestionável dos centros de pesquisa, universidades e dos investimentos diretos de empresários envolvidos em toda a sua cadeia produtiva.
Esse expressivo resultado – “menos pasto, com mais produtividade” – foi alcançado graças à melhoria genética do rebanho, além da introdução de inovadoras técnicas de manejo de pastagens, suplementação mineral e orgânica e confinamento de bovinos, em casos isolados, tudo alinhado à preocupação constante com a preservação ambiental. Esse conjunto de boas práticas, além de muitas outras em andamento, propicia novos e contínuos aumentos de produtividade a cada ano, como a notável elevação da engorda de 1,5 para 4 cabeças por hectare, já observada em várias regiões do país.
Com tais ajustes, isolando-se integralmente toda a região amazônica, podemos prever um aumento de mais de 50% na produção de carnes nos próximos dez anos. Um feito de dar inveja às grandes economias do mundo, colocando o Brasil em grande vantagem competitiva e posição privilegiada de celeiro do mundo, com destacado equilíbrio agroambiental.
Sylvio Lazzarini é empresário do setor de serviços – CEO do Grupo Varanda. Foi presidente da Associação Brasileira dos Confinadores de Gado, membro efetivo do CNPC – Conselho Nacional da Pecuária de Corte
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos



